A “profecia” de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ficará conhecido como alguém que ajudou a derrubar dois presidentes da República parece mais próxima do que nunca de se realizar. O ex-deputado está concluindo seu bombástico acordo de colaboração premiada e deve começar a prestar depoimentos aos procuradores nos próximos dias, segundo reportagem do portal BuzzFeed.
O roteiro da delação, com situações e personagens envolvidos, já teria sido entregue pela defesa de Cunha à Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre os fatos a serem narrados, deve confirmar que recebia mesada da JBS para se manter calado, conforme o diálogo que o empresário Joesley Batista gravou com Michel Temer. A confirmação deve ser o ponto central da segunda denúncia da PGR contra o presidente, desta vez por obstrução da Justiça.
O BuzzFeed afirma ainda que o operador Lúcio Funaro, que está preso há um ano e era ligado a Cunha, também está com sua delação premiada bem encaminhada. A expectativa é que ele também diga que recebia pagamentos da JBS para se manter em silêncio. O advogado Figueiredo Basto negou ao site O Antagonista que Funaro teria entregue um roteiro da sua delação. Também negou qualquer articulação com Cunha no sentido de fecharem juntos a colaboração premiada.
De acordo com a gravação feita por Joesley, o empresário conta a Temer que está de “bem com o Eduardo” porque “zerou todas as pendências que tinha com ele”. O presidente então respondeu: “tem que manter isso, viu”. Para os investigadores, Joesley fez referência à propina paga para calar o deputado cassado e o seu operador, atitude que recebeu o aval presidencial. Temer nega que tenha autorizado a compra do silêncio deles.
Com o início dos depoimentos, os procuradores que atuam no caso esperam entregar o acordo para homologação do Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos dias de julho. Desta forma a homologação poderá acontecer no início de agosto e a PGR conseguirá enviar a segunda denúncia contra Temer pouco tempo depois da volta do recesso do Judiciário.
Se confirmada, a delação de Cunha deve agravar a defesa de Temer na Câmara dos Deputados, que avalia o prosseguimento ou não da denúncia por corrupção passiva apresentada pela PGR no STF contra o presidente da República. A votação final em plenário pode ficar para agosto, depois do recesso parlamentar, caso os trabalhos na CCJ sofram algum atraso.
Foi Cunha quem aceitou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, em dezembro de 2015, quando ocupava a presidência da Câmara. Ele ainda conduziu a histórica sessão que aprovou o impedimento e afastou a petista do cargo, em abril de 2016.
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