A soltura do ex-ministro José Dirceu na última quarta-feira (3), quando manifestantes a favor e contra o petista se enfrentaram em Curitiba, foi uma pequena demonstração daquilo que tende a ocorrer na semana que vem – uma espécie de trailer para o próximo capítulo desta novela que já se arrasta por tanto tempo. O juiz Sérgio Moro e Lula vão finalmente ficar cara a cara durante o depoimento do ex-presidente, agendado para o próximo dia 10. E o clima de tensão em torno desse embate já começa a ser sentido na cidade.
A confusão em frente do prédio da Justiça Federal na soltura de Dirceu foi apenas uma amostra de quanto os ânimos devem seguir “animados” na “República de Curitiba” nos próximos dias. Grupos de apoio e de oposição ao ex-ministro trocaram ofensas, empurrões e a Polícia Militar teve de intervir em alguns momentos para que a situação não se agravasse. Mesmo assim, alguns manifestantes não se intimidaram com a presença dos policiais e arremessaram ovos contra seus adversários.
O clima de hostilidade era tão alto que sobrou até mesmo para a imprensa. Confundido com dos apoiadores do ex-ministro, o repórter da Gazeta do Povo que cobria o assunto foi ameaçado por apoiadores da Lava Jato e teve de mostrar suas publicações nas redes sociais para conseguir conversar com alguém. “Isso é só uma prévia da semana que vem”, revelou um dos manifestantes, que não quis se identificar, enquanto olhava as postagens no Facebook.
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Grupos já se organizam
Segundo esse manifestante que apoia a Lava Jato, o movimento no entorno da Justiça Federal já vem se intensificando e é composto não apenas por moradores da cidade. Pessoas de outros estados começam a chegar em caravanas para acompanhar o depoimento de Lula na próxima quarta-feira. “Um pessoal de São Paulo já está na cidade. Eles tinham passagem [para a data original do encontro entre Lula e Moro, na última quarta-feira, dia 3] e vão ficar por aqui”, conta. Esse grupo, segundo o manifestante, tinha ido para Pinhais acompanhar a saída de Dirceu do Complexo Médico Penal (CMP), onde também foram registrados focos de confusão.
Do lado da esquerda, a situação não é diferente. Nos cartazes de apoio ao ex-ministro, comitês do Rio de Janeiro marcavam presença em terras paranaenses e os gritos misturavam sotaques de outras regiões. E, para a visita de Lula, a aglomeração deve ser maior. Só a Executiva do PT espera reunir pelo menos 30 mil pessoas em Curitiba para acompanhar o ex-presidente.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que a previsão é que cerca de 300 ônibus devem chegar a Curitiba para o depoimento de Lula. Levando em conta que cada veículo transporta cerca de 40 pessoas, é possível estimar que pelo menos 12 mil manifestantes vindos de outras cidades estarão na capital paranaense para acompanhar Lula ou protestar contra ele. Isso sem contar os próprios curitibanos, que devem engrossar os diferentes coros.
Verde e amarelo
O líder do Movimento Brasil Livre (MBL) no Paraná, Éder Borges, revela que várias ações estão sendo organizadas para o dia 10. O MBL apoia a Lava Jato. “Alguns grupos já devem se reunir em frente à Justiça Federal no dia 9. Além disso, queremos pintar a cidade de verde e amarelo, com casas e estabelecimentos mostrando a bandeira do país em apoio à Lava Jato”, conta.
Além disso, o grupo confirmou ainda a presença de algumas de suas lideranças nacionais, como Arthur Moledo Do Val, dono do canal de YouTube “Mamãe, Falei”. Já Kim Kataguiri, um dos rostos do MBL, descartou uma visita ao Paraná. Movimentos como o Vem Pra Rua disseram não estar organizando nenhum ato. “É um dia de Justiça, não de manifestação”, disse o grupo por meio de sua assessoria de imprensa.
Jornada pela democracia
Para defender Lula, a Frente Brasil Popular já confirmou alguns atos em Curitiba. Como explica a coordenadora regional do grupo, Regina Cruz, as atividades também começarão no dia 9 e incluem ações culturais e protestos e diferentes grupos que compõem a frente, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que montará acampamento na cidade.
Segundo ela, a expectativa é que 50 mil pessoas venham em defesa do petista, muitos deles em caravanas. “São cerca de 500 ônibus vindos de todo o país. Tem também muita gente vindo de carro ou avião, de forma independente, e estamos preparando uma equipe responsável apenas para recebê-los”, diz.
Ainda assim, mesmo com a grande quantidade de pessoas, Regina diz que a intenção não é fazer nenhum tipo de manifestação em frente ao prédio da Justiça Federal. “As ações devem se resumir em torno do acampamento do MST, a praça Santos Andrade e a Boca Maldita apenas”, diz. “Não queremos o confronto. É uma jornada pela democracia”. Um ato político será realizado na quarta-feira, às 18h, na Boca Maldita, no Centro. Até o momento, o ex-presidente Lula não confirmou presença.
Esquema de segurança
Diante da possibilidade de embates, como os que aconteceram na soltura de José Dirceu, a Sesp está preparando um esquema reforçado de segurança para garantir que o encontro entre Lula e Sérgio Moro aconteça sem grandes incidentes. Para isso, uma ação conjunta entre as polícias Militar, Federal e Rodoviária será realizada para promover o isolamento da região onde fica o prédio da Justiça Federal, no bairro do Ahú, e o acompanhamento das caravanas.
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De acordo com o secretário da Segurança do Paraná, Wagner Mesquita, o isolamento deve envolver um perímetro de 150 metros ao redor do prédio onde o depoimento deve ser feito e apenas moradores e jornalistas poderão entrar nessa área. Nenhum veículo será permitido. Além disso, Mesquita afirma que as caravanas podem ser averiguadas caso haja a suspeita de trazerem objetos que não condizem com o que se espera de uma manifestação pacífica.
A orientação da Sesp é de que os grupos fiquem em locais separados: os de apoio a Lula na Boca Maldita e os contrários no Centro Cívico.
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