A delação premiada do casal de publicitários João Santana e Mônica Moura está fartamente documentada e implica diretamente a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato. Das delações cuja íntegra veio a público, a dos dois ex-marqueteiros do PT é uma das com maior embasamento documental que sustenta a acusação. Até agora, a ex-presidente não havia sido envolvida no petrolão de forma tão contundente. Os indícios encontrados contra ela foram remetidos pelo Supremo Tribunal federal ao juiz Sergio Moro, em Curitiba.
João Santana e Mônica Moura entregaram à Lava Jato extratos bancários de contas no exterior, passagens aéreas, comprovantes de pagamentos a hotéis, documentos registrados em cartório, agendas de anotações e contratos de prestação de serviços que servem como indício sólido contra Dilma. O que torna a delação ainda mais complicada para a ex-presidente é que João Santana foi um dos principais conselheiros da petista ao longo de praticamente todo seu mandato.
Dilma nega acusações
A ex-presidente Dilma Rousseff negou as acusações dos publicitários. Em nota enviada à imprensa, disse que João Santana e Mônica Moura “prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”. Na nota, Dilma afirma ainda que “acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida”.
Campanha de 2010
Na delação, o casal de marqueteiros afirma que houve pagamento de caixa 2 por intermédio da Odebrecht para despesas da campanha de 2010, que elegeu Dilma para a Presidência. R$ 5 milhões teriam sido entregues em espécie e outros R$ 10 milhões depositados na conta do exterior.
Para “esquentar” a transação, a Odebrecht teria exigido que João Santana e Mônica Moura assinassem um contrato fictício de prestação de serviços com uma empresa do grupo Odebrecht, a Kleinfeld. O contrato e o extrato da conta da Suíça foram entregues aos investigadores.
Em tese, a Odebrecht, que reconheceu ter participado do esquema de corrupção, pode corroborar a delação dos publicitários.
Os delatores afirmam ainda que uma parcela equivalente a R$ 9 milhões de caixa 2 da campanha de 2010 também teria sido depositada na Suíça, em nove parcelas, por meio de uma offshore operada por Zwi Skornicki, investigado pela Lava Jato. Na delação, também consta o extrato da conta no exterior que mostra os depósitos.
Campanha de 2014
Em 2014, com a Lava Jato já em andamento, não houve pagamentos em contas no exterior – embora, segundo os delatores, isso tivesse sido prometido pela campanha de Dilma. O esquema também envolveria a Odebrecht, que temia ser implicada nas investigações se fizesse o pagamento. Segundo o casal de marqueteiros, por causa disso, teria ficado uma dívida de campanha, nunca paga, de R$ 25 milhões.
Os delatores afirmam que, ainda assim, houve o pagamento de R$ 10 milhões em espécie por meio de caixa 2. A documentação entregue pelos dois à Lava Jato, nesse caso, apenas comprovaria que Mônica Moura circulou pelos locais que diz ter estado para negociar o pagamento das dívidas de campanha e que se encontrou com interlocutores de Dilma supostamente designados para isso.
Cabeleireiro de graça
João Santana e Mônica Moura afirmam na delação que a presidente Dilma Rousseff pedia favores para os dois que implicavam em custos para eles, tal como pagar seu cabeleireiro pessoal – o renomado Celso Kamura. Os marqueteiros disseram que aceitaram arcar com essas despesas porque vislumbravam conseguir contratos para outras campanhas eleitorais do PT. O casal estima ter gasto R$ 50 mil, entre 2010 e 2014, para pagar os serviços de Kamura, suas viagens a Brasília e as hospedagens. No documento da colaboração premiada, há documentos comprovando esses pagamentos.
Obstáculos à Lava Jato
Se falta documentação que sustente de forma mais sólida a acusação contra a campanha de 2014, a delação dos publicitários traz indícios mais fortes para embasar a denúncia de que Dilma tentou, ainda naquele ano, atrapalhar as investigações da Lava Jato.
Mônica Moura disse que, em novembro de 2014, criou uma conta de e-mail compartilhada com Dilma para que a então presidente reeleita lhe informasse sobre avanços da Lava Jato que poderiam lhe atingir, bem como ao seu marido, João Santana. A conta teria sido criada no Palácio da Alvorada, na presença de Dilma. E as duas teriam compartilhado a senha para que se comunicassem por meio do rascunho do e-mail. Posteriormente, uma segunda conta de correio eletrônico foi criada pelas duas com o mesmo objetivo.
Mônica conseguiu comprovar ao menos a existência dos e-mails. Registrou em cartório que as contas estavam ativas em dois cartórios. Em maio de 2016, houve o registro de uma conta, no 20.º Tabelião de Notas de São Paulo. Em julho do mesmo ano, do outro e-mail, no 1.º Tabelionato de Notas de Curitiba. Mônica e Santana estavam presos desde fevereiro daquele ano em Curitiba pela Lava Jato. Só vieram a ser libertados em agosto de 2016.
Também estão anexados na delação registros eletrônicos mostrando que o notebook de Mônica Moura acessou o wi-fi do Palácio da Alvorada e da Presidência para supostamente criar os e-mails. Há ainda passagem aérea que comprova que ela esteve em Brasília na data em que alega ter criado, juntamente com Dilma, as contas.
Extratos bancários levantam suspeita contra Lula
A delação premiada dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura também tem documentos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O casal afirma ter recebido R$ 10 milhões referentes à campanha de reeleição de Lula, em 2006, por meio de caixa 2.
Metade, segundo os delatores, foi paga em dinheiro vivo – o que impede a apresentação de provas materiais. Porém, R$ 5 milhões teriam sido pagos por intermédio da empreiteira Odebrecht numa conta na Suíça. João Santana e Mônica Moura entregaram à Lava Jato os extratos dessa conta que mostram os depósitos. Em princípio, os delatores da Odebrecht podem corroborar a versão dos publicitários.
Lula nega as acusações de seus ex-marqueteiros.
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