Lula e Moro frente a frente: 2017 foi o ano em que o “grande embate” da Lava Jato ocorreu. E foram duas vezes.| Foto: Reprodução de vídeo/Justiça Federal

Para os investigados na Operação Lava Jato, 2017 provavelmente pareceu ter mais de 365 dias. Foram tantos acontecimentos nesse ano que alguns até parecem ter ocorrido há décadas. Um exemplo é a troca na relatoria da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), com a chegada do ministro Luiz Edson Fachin na 2.ª Turma da Corte.

CARREGANDO :)

O ano começou com notícia triste e com futuro incerto para a Lava Jato. O ministro do STF Teori Zavascki, que era o relator do caso no Supremo, onde são investigados os políticos com foro privilegiado, morreu em janeiro, em um acidente de avião em Parati, no Rio de Janeiro. O ministro estava trabalhando no recesso para agilizar a homologação do acordo de delação dos executivos da Odebrecht.

Quem acabou substituindo Zavascki foi o ministro paranaense Luiz Edson Fachin, depois de um sorteio entre os ministros da Corte. E quem hoje ocupa a vaga deixada por Zavaski é o ministro Alexandre de Moraes, que antes de virar ministro do Supremo integrou o governo do presidente Michel Temer.

Publicidade

E o fim do mundo chegou...

E por falar em Odebrecht, o ano começou com a expectativa de apocalipse. A delação do fim do mundo, como ficou conhecido o acordo dos executivos da empreiteira, colocou no centro do escândalo de corrupção políticos de praticamente todas as esferas de poder do Brasil. Do presidente da República a vereador, teve político de praticamente todos os partidos com nomes citados na delação. O STF abriu 76 inquéritos para apurar as denúncias.

Outra delação que deu o que falar foi a dos publicitários João Santana e Mônica Moura. Os dois foram responsáveis pelas campanhas eleitorais petistas de Lula e Dilma à Presidência da República. Nos depoimentos, falaram de irregularidades nas campanhas, caixa dois e denúncias de corrupção.

JBS

E depois da delação do fim do mundo, quando se achou que já havia ocorrido de tudo, vêm a público as gravações do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS. Sobrou, principalmente, para o presidente Michel Temer, que foi gravado em uma conversa pouco republicana no Palácio Jaburu, tarde da noite.

A delação da JBS também mostrou o deputado federal Rocha Loures, ex-assessor especial da Presidência e homem de confiança de Temer, correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala de dinheiro de propina. Rocha Loures virou réu em primeira instância em dezembro e vai responder na Justiça pelo caso.

Também sobrou para o senador tucano Aécio Neves, flagrado pedindo dinheiro para os donos da JBS para pagar o advogado contratado para defendê-lo na Lava Jato.

Publicidade

Aécio, inclusive, se encrencou de vez com a Justiça em 2017. Teve até prisão decretada. Só se livrou da punição porque os colegas senadores revogaram a decisão do STF.

JBS lado B

E, quando todo mundo achou que agora sim já tinha visto de tudo, surge uma nova gravação da JBS. Dessa vez, Joesley gravou uma conversa sem querer com outro executivo da empresa, Ricardo Saud, enquanto os dois estavam aparentemente alcoolizados. A gravação comprometeu a delação e os irmãos Batista acabaram sendo presos por descumprirem termos do acordo de delação premiada.

A nova gravação também complicou a vida do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que estava em uma cruzada contra o governo Temer e acabou enfraquecido pela trapalhada. Hoje, o Congresso tem uma CPI para apurar irregularidades no acordo entre a PGR e a JBS.

Denúncias contra Temer: balançou, mas não caiu

Mesmo com a confusão, a delação da JBS acabou servindo para embasar uma denúncia contra Michel Temer. O presidente, aliás, foi denunciado duas vezes pela PGR. Foi a primeira vez na história do país em que um presidente foi denunciado no exercício do mandato. Depois de muita negociação e de muito “toma lá, dá cá”, a Câmara rejeitou as duas denúncias contra Michel Temer.

Mas não foi só o presidente que sangrou. Teve muito ministro que também foi alvo de denúncias ao longo do ano. Foram alvos de denúncias Gilberto Kassab, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Bruno Araújo, Aloysio Nunes, Blairo Maggi, entre outros.

Publicidade

Lava Jato sob nova direção

O ano também foi de mudanças na Lava Jato. O procurador-geral da República Rodrigo Janot terminou o mandato e deu lugar a Raquel Dodge, que assumiu o cargo no meio da confusão da delação da JBS.

Na Polícia Federal, Leandro Daiello deu lugar a Fernando Segóvia, que assumiu o cargo de diretor-geral da PF. O superintendente regional no Paraná, onde correm investigações da Lava Jato, também mudou. Saiu Rosalvo Ferreira Franco e entrou Maurício Valeixo.

Operações. E prisões de gente graúda

Também teve muita gente presa por causa da Lava Jato ao longo do ano, em Curitiba e no Rio de Janeiro. Foram para a cadeia, por exemplo, o ex-deputado Cândido Vaccarezza; o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine; o empresário Eike Batista; o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur; o empresário do ramo do transporte coletivo do Rio de Janeiro Jacob Barata Filho. Barata, inclusive, acabou sendo solto pelo ministro Gilmar Mendes e depois voltou a prisão por ordem do juiz Marcelo Bretas, causando um mal-estar no Judiciário.

A dúvida de Palocci: o PT é um partido ou uma seita guiada pelo “deus” Lula?

De Curitiba, onde está preso, o ex-ministro Antônio Palocci enviou uma carta Pa presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pedindo sua desfiliação do partido. Na carta, Palocci diz ter ficado chocado ao ver Lula sucumbir ao pior da política. O ex-ministro também questionou se a sigla é um partido ou uma seita guiada por uma pretensa divindade, se referindo ao ex-presidente Lula.

Palocci também surpreendeu ao prestar depoimento ao juiz federal em um dos processos em que é réu junto com Lula. Ele disse que o ex-presidente e a Odebrecht tinham um pacto de sangue. O depoimento acabou complicando de vez a vida de Lula no processo referente ao terreno para o instituto.

Publicidade

O encontro tão esperado: Lula e Moro cara a cara. Por duas vezes

E por falar em Lula, o petista esteve duas vezes em Curitiba para ficar frente a frente com Moro. Ele foi interrogado no processo do tríplex em maio. Na ocasião, o ex-presidente deu um tom político à audiência e, ao sair da Justiça Federal, participou de um ato com a militância. O evento teve a participação de integrantes do PT, entre eles a ex-presidente Dilma.

Lula acabou condenado por Moro a 9 anos e seis meses no processo e será julgado em segunda instância em janeiro do ano que vem.

Lula voltou a Curitiba em setembro para ser ouvido no processo referente ao terreno para o Instituto Lula e o aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP). A história do aluguel deu pano para manga. Moro foi insistente ao questionar se o ex-presidente tinha os comprovantes do aluguel. Os documentos agora passam por uma perícia a pedido do MPF.