A divulgação dos conteúdos da delação da empreiteira Odebrecht, na semana passada, atingiu figuras emblemáticas e estraçalhou partidos a pouco mais de um ano da eleição presidencial. A reportagem ouviu estudiosos e políticos de diferentes matizes e quase todos concordam que o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), por enquanto, é o maior beneficiado pela hecatombe.
Depois dele, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e até Jair Bolsonaro (PSC) podem se fortalecer para uma eventual disputa se permanecerem fora do extenso grupo de implicados na Odebrecht.
Mas a vantagem de Doria é que as revelações feitas pelos executivos da Odebrecht e a amplitude da lista de implicados podem reforçar nos eleitores uma forte reação aos chamados políticos tradicionais, alvo do discurso e do marketing pessoal do prefeito paulistano.
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“Está mais fácil pensar 2022 do que 2018”, ironizou Marco Antônio Teixeira, professor de Ciência Política da FGV-SP. “Tudo indica que a força da gravidade vai levar o Doria às eleições.”
Alguns dos ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo ainda apontaram alternativas para políticos atingidos em cheio pelas delações, mas lembram que, além das condições políticas e eleitorais, eles terão de reunir as jurídicas. Nesse grupo, quem tem a situação mais complicada é o ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva, que já se lançou candidato pelo PT e, em pesquisas recentes, tinha mais de 20% de intenção de voto.
O desgaste do PT
“A semana passada destruiu a respeitabilidade ou o pouco que restava dela de todo o mundo político”, resumiu o professor da USP Lincoln Secco. “O PT, embora atingido pelas delações, tem o principal candidato, que ninguém sabe se vai poder concorrer”, afirmou.
Não bastasse o desgaste político provocado pelas delações da Odebrecht, Lula é alvo de inquéritos na Justiça (é réu em cinco casos). Desde terça-feira passada, quando foi divulgada a lista com os pedidos de investigação do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, cresceu dentro do PT o temor de que Lula seja impedido pela Justiça, por meio de condenações e até de uma prisão, de concorrer em 2018.
“O status do Lula com o Judiciário será muito importante porque, neste momento, não há outro candidato no PT. No PSDB, o grau de implicação de cada um na Lava Jato poderá desempatar, digamos assim, eventuais disputas”, afirmou o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e os senadores Aécio Neves e José Serra são os tucanos sempre lembrados como presidenciáveis. Os três estão na lista de Fachin. Doria, até agora, não apareceu na investigação. “Uma candidatura Doria pode oxigenar o PSDB e ainda resolver um problema crônico, que é a dificuldade de unir o partido”, disse Cortez.
O prefeito de São Paulo disse ao Estadão, quando questionado sobre os efeitos da delação da Odebrecht, que “essa será uma manifestação do eleitorado”.
Políticos com cargos de direção no PSDB, PMDB, DEM e até no PT também afirmaram, sob a condição de anonimato, que a candidatura presidencial de Doria tornou-se uma realidade porque ele comanda o terceiro maior orçamento do País, está bem avaliado (43% aprovam a gestão dele, segundo o Datafolha) e, apesar de estar há meses no cargo, mantém a imagem de ainda ser um empresário.
As chances de Ciro dependem de Lula. Caso o petista viabilize sua quinta candidatura a presidente, Ciro terá de disputar com ele o voto do campo da centro-esquerda e do Nordeste, onde ambos têm força. “Ele justamente tem tentado se colocar como uma volta do lulismo sem o Lula, principalmente na questão regional”, disse o cientista político da Unicamp Jean Tible.
Sobre Marina, Carlos Melo, do Insper, afirmou que ela perdeu capital político após o terceiro lugar nas eleições de 2014. Para ele, contudo, ela ainda pode surpreender. Mesmo não aparecendo tanto, ela tem o que ele chama de “recall alto” e sempre arremata bom número de votos.
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