O escândalo que atingiu o presidente Michel Temer nesta quarta-feira (17), com informações de que ele deu aval para comprar silêncio de Eduardo Cunha, pode inviabilizar as reformas econômicas que estão em curso ou, na melhor das hipóteses, pelo menos atrasá-las. E o mercado financeiro terá um dia dos mais tensos.
A possibilidade real da queda de Temer cria instabilidade no Congresso e no mercado financeiro, e interrompe a votação de qualquer reforma. Os investimentos previstos para o país – como os que fazem parte do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) – também podem se tornar inviáveis aos olhos dos investidores, devido ao fator incerteza.
Questionado na noite de quarta-feira sobre a possibilidade de o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se pronunciar em defesa das reformas, o Ministério da Fazenda afirmou que não iria fazer comentários.
Antes mesmo da divulgação do suposto aval de Temer ao pagamento de mesada para Cunha, a aprovação das reformas já era um processo complexo. Agora, mesmo que a permanência do presidente no cargo seja garantida, as reformas serão penalizadas. “Vai atrapalhar a reforma. O poder de barganha do presidente acaba”, avalia Alexandre Cabral, professor da LabFin/FIA Business School.
Cabral diz que o mercado financeiro estava acreditando na aprovação das reformas trabalhista e da Previdência, apesar da baixa aprovação do presidente pela população. Porém, esse cenário deve mudar a partir de agora, na opinião do professor.
A quinta-feira deve ser de alta volatilidade nos mercados, com os investidores reavaliando suas carteiras. Nos mercados internacionais é esperado o mesmo. As mesas de operação devem ver uma escalada do dólar, segundo analistas.
Em conversas trocadas na noite de quarta, analistas e gestores de investimentos chegaram a dizer que acreditam que a BM&F Bovespa possa ter de interromper suas operações durante o dia nesta quinta-feira (18), por alguns minutos, ou mesmo atrasar a abertura das operações, caso a volatilidade nos ativos esteja muito alta.
Na quarta, as ações de companhias brasileiras despencaram nas negociações “pós-mercado” (“after market”) da Bolsa de Nova York, o que sugere perdas fortes nesta quinta na Bolsa brasileira.
“Hoje [quarta-feira] no final da tarde já vimos uma alta de 1% no dólar sem motivo aparente. Talvez a notícia já estivesse correndo no mercado”, disse Cabral, que acredita que se o câmbio estiver muito volátil, o Banco Central pode precisar atuar, fazendo operações com dólar no mercado futuro para reduzir a expectativa de alta da moeda americana.
Para o investidor pessoa física, Cabral sugere calma. “O investidor deve ficar olhando o mercado, precisa ter sangue frio”, disse o professor.
Investimentos comprometidos
Além da dificuldade em aprovar as reformas, os cenários possíveis com o estremecimento de Temer também apontam dificuldade em realizar investimentos, como os que estão previstos no Programa de Parcerias em Investimentos (PPI). Temas impopulares, como a venda das distribuidoras de energia elétrica, que deve acarretar na demissão de centenas de funcionários, dificilmente serão apoiadas pelos políticos.
Do lado do investidor, o início de um novo período nebuloso na economia do país, com reflexos no câmbio e juros, podem significar a opção por levar seu capital para outros países. No caso dos investimentos do petróleo, estão previstas três rodadas este ano, inclusive no pré-sal. Condições adversas na economia podem empurrar as empresas que trariam seus investimentos ao país a buscarem terrenos menos incertos.
Ajuste dos estados
Para o ajuste fiscal dos estados a instabilidade política também trará reflexos. O pacote de renegociação das dívidas dos estados, aprovado na noite de quarta-feira, depende da privatização das companhias de saneamento e energia dos estados. Com riscos maiores à economia, o capital interessado pode debandar.
Por outro lado, o aniversário de um ano de governo Temer já trouxe bons resultados em alguns segmentos, como para as empresas estatais Petrobras e Eletrobras. Para o setor de petróleo, foram aprovadas mudanças no conteúdo local, que favorecem as petroleiras, mas foram alvo de grita do lado dos sindicatos e opositores de Temer. Questionado sobre possibilidade de passar medidas como essa a partir de agora, um executivo ligado a uma petroleira comentou: “O que passou, passou”.
Entre políticos e sindicalistas contrários às reformas da Previdência e das leis trabalhistas, houve comemoração após a notícia de que Temer caiu na gravação da JBS.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) chamou seus seguidores no microblog para protestar, pedindo o fim das reformas. “É preciso ocupar as ruas para derrubar esse governo e barrar as reformas perversas”, disse. A ex-ministra e atual deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) chamou eleições diretas no Twitter. “Renuncia Temer. Caiu a Casa. Eleições diretas e gerais Já. Reformas não passarão”.
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