As vitórias de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) nas disputas pelos comandos da Câmara e do Senado não indicaram apenas o avanço do DEM, que passou de partido “quase extinto” durante os governos petistas a manda-chuva no Congresso Nacional. Os triunfos confirmam a perda de protagonismo dos três maiores partidos do Brasil – MDB, PSDB e PT – no Congresso. As legendas, que historicamente deram as cartas na política nacional desde a redemocratização, foram relegadas a um segundo plano – condição que, possivelmente, terão que aguentar por um bom tempo.
A situação é inédita. Nunca houve, no Brasil pós-1985, um momento em que nem Câmara e nem Senado estiveram sob o comando dos “três grandes”. O tombo é ainda maior porque, na Câmara, os partidos não obtiveram nenhum cargo sequer na mesa diretora – a eles, restaram apenas suplências. No Senado, o PSDB ficou com a primeira vice-presidência, com Antonio Anastasia (MG), e o MDB, com a segunda-secretaria, ocupada por Eduardo Gomes (TO). O PT, novamente, foi reduzido a uma suplência.
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O panorama no Congresso reflete o resultado das urnas. As eleições de outubro materializaram o desejo de mudança por parte dos brasileiros, o que se viu principalmente com o PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro, que era insignificante na política até o ano passado, passou a ser um gigante no Congresso Nacional – e ocupando espaços que, entre outros, pertenciam aos “três grandes”.
O total de deputados federais eleitos por cada um dos partidos traduz o quadro. O PT, embora tenha formado a maior bancada, elegeu 12 deputados a menos do que em 2014 (56 a 68). O MDB recuou de 66 para 34 parlamentares. Já o PSDB foi de 54 para 29 – patamar que deixou o partido com uma bancada menor do que as de legendas como PR e PRB, historicamente inferiores aos tucanos.
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Na eleição presidencial, PSDB e MDB foram meros figurantes, com as candidaturas, respectivamente, de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles. O PT foi ao segundo turno, com Fernando Haddad, mas teve sua pior votação, em termos proporcionais, na história da fase decisiva das disputas presidenciais.
Um entre vários
Ex-senador e presidente do PSDB entre 2001 e 2003, José Aníbal (SP) afirmou que o partido, hoje, está numa faixa “pouco confortável” dentro do jogo político do Congresso Nacional. “Na Câmara, há os dois principais partidos, PT e PSL, e depois um grupo de uma série de partidos com cerca de 30 deputados. É onde estamos hoje. Uma condição pouco confortável”, declarou.
Segundo ele, o partido precisa passar “por um processo de revitalização”. O diálogo com novas lideranças, para o ex-senador, é “questão de sobrevivência”.
O partido tem visto o declínio de suas principais lideranças históricas. José Serra (SP), candidato a presidente por duas ocasiões, exerce atualmente um discreto mandato como senador e já não se posiciona mais como referência nacional do partido. Geraldo Alckmin (SP) fracassou na empreitada presidencial e tem futuro político incerto.
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E o presidenciável tucano que mais passou perto de ocupar o Palácio do Planalto recentemente, Aécio Neves (MG), caiu em desgraça após acusações de corrupção e teve que voltar a se posicionar como um deputado federal de baixo clero. O principal vitorioso do partido na eleição de 2018 foi o governador de São Paulo, João Doria – mas seu triunfo se deu com uma espécie de desprezo às tradições do partido, o que se viu com a entusiasmada adesão dele ao projeto de Jair Bolsonaro, batizada de “bolsodoria”.
“Nossas propostas eram boas. O PSDB é um partido reformista, e eu espero que demonstre isso de forma muito eloquente agora, em que se vai começar a discutir reformas. Mas perdemos muito o discurso na questão ética, na questão de uma autocrítica. A sociedade não quer apenas que você reconheça que errou, quer que você reconheça e aja dando sentido ao erro que você admitiu: punindo, evoluindo, mostrando que o compromisso é sobretudo com a cidadania”, apontou Aníbal.
Gigante excluído
Já a saída do MDB do comando das duas casas do Congresso se deu de forma tumultuada. No Senado, o partido tinha Renan Calheiros (AL) como favorito e acabou por protagonizar brigas que prejudicaram ainda mais a imagem da legenda – primeiro a disputa interna entre Renan e Simone Tebet (MS), e depois o mais do que controverso processo de votação para a presidência da Casa, com suas idas, vindas, adiamento em um dia e a final vitória de Davi Alcolumbre.
Na Câmara, o partido apostou em Fábio Ramalho (MG), que ocupava a vice-presidência da Casa e buscava a vitória tendo como principal trunfo o bom relacionamento com os demais parlamentares – relacionamento turbinado pelas festas e quitutes que se tornaram a sua marca registrada.
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O deputado Rogério Peninha Mendonça (SC) minimiza o fato de o MDB estar excluído da Mesa Diretora da Câmara. O parlamentar acredita que o partido será contemplado com comissões de expressão dentro da Casa e “poderá fazer um trabalho ainda mais significativo do que se estivesse com alguma vice-presidência ou secretaria”.
O futuro da legenda, no entanto, preocupa Peninha. Ele também defende que a sigla passe por uma renovação. “Se o MDB continuar sendo comandado por [Romero] Jucá, Renan e Eunício, a tendência é realmente complicada. Nós precisamos ter nomes novos, nomes respeitados pela comunidade que possam dar uma boa visibilidade ao partido, e não uma visibilidade negativa”, declarou.
Peninha é autor de um projeto de lei que revoga o Estatuto do Desarmamento, uma das propostas mais caras ao presidente Jair Bolsonaro.
Esquerda combalida
O PT, embora tenha perdido em 2018 sua primeira eleição presidencial em vinte anos e tenha visto a consagração de seu principal adversário político, não foi tão diminuído quanto PSDB e MDB. O partido conseguiu fazer a maior bancada da Câmara e busca se consolidar como a principal frente de oposição a Jair Bolsonaro.
A meta dos petistas é a de unificar – ou, no mínimo, minimizar as diferenças – a esquerda nacional. Na eleição para a presidência da Câmara, o partido se aliou ao PSOL, que nasceu de uma dissidência sua e sempre se posicionou como “oposição à esquerda” dos governos petistas.
“Nós queremos ampliar esse bloco [de esquerda] da melhor maneira possível. Estamos preparados para o enfrentamento. Não apenas o enfrentamento dos que querem retirar direitos, mas no combate à bancada fundamentalista”, disse a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
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A meta do partido, no entanto, esbarra em questões práticas. O processo de eleição para presidente da Câmara gerou uma grande fissura entre o bloco encabeçado por PT e PSOL e um outro grupo representado por PCdoB e PDT, que apoiaram a reeleição de Rodrigo Maia. As mobilizações dos campos motivaram declarações inflamadas de todos os lados, e vieram até mesmo da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que em 2018 foi candidata a vice-presidente na chapa do PT.
A deputada Kokay disse que o episódio não retirou do PT a meta de contar com PDT e PCdoB na oposição a Bolsonaro. A parlamentar, no entanto, criticou as declarações recentes do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), que lançou mão da frase “o Lula tá preso, babaca!”, introduzida por seu irmão Cid ainda na corrida eleitoral do ano passado e que desagradou petistas.
“Essas declarações indicam que o ex-candidato Ciro não está entendendo os riscos que corremos”, afirmou.
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