As novas denúncias contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) surgidas no último fim de semana, dizendo que ele recebeu dinheiro da Odebrecht em uma conta de sua irmã em Nova York, são apenas mais um capítulo na sua transformação de um dos principais nomes da oposição ao governo PT para se tornar mais um político maculado pela sombra da Lava Jato.
Essa não é a primeira vez que Aécio é citado nas investigações. Desde as eleições de 2014, quando saiu fortalecido mesmo com a derrota para a ex-presidente Dilma Rousseff, seu nome apareceu em outros depoimentos. E, ainda que ele tenha passado incólume por todos, essa exposição constante foi, aos poucos, sujando a imagem que conquistara e enfraquecendo sua figura. E a suposta delação de Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, pode ter um impacto bem maior e selar de vez as pretensões do “Mineirinho”, como seria chamado na lista da construtora, a disputar a presidência em 2018.
As denúncias ecoam o áudio vazado em maio do ano passado em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) conversa com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Na conversa, eles afirmam que Aécio seria o primeiro a “ser comido” pela Lava Jato caso as investigações avançassem. “Quem não conhece o esquema do Aécio?”, questionava Machado na gravação.
Embora nunca tenham deixado claro qual esquema era aquele, o histórico de acusações aponta para várias possibilidades. Dos 83 inquéritos que a Procuradoria-Geral da República pediu para abrir com base nas delações da Odebrecht, seis envolvem o tucano mineiro. Segundo essas mesmas delações, Aécio teria sido um dos políticos que mais recebeu dinheiro a empresa: um montante de R$ 70 milhões acumulados desde 2003.
Um dos primeiros casos em que apareceu o nome do senador remonta aos primórdios da própria Lava Jato, quando o doleiro Alberto Youssef disse que o ex-deputado José Janene iria dividir uma diretoria em Furnas, ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com Aécio. Na época, Youssef já citou a interferência de uma irmã de Aécio como a responsável por fazer a arrecadação dos valores desviados.
Em 2015, novas acusações surgiram contra o senador durante as delações relacionadas à empreiteira UTC. Na época, o entregador de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, disse que um diretor da empresa iria repassar R$ 300 mil a Aécio, que estaria cobrando insistentemente pelo dinheiro. Contudo, em ambos os casos, a investigação foi arquivada a pedido do então ministro do Superior Tribunal Federal (SFT) Teori Zavascki por falta de informações mais concretas.
Já em 2016, o caso Furnas voltou à tona após o lobista Fernando Moura dizer em depoimento ao juiz Sérgio Moro que Dimas Toledo foi escolhido como diretor da estatal, em 2002, por indicação de Aécio. Segundo Moura, a influência do tucano era tão grande que a propina recebida por ele era o equivalente ao enviado para alimentar os ouros núcleos políticos.
O senador voltou a ser citado no último mês de fevereiro durante as delações da Odebrecht. O mesmo Benedicto Júnior comentou que Aécio fraudou licitações na obra da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, para favorecer grandes empreiteiras. Segundo o ex-executivo, Aécio ficava com cerca de 3% dos valores dos contratos. Inaugurada em 2010, a obra custou R$ 2,1 bilhões.
Ascensão paulista
A situação de Aécio serviu também para escancarar mais uma vez o racha interno dentro do próprio PSDB e mudar as projeções para 2018. Até então, o senador seguia como a principal aposta do partido para as próximas eleições, fortalecendo a ala mineira da legenda. No entanto, os recentes acontecimentos podem arruinar os planos vindos de Minas Gerais, principalmente com a superexposição que o prefeito de São Paulo, João Dória, vem tendo em seus primeiros meses de mandato.
Para o cientista político da PUCPR, Masimo Della Justina, as várias denúncias contra Aécio fazem com as maiores chances de candidatura sejam dos paulistas. “O Aécio está com a imagem bem complicada e, pela experiência que ele demonstrou em 2014, não tem tanto carisma assim para ganhar uma eleição”, aponta. “Se a economia crescer, até o Temer poderia ganhar dele”.
Para Justina, agora não é o momento do partido demonstrar divisão e o ideal é decidir o quanto antes o nome a ser indicado para 2018. “Pela experiência, o Alckmin seria a aposta mais provável”.
Porém, parece que essa pressa não existe dentro do partido. Segundo o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), agora não é a hora de pensar em eleições. “O João [Dória] está fazendo um bom trabalho. Está começando uma travessia e é muito talentoso. E administrar São Paulo é grande desafio”, elogia o parlamentar. “Ainda assim, tem muita água para rolar por baixo dessa ponte e o PSDB tem muitas alternativas para trabalhar.”
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