Se depender do histórico dos processos da Lava Jato a que o ex-presidente Lula responde em Curitiba, o depoimento do petista nesta quarta-feira (13) tem grande potencial para ter alguma confusão envolvendo a defesa dele e o juiz Sergio Moro. E até mesmo com outros participantes da audiência. Lula é réu em três processos da Lava Jato em Curitiba. E, durante as audiências, no trâmite das ações ou mesmo em declarações públicas, os advogados de Lula e Moro trocaram farpas com frequência.
Teve um pouco de tudo. Acusações de que o juiz é nazista e de que o Paraná é caipira, briga para produzir um “filme” de depoimento, enxurrada de depoentes e insinuações de mentiras dos dois lados.
Relembre de cinco “tretas” nos processos de Lula em Curitiba:
1. Paraná “caipira” e Moro nazista
Numa audiência do processo do tríplex do Guarujá, Moro se irritou com as seguidas interrupções de advogados de Lula. “A defesa pelo jeito vai ficar levantando questões de ordem a cada dois minutos nesta inquirição. É inapropriado, doutor. Estão tumultuando a audiência”, disse Moro.
Um dos advogados de Lula, José Roberto Batochio, então se “rebelou”. Disse que “o juiz não é o dono do processo” e que a lei permite aos defensores fazer o uso da palavra. “Ou se vossa excelência quiser eliminar a defesa... E eu imaginei que isso já tivesse sido sepultado em 1945 pelos aliados e vejo que ressurge aqui, nesta região agrícola do nosso país.” Era uma referência ao suposto “caipirismo” paranaense e ao nazismo. Em 1945, a Alemanha nazista foi derrotada pelas nações aliadas.
2. Luzes, câmera e ação... Ops, não
Muito antes da estreia do filme “Polícia Federal: a lei é para todos”, que conta a história da Lava Jato, a defesa de Lula e Moro brigaram por outra “superprodução hollywoodiana”. Os advogados do ex-presidente queriam filmar por vários ângulos o primeiro depoimento de Lula a Moro, no processo do tríplex. As audiências sempre foram filmadas, mas pela equipe da Justiça Federal. O juiz negou o pedido argumentando que Lula e sua defesa queriam transformar o interrogatório num “evento político-partidário”.
Por outro lado, quando Moro quis que o novo depoimento de Lula, nesta quarta (13), fosse por videoconferência, quem disse não foi a defesa do ex-presidente. É um direito do acusado ser ouvido pessoalmente. O juiz queria evitar a mobilização de um aparato de segurança para garantir o depoimento.
3. A guerra da enxurrada de testemunhas
Os advogados do ex-presidente e Moro “duelaram” para definir o número de testemunhas de defesa que seriam ouvidas no processo do terreno do Instituto Lula. Os defensores pediram para serem ouvidas 87 testemunhas – o que foi interpretado como atitude protelatória.
Moro decidiu exigir que Lula estivesse presente em todos os 87 depoimentos – o que foi visto como uma manobra para fazer a defesa desistir da enxurrada de depoentes. Depois, o juiz recuou um pouco, dizendo que desistia de exigir a participação do petista se fossem arroladas menos pessoas. No fim, as instâncias judiciais superiores deram ganho de causa a Lula. Mas, durante as audiências, várias vezes o juiz demonstrou contrariedade em ter de ouvir testemunhas que pouco acrescentaram ao processo.
4. A irritação do advogado de defesa... de Moro
O jurista René Dotti, contratado pela Petrobras como assistente de acusação da Lava Jato, perdeu a paciência com o advogado Cristiano Zanin, defensor de Lula, durante o interrogatório do ex-presidente no processo do tríplex. Zanin, um campeão de brigas com Moro, insistia que o juiz não deveria prosseguir com perguntas sobre o mensalão.
Foi então que Dotti interveio a favor do juiz. Disse que as perguntas eram pertinentes para avaliar o passado do ex-presidente. E então começou um bate-boca com Zanin, que acusou Dotti de estar “julgando” Lula. “Não estou julgando ninguém, estou justificando a pergunta do juiz”, retrucou o advogado da Petrobras. E então Dotti desabafou: “Parece que não se respeita a autoridade do juiz do caso, inclusive falando sem pedir a palavra. Isso não se faz numa audiência! Proteste contra o juiz, recorra contra o juiz, mas não enfrente o juiz pessoalmente na audiência para o público que está presente”.
5. “Você mentiu.” “Não, foi você”
Moro comunicou ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), a segunda instância da Lava Jato, que a defesa de Lula pode ter mentido ao alegar que não teve acesso a depoimentos juntados no processo do terreno do Instituto Lula. Os advogados reclamavam que não tiveram tempo para se preparar para aqueles interrogatórios. Moro argumentou que o sistema eletrônico da Justiça Federal mostrava que houve acesso da parte de advogados do petista ao material. Ou seja, eles tiveram ciência dos depoimentos.
A defesa de Lula rebateu. Disse que as insinuações do juiz eram “descabidas”. E, por outros palavras, disse que quem mente é Moro. O juiz foi chamado pelos advogados do ex-presidente de “inimigo da verdade”.
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