O presidente Jair Bolsonaro teve um carnaval movimentado nas redes sociais.
Defendeu o filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro. Anunciou a criação de uma “Lava Jato da Educação”. Pediu “fiscalização” sobre o andamento no Congresso da medida provisória 873, que determina pagamento de contribuição sindical apenas por boleto bancário. Anunciou leilão de ferrovia. Criticou a Lei Rouanet e artistas que o acusaram de tentar acabar com o carnaval. Elogiou a atuação do Exército no conforto de venezuelanos que fugiram do regime ditatorial de Nicolás Maduro. Fez propaganda de Olavo de Carvalho, tido como “guru” de seu governo.
O que mais chamou atenção, no entanto, foi a publicação de um vídeo na tarde de terça-feira (5), com o propósito de criticar práticas obscenas de foliões no carnaval. O material foi gravado no dia anterior em um bloco chamado “Blocu”, no centro de São Paulo. A cena já repercutia nas redes sociais, mas ganhou alcance muito maior após ser compartilhada pelo presidente.
No tuíte, Bolsonaro afirma que não se sente confortável em exibir o vídeo, mas que decidiu mostrá-lo “para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades”. As imagens mostram dois homens – um deles, nu – dançando sobre um ponto de ônibus. Na sequência, os dois protagonizam atos obscenos. No post, o presidente, que tem 3,45 milhões de seguidores no Twitter, pede que seus seguidores “comentem e tirem suas conclusões”.
O aviso de que a postagem poderia conter “mídia sensível” apareceu apenas duas horas após a publicação do vídeo. No tuíte incorporado abaixo, a Gazeta do Povo optou por excluir o vídeo obsceno.
Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. à isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões: pic.twitter.com/u0qbPu9sie
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de março de 2019
Na manhã desta quarta-feira (6), o presidente voltou ao assunto. Perguntou o que é “golden shower”, prática que virou uma das expressão mais comentadas no Twitter depois que Bolsonaro compartilhou o vídeo em questão.
O carnaval de Bolsonaro nas redes sociais começou no domingo (3), com uma postagem elogiando seu filho Carlos e criticando quem supostamente tenta afastá-los.
Bom inÃcio de semana a todos! ð§ð·ðð» Com @CarlosBolsonaro pic.twitter.com/vxa4CAKKjm
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 3 de março de 2019
Na segunda (4), o presidente falou sobre a MP 873, que deve dificultar a arrecadação dos sindicatos. Afirmou que ela não agradou a líderes sindicais e alertou sobre o risco de que ela seja derrotada no Congresso ou nem mesmo apreciada no prazo legal (120 dias), o que a faria perder validade.
Assinamos a MP 873 que tem prazo de 120 dias para ser apreciada pelo Congresso ou perde validade, criando o pagamento de contribuição sindical somente mediante boleto bancário individual do trabalhador, o que não agradou a lÃderes sindicais.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 4 de março de 2019
Pouco depois, Bolsonaro anunciou a criação de uma “Lava Jato da Educação” para investigar “indícios muito fortes que a máquina está sendo usada para manutenção de algo que não interessa ao Brasil”. O presidente afirmou que o país gasta mais em educação do que países desenvolvidos e que mesmo assim ocupa as últimas posições em testes de aprendizado.
Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB que a média de paÃses desenvolvidos. Em 2003 o MEC gastava cerca de R$30bi em Educação e em 2016, gastando 4 vezes mais, chegando a cerca de R$130 bi, ocupa as últimas posições no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA)
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 4 de março de 2019
Horas mais tarde, mencionando o que chamou de “agenda globalista”, Bolsonaro acrescentou que “mudar as diretrizes ‘educacionais’ implementadas ao longo de décadas é uma de nossas metas para impedir o avanço da fábrica de militantes políticos para formarmos cidadãos”.
A agenda globalista mira a divisão de classes. Pessoas divididas e sem valores são facilmente manipuladas. Mudar as diretrizes âeducacionaisâ implementadas ao longo de décadas é uma de nossas metas para impedir o avanço da fábrica de militantes polÃticos para formarmos cidadãos.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 4 de março de 2019
O presidente também mencionou o leilão de concessão de um trecho da Ferrovia Norte-Sul, colocando-o como parte das ações dos primeiros 100 dias de seu governo.
Leilão da Ferrovia Norte-Sul: a empresa vencedora prestará serviço ferroviário em trecho que tem 1.537 km, de SP a TO. Valor mÃnimo do leilão será de R$1,353 bi, com investimentos previstos de R$2,8 bi. O acontecimento é parte das ações dos primeiros 100 dias do governo federal.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 4 de março de 2019
Logo nas primeiras horas de terça-feira (5), Bolsonaro respondeu – sem citar nomes – à música “Proibindo o carnaval”, de Daniela Mercury e Caetano Veloso, que faz referências ao avanço da onda conservadora no país. “A verdade é que esse tipo de ‘artista’ não mais se locupletará da Lei Rouanet”, escreveu o presidente ao compartilhar uma marchinha que critica os artistas. “Essa marchinha vai para o nosso querido Caetano Veloso e querida Daniela Mercury. Chupa”, diz o intérprete no início do vídeo.
Dois âfamososâ acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de "artista" não mais se locupletará da Lei Rouanet. ASSISTA: pic.twitter.com/37XQEvyBWt
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de março de 2019
O presidente também anunciou que em seu governo a Lei Rouanet – antes usada, segundo ele, para cooptar artistas famosos num projeto de poder – vai ajudar artistas em início de carreira.
A Lei Rouanet foi usada para cooptar parte dos artistas âfamososâ num projeto de Poder. Em meu Governo, sua utilidade será para artistas em inÃcio de carreira. Quanto a possibilidade de receber ârenomadosâ que já se beneficiaram da referida, para discuti-la, não passa de piada.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 6 de março de 2019
Também na terça, Bolsonaro repassou postagem do juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro. Em seu texto, Bretas afirma que em determinadas circunstâncias “a polícia deve usar a força e eventualmente até mesmo matar”. O presidente, por sua vez, afirmou que o Congresso precisa urgentemente apreciar matérias que permitem que agentes de segurança pública “usem da letalidade” para defender a população.
Palavras minhas: é urgente que o Congresso aprecie matérias para que os agentes de segurança pública ou não, usem da letalidade para defender a população, caso precisem e estejam amparados por lei para que possamos resgatar a paz diante do terror que vivemos em todo Brasil. pic.twitter.com/nkljddPVgM
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de março de 2019
Em uma de suas últimas postagens no feriadão de carnaval, o presidente afirmou que o autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho vem explicando há anos um fenômeno e que seus alunos vêm deixando um legado. “O Brasil tem jeito”, concluiu Bolsonaro.
Enquanto acharem que somente escolas educam e que outros fatores puramente sozinhos é que farão o paÃs crescer, o Brasil não evoluirá como gostarÃamos. @opropriolavo vem explicando este fenômeno há anos e seus alunos vem deixando um legado. O Brasil tem jeito.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de março de 2019
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