| Foto: Rafael Matsunaga/Rafael Matsunaga/Fotos Públicas

O conteúdo explosivo da delação do empresário Joesley Batista comprometendo o presidente Michel Temer teve efeitos drásticos sobre o mercado de ações e de câmbio. O “circuit breaker”, mecanismo de defesa da Bolsa contra oscilações demasiadamente bruscas, precisou ser acionado nesta quinta-feira (18). Logo no início dos negócios, uma onda de operações de zeragem de posições levou o Índice Bovespa a cair até 10,70%, levando à interrupção das operações por 30 minutos.

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Com o fim das correções de emergência, a queda se desacelerou e o Ibovespa terminou o dia aos 61.597,05 pontos, em queda de 5.943,20 pontos. O resultado representou perda porcentual de 8,80%, a maior em um único dia desde 22 de outubro de 2008, última vez em que o circuit breaker havia sido acionado. O volume de negócios somou R$ 24,8 bilhões, o triplo da média diária de maio.

O Ibovespa recuou de uma queda de 9% para em torno de 7% com a intensificação das especulações que davam como certa a renúncia do presidente após a denúncia de apoio à compra do sigilo do ex-deputado Eduardo Cunha. Em um discurso iniciado pouco depois das 16h, o presidente adotou um tom de indignação ao combater as acusações. Disse que não renunciaria, que não comprou o silêncio de ninguém e que não precisa de foro privilegiado. Ainda qualificou os áudios da delação como “clandestinas”. Encerrado o depoimento, o índice voltou a acelerar as perdas.

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“O grande problema é que não temos ideia do que vai acontecer daqui em diante. É um problema sério, que pode causar uma brutal destruição de valor das companhias brasileiras”, disse Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.

As quedas foram generalizadas na Bolsa, só poupando ações de empresas exportadoras. As ações de empresas estatais, que refletem em grande parte o risco político, se destacaram em queda. Banco do Brasil ON caiu 19,91%, enquanto Eletrobras ON perdeu 20,97%. As ações da Petrobras perderam 11,37% (ON) e 15,76% (PN). Com o resultado de hoje, o Ibovespa anulou todos os ganhos de maio e passa a contabilizar perda de 5,82% em maio e uma alta de 2,27% em 2017.

Dólar valoriza 8%

O dólar marcou nesta quinta-feira a terceira maior alta da história ante o real, perdendo apenas para os dois episódios registrados durante a maxidesvalorização vista em janeiro de 1999, quando o Brasil abandonou o regime de bandas cambiais.

O dólar à vista no balcão subiu 8,07%, fechando a R$ 3,3868, o maior nível desde 16 de dezembro do ano passado. A alta porcentual só perde para 15 de janeiro (+11,10%) e 13 de janeiro (+8,91%) de 1999. O giro registrado pela clearing de câmbio da B3 foi de US$ 2,056 bilhões, bastante forte para a média recente. O dólar futuro para junho avançava 7,42% por volta das 17h15, a R$ 3,3805. O volume de negócios era de US$ 30,195 bilhões.

O mercado de câmbio já abriu estressado e o dólar futuro entrou em leilão diversas vezes durante o pregão. No meio da tarde, quando surgiram rumores de que Temer poderia renunciar, a moeda norte-americana bateu mínimas, mas ainda assim com valorização de quase 6%. Pouco depois, o presidente veio a público, se defendeu das acusações e disse veementemente que não vai deixar o cargo por livre e espontânea vontade.

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Nas cinco operações cambiais realizadas pelo Banco Central nesta quinta, a instituição negociou com o mercado um total de 88.000 contratos de swap (US$ 4,400 bilhões). Foram quatro leilões extraordinários, além da rolagem dos contratos que vencem em junho, que já estava prevista. No fim da tarde, o presidente da autoridade, Ilan Goldfajn, comentou que tem usado os instrumentos disponíveis e trabalhado para atravessar esse período. Mais cedo, fontes da equipe econômica haviam afirmado que a primeira linha de defesa é mesmo o swap e, depois, leilões de linha. A mesma fonte comentou que seria “legítimo” usar as reservas internacionais, a exemplo do que aconteceu em 2008, com a crise financeira internacional.