De camisetas a cerveja, passando por bares e academias, pelo menos 16 produtos e serviços disputam o título “República de Curitiba” na capital paranaense. Inspirados nos áudios vazados em que o ex-presidente Lula aparece usando a expressão, o termo virou símbolo das manifestações favoráveis à Lava Jato e agora figura no centro de uma briga para ver quem tem o direito de usar o nome comercialmente.
E ele aparece nas mais variadas atividades, algumas até bem curiosas. Além de roupas e bebidas que viraram lembranças da capital da Lava Jato, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável pelo registro de marcas e de proteção à propriedade intelectual, recebeu pedidos de pessoas querendo criar agências de marketing, casas de show e até linhas de cosméticos inspirados na fala do ex-presidente Lula. Até mesmo o apresentador Ratinho entrou na disputa com pedidos para o uso em escritórios e em produção de programas de rádio e TV.
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O motivo para a empolgação em torno da expressão é simples e vai além do orgulho pela cidade. Praticamente todos os 16 registros protocolados no INPI são do início de 2016, época em que houve o vazamento dos áudios. E esse “oportunismo” na hora de criar uma marca é bem comum, como explica o órgão por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a porta-voz, sempre que um termo ou frase acaba se popularizando por causa de uma novela, programa de TV ou mesmo pelo noticiário, o número de protocolos relacionados cresce.
Foi o caso da cerveja artesanal República de Curitiba Beer, uma das primeiras a pedir o registro junto ao INPI, apenas três semanas após a frase de Lula. O criador da marca, Jonderson Kruger, lembra que estava prestes a lançar uma nova bebida quando os áudios da Lava Jato vazaram, o que serviu de gancho para batizar o produto. E a ideia deu certo. “A procura tem sido bem grande, principalmente de turistas que buscam algum souvenir da cidade”, conta. Segundo ele, a procura pela cerveja República é maior do que a dos demais rótulos que produz.
Como não poderia deixar de ser, porém, nem todo mundo gostou da homenagem. “Já recebemos várias mensagens no Facebook de pessoas reclamando do nome ou nos xingando, mas sempre levamos na esportiva”, aponta Krueger. “No fim, todo mundo gosta de cerveja, seja de direita ou de esquerda”.
Já o empresário Luís Fernando Girardello não teve a mesma sorte. Dono do Bar República de Curitiba, ele diz enfrentar toda semana a ira de pessoas revoltadas pelas redes sociais. “Já fui chamado de fascista, me perguntaram se vendia pôsters do Hitler e outras coisas bem pesadas. Mas eu aprendi a ignorar”.
À espera do registro
Até o momento, nenhum dos 16 pedidos teve o registro aceito. De acordo com o INPI, o processo costuma ser demorado, podendo levar mais de três anos para ser concluído. Além da equipe reduzida para dar conta de um alto volume de protocolos, a própria análise leva tempo e passa por várias burocracias antes da liberação final.
Não por acaso, muitas marcas acabam desistindo pelo caminho, principalmente quando envolvem essas expressões sazonais, que acabam perdendo força com o tempo. Foi assim com o publicitário Thiago Nadalin, autor da icônica camiseta da “República de Curitiba” com os rostos do juiz Sérgio Moro e do procurador federal Deltan Dallagnol. Ele foi o primeiro a fazer o registro no órgão dez dias após a divulgação da frase, mas diz não ter certeza se vai levar o processo adiante.
“Não foi algo pensado comercialmente. Criamos a logo, vendemos e distribuímos as camisetas, mas a coisa meio que se perdeu pelo caminho depois do impeachment”, conta. Ao todo, Nadalin diz ter produzido mais de 10 mil camisetas, que foram enviadas para o Brasil inteiro. “Não temos nada planejado. Muita gente entrou em contato querendo licenciar ou revender em outros lugares, mas isso foi deixado de lado”. Segundo ele, o futuro da marca só vai ser pensado caso o registro seja aceito.
Marcas em disputa
Enquanto o publicitário não se decide, no entanto, outras pretendentes disputam a liberação. Segundo o INPI, apenas uma marca por atividade pode usar o nome, o que faz com que muitos registros “briguem” para ver quem chega até o fim do processo. Atualmente, sete dos 16 pedidos enfrentam algum tipo de oposição de terceiros — incluindo o de camisetas. A preferência é para quem protocolou antes, mas se não houver interesse em dar continuidade, o segundo pode levar.
Para Girardello, do Bar República de Curitiba, essas “brigas” não são motivo para preocupação. Embora tenha registrado o nome na categoria de estabelecimento após outro bar, ele diz não ver problema em mudar de nome no futuro. “Vai levar pelo menos mais dois anos até o INPI decidir de quem é a marca. Até lá, enquanto não é de ninguém, todo mundo usa”, brinca.