Eles estiveram unidos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e contra a corrupção. Arregimentarem multidões pela causa. Após a petista ser tirada da Presidência, continuaram ativos nas redes sociais, mas já sem conseguir tomar as ruas da mesma maneira. E adotaram pautas distintas, ainda que às vezes convergentes.
Agora, os três grupos que participaram da organização e convocação dos protestos contra Dilma – Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online – voltam a ter novamente algo em comum: direta ou indiretamente, vão participar das eleições de 2018. Querem mudar a política por dentro.
MBL e Revoltados estudam lançar candidaturas próprias. Vão enfrentar críticas de que se “misturaram” com os políticos que criticavam. E o Vem Pra Rua pretende incentivar o lançamento de novos nomes que defendam uma agenda pelo bem do país.
Direto ao ponto
- Saiba quais são as pautas do Vem Pra Rua
O MBL
“Lideranças do MBL em todo o país disputarão eleições. Nem todos os nomes estão definidos”, diz Kim Kataguiri, coordenador nacional do movimento. Ele próprio, porém, já decidiu: irá concorrer a deputado federal.
O partido (ou partidos) pelo qual os integrantes do MBL vão se lançar ainda não está definido. Mas a plataforma eleitoral já tem suas linhas gerais. “Vamos disputar a eleição para fazer política como ela deve ser feita: com valores, com ideais. Queremos acabar com privilégios, cortar gastos, diminuir impostos, combater o discurso de que o bandido é vítima da sociedade, endurecer a lei penal, lutar pela privatização de empresas estatais e por reformas estruturantes e essenciais ao país, como a da Previdência”, afirma Kataguiri.
Segundo ele, o que o governo Temer propõe não resolve os problemas do país. Kataguiri, aliás, afirma serem mentirosas as críticas de que o MBL “aliviou” com os políticos após o impeachment. “Batemos muito no PSDB e no PMDB e em figuras como o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves devido aos escândalos que foram revelados envolvendo seus nomes.”
O líder do MBL também afirma que o movimento quer que o prefeito de São Paulo, João Doria, dispute a Presidência. “Se acontecer, o apoiaremos. Ele possui capacidade comprovada de gerir o país, tem coragem de defender valores liberais e de combater a quadrilha que tomou conta do nosso país durante os 13 anos de governos petistas.” Kataguiri diz ainda que, mesmo que Doria não seja candidato, o MBL fará “uma campanha pesada contra o candidato das esquerdas, seja ele Lula, seja Ciro [Gomes], seja Marina Silva”.
Kataguiri justifica a intenção do movimento de disputar eleições: “Mudanças estruturais só acontecem por meio de instituições. Se a maioria silenciosa do Brasil, que é trabalhadora e honesta, não tiver representantes em Brasília, as coisas continuarão as mesmas”.
Ele ainda afirma que o MBL “por enquanto” não cogita virar um partido. “O processo de abertura de um partido político é burocrático e caro. Precisamos de uma mudança efetiva no Congresso imediatamente, não podemos ficar esperando durante anos.”
Apesar disso, o MBL tem um conjunto de 84 propostas para o país que se assemelha a um programa partidário, pois engloba áreas como saúde, educação, transporte e urbanismo, Justiça, economia, reforma política e sustentabilidade ambiental.
O líder do movimento acredita que a pauta extensa não tira o foco do MBL. “Ter uma plataforma não tira nosso foco, pelo contrário: deixa bem claro a que viemos. Não defendemos várias causas ao mesmo tempo, defendemos apenas uma causa: um país mais livre. Todas as nossas propostas, como a redução de impostos, o fim dos privilégios e a igualdade perante a lei derivam dessa causa.”
Por ora, os principais focos de atuação do MBL, segundo Kataguiri, são o fim dos privilégios da elite do funcionalismo público; cobrança de mensalidades nas universidades federais (o que permitiria o aumento dos investimentos em educação básica).
Vem Pra Rua
O movimento Vem Pra Rua pretende manter uma “distância segura” de partidos em 2018, para não ter vinculação com uma sigla em específico. Mas, ainda assim, quer ter uma participação eleitoral indireta no ano que vem.
Empresário e líder do movimento, Rogerio Chequer afirma que uma das pautas prioritárias do Vem Pra Rua é organizar, junto com outras entidades da sociedade civil, uma frente de instituições que identifique e incentive o lançamento de nomes novos nas eleições de 2018, que se identifiquem com uma agenda comum pelo país. A pauta ainda não está definida. Mas possivelmente vai girar em torno de diretrizes gerais do movimento: um Estado mais eficiente, um sistema político mais representativo e o combate à corrupção.
Segundo Chequer, integrantes do Vem Pra Rua eventualmente até poderão se candidatar. Mas terão de se desligar do movimento. Ele afirma que a ideia é que os concorrentes se filiem a vários partidos – o que vai garantir que a frente de instituições não tenha vínculo com nenhuma sigla.
As outras duas pautas prioritárias do Vem Pra Rua também envolvem eleições. O movimento vai elaborar uma “lista negativa” de políticos que a entidade entende que não pode ser reeleitos. E irá divulgá-la. Além disso, o movimento está se mobilizando para impedir a aprovação de uma reforma política que estabeleça regras que facilitem a reeleição de quem está no poder. Também são contra a ampliação do Fundo Partidário.
O Vem Pra Rua também agendou e está convocando manifestações de rua para o dia 27.
Revoltados Online
Outro movimento que organizou protestos de rua contra Dilma foi o Revoltados Online – que chegou a ter 2 milhões de seguidores no Facebook. A rede social, porém, removeu o perfil do Revoltados, que está se reestruturando. “Fomos censurados”, diz o empresário Marcello Reis, fundador do movimento, que agora tem um blog e aposta no YouTube para disseminar suas ideias. Segundo ele, isso o motivou a cogitar a ideia de concorrer a deputado federal em 2018. “Se você não está lá dentro [do Congresso, do mundo político], não adianta estar censurado aqui fora ”, diz Reis.
O empresário afirma que a página do movimento foi tirada do ar sob a acusação de divulgar conteúdo racista, contra muçulmanos e de cunho sexual. Ele nega. “Não sou racista; tenho amigos negros. E só defendo que o país não receba terroristas”, diz Reis. Também afirma que tem parente que foi vítima de pedofilia e que não é disseminador de conteúdo sexual.
Apesar de pensar em concorrer a deputado, Reis não está filiado hoje a nenhuma sigla e garante que o Revoltados Online não tem vínculo partidário. Mas reconhece que o movimento tende a se posicionar nas eleições. “Apoiamos pessoas, não partidos”, diz ele.
Reis também admite ser amigo do deputado Jair Bolsonaro (que vai ingressar no Patriota, novo nome do PEN) e do presidente nacional do PRTB, Levy Fidelix. Bolsonaro é pré-candidato à Presidência. E Levy já concorreu ao Planalto.
No blog do movimento, aliás, há algumas postagens enaltecendo Bolsonaro. E Reis participou recentemente de um fórum que discutiu a direita e conservadorismo no Brasil promovido pela Fundação Presidente Jânio Quadros, ligada ao PRTB.
O fundador do Revoltados Online considera ainda fundamental que a direita brasileira se una contra a esquerda. “A direita, ao contrário da esquerda, não é unida.”
Ele mesmo, porém, critica a postura do MBL e do Vem Pra Rua em relação ao governo Temer. “Não sei por que se calam.” Mas reconhece que a saída de Temer, neste momento, seria ruim. “O país não aguenta mais uma troca de presidente.”
Reis diz ainda que hoje as principais pautas do Revoltados Online é a prisão do ex-presidente Lula e a adoção do voto impresso. Ele considera que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas para manter no poder a atual classe política.
Risco de esvaziamento
A possível participação de líderes de movimentos anti-Dilma em eleições e o ingresso deles em partidos políticos pode trazer risco de esvaziamento desses grupos. “Movimentos em que seus líderes aproveitam a janela de oportunidade para se lançar na política costumam se enfraquecer”, diz a cientista política Celene Tonella, professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que estudou movimentos sociais urbanos.
Celene lembra ainda que esses movimentos, sejam de direita ou de esquerda, precisam de uma base social para continuar a existir. E a sustentação deles pode ser abalada quando seus líderes ingressam na política. “Eles resolvem entrar na política, muitas vezes após criticarem a política.”
A cientista política ainda afirma que movimentos que têm continuidade no tempo costumam defender causas mais objetivas e não tão extensas como a do MBL, por exemplo. “A pauta é muito ampla, típica de partidos e não de movimentos”, diz ela.
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