Enquanto a população come o pão que o diabo amassou, nas palavras do presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, os políticos que deveriam estar quebrando a cabeça em busca de um acordo para pôr fim à greve que já dura cinco dias só acumulam trapalhadas. A greve dos caminhoneiros causa transtornos para toda a população, como falta de combustível e de alimentos nos supermercados, mas a turma em Brasília não parece exatamente empenhada em arranjar uma solução para o problema.
Para tentar recuperar a autoridade, o presidente Michel Temer (PMDB) autorizou nesta sexta-feira (25) o uso de forças federais para desbloquear as estradas. A medida adotada por Temer tenta colocar fim à greve, depois que o próprio governo anunciou que haveria uma trégua na paralisação na noite de quinta-feira (24) – ele só esqueceu de combinar com os grevistas. Veja os cinco fatos mais inacreditáveis que aconteceram durante a greve:
1) As contas de Rodrigo Maia
Tudo começou a dar errado quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiu o protagonismo na busca por uma solução para a crise causada pela greve. Ele articulou a aprovação do projeto que aprova a reoneração da folha de pagamento com uma emenda que zera o PIS-Cofins que incide sobre o óleo diesel. Pelas contas de Maia, zerar o imposto acarretaria em um prejuízo de R$ 3 bilhões para o governo, mas essa perda seria compensada pela arrecadação de R$ 3 bilhões com a reoneração da folha.
A matemática do deputado, porém, estava errada. O próprio Maia admitiu que o prejuízo será de pelo menos R$ 6 bilhões a mais do que o previsto inicialmente por ele. Mas minimizou a situação, dizendo que o governo tem capacidade e arrecadação suficientes para diminuir a alíquota e, assim, contribuir para a redução do preço do combustível. O ministro da Articulação do Governo, Carlos Marun, disse que, do jeito que foi aprovado, o projeto não tem como seguir adiante.
2) Bate e volta de Eunício Oliveira
Enquanto os caminhoneiros continuavam parados e afirmando que só dariam fim à greve quando o projeto aprovado por Rodrigo Maia na Câmara fosse aprovado pelos senadores e publicado no Diário Oficial da União, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), resolveu voltar para casa, no Ceará, na quinta-feira (24). Ele disse que tinha compromissos importantes no estado e que não havia sido comunicado da aprovação do projeto na Câmara.
A decisão de Eunício inflamou ainda mais os caminhoneiros. “Nas entrevistas, apareceram os presidentes da Câmara e do Senado bonitinhos em frente às câmeras para dizer que ‘vamos resolver isso’. Agora, um agiu (para aprovar) e outro já tá na casa dele tomando uisquinho com água de coco, não é por aí. E a gente aqui comendo o pão que o diabo amassou”, disse Lopes, o líder dos grevistas. “Se for isso aí, a coisa não vai ficar boa”, completou.
Pressionado pela opinião pública, o presidente do Senado, então, resolveu voltar para Brasília. Mas o gesto pouco adiantou – a maioria dos senadores também havia ido embora.
3) Entrega de carros
O presidente Michel Temer (PMDB), no meio da crise, deixou a mesa de negociação nas mãos do ministro Eliseu Padilha e viajou para o Rio de Janeiro na quinta-feira (24). Em um momento em que já começava a faltar combustível nos postos de todo o país, o presidente da República entregava veículos ao Ministério dos Direitos Humanos e à Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente na cidade de Porto Real.
Para comparecer à solenidade, o presidente voou por volta das 14 horas de Brasília ao Rio de Janeiro, onde pegou um helicóptero até a fábrica da Citröen em Porto Real, município próximo à Resende, cerca de 150 quilômetros da capital. No discurso na fábrica, ele cravou: “devo registrar que o fato mais importante do dia de hoje foi estar aqui com as senhoras e com os senhores”.
4) A greve acabou
Depois de sete horas de negociação com as entidades que representam os caminhoneiros, o governo anunciou na noite de quinta-feira (24) que havia chegado a um acordo com a categoria para suspender a greve por 15 dias. O fato de já ser sexta-feira (25) e os caminhoneiros continuarem parados, por si só, já é um indicativo de que algo deu errado. Os motoristas disseram que não acabarão com a greve e que as entidades que assinaram o acordo não os representam. Ficou feio para o governo.
5) Cunhada sem noção
A família de Michel Temer não parece estar muito empenhada para ajudar a melhorar a imagem do presidente. A cunhada de Temer, Fernanda Tedeschi, irmã da primeira-dama Marcela Temer, publicou nas redes sociais, nesta sexta (25), um vídeo que mostra um marcador de combustível de carro com o tanque cheio. A imagem aparece acompanhada da mensagem: “Ostentação”. Enquanto isso, o grosso dos brasileiros peregrina pelos postos do país em busca de combustível, que sumiu das bombas com a paralisação e a demanda maior.
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