Mesmo sem ter as maiores bancadas da Câmara e do Senado, o DEM passou a presidir ambas as casas e ocupar três ministérios, incluindo a Casa Civil, na mão de Onyx Lorenzoni.
Com a eleição de Davi Alcolumbre (AP) como presidente do Senado, o partido, que mudou de nome há 12 anos (trocando de PFL para DEM) para evitar uma trajetória de declínio, fechou um pacote de força política que já incluía a presidência da Câmara, com Rodrigo Maia (RJ), reeleito pela terceira vez no dia anterior, o ministério da Casa Civil, o da Saúde, com Luiz Henrique Mandetta, e o da Agricultura, com Tereza Cristina.
Agora, o presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, começa um trabalho de pacificação entre os caciques da legenda que já travavam uma guerra nos bastidores, não tão velada.
VEJA TAMBÉM: Deputados do PSL querem ‘bombar’ CPIs. Na pauta: Mais Médicos, Une e Comissão da Verdade
O principal foco de tensão é entre Maia e Lorenzoni. O ministro da Casa Civil trabalhou contra a reeleição do presidente da Câmara e foi o principal fiador da candidatura de Davi no Senado.
Próximo a Maia, ACM Neto atuou mais discretamente no Senado, blindado, pois sabia que outras siglas não receberiam bem o interesse do DEM em tantos espaços de poder.
Somente no fim da disputa é que suas digitais apareceram mais nitidamente. Ele, por exemplo, atuou na costura que levou à desistência de Tasso Jereissati (PSDB-CE) da disputa, o que trouxe os votos tucanos para Davi.
A partir desta semana, o trabalho é aproximar Lorenzoni e Maia, algo que já havia sido tentando logo após o segundo turno das eleições passadas, mas sem sucesso.
A relação entre os dois já não era boa, mas piorou em 2016. Em novembro daquele ano, houve uma revolta generalizada na Câmara contra Lorenzoni.
Relator do projeto das medidas anticorrupção, o gaúcho não incluiu em seu texto anistia para quem havia cometido crime de caixa dois. Deputados o acusaram de defender apenas interesses do Ministério Público, descumprindo acordo feito com parlamentares.
LEIA AINDA: Festa da vitória de Alcolumbre teve deboche a Renan e confidência: ‘Ele é chato’
Essa polêmica deixou feridas abertas, como o distanciamento dos principais quadros de seu próprio partido, como Maia e o próprio ACM Neto.
Agora, ACM Neto quer colocar os três juntos (Maia, Onyx e Davi) na mesma foto, impedindo brigas internas que possam fazer o partido se perder neste momento de crescimento, mesmo que, para isso, o discurso seja mais institucional.
“Nós temos o compromisso com a agenda do Brasil. Queremos que esta agenda avance e vou trabalhar para que haja um harmonização entre Câmara, Senado e Poder Executivo para garantir que os projetos importantes do país sejam aprovados”, afirmou Neto à reportagem.
Maia levantou uma bandeira branca ao grupo de Lorenzoni no fim de semana. Telefonou para Davi Alcolumbre na noite de sábado e, depois, foi ao coquetel que ele ofereceu na residência oficial do Senado, ao lado do imóvel oficial da Câmara.
Um aceno a Davi significa também um gesto a Lorenzoni. O ministro e o senador são próximos e têm uma relação pessoal. Denise Veberling, com quem Lorenzoni se casou em novembro do ano passado, é assessora parlamentar lotada no gabinete de Davi Alcolumbre.
Lorenzoni diz que quem aposta na briga dele com Maia ‘vai perder’
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, minimizou na manhã desta segunda-feira, 4, os atritos recentes que teve com o presidente reeleito da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Quem apostar na nossa briga, vai perder”, disse o ministro em entrevista à Rádio Jovem Pan.
“Eu fui liderado pelo Rodrigo e fui líder do Rodrigo na Câmara. A gente tem uma relação, que claro no episódio das dez medidas contra a corrupção (relatadas pelo ministro), ficou sim algumas pequenas dificuldades. Mas nada que esta longa relação, de quase 20 anos, não permita que a gente almoce juntos, inclusive amanhã”, afirmou.
Questionado sobre quem mais estaria presente no almoço, Lorenzoni disse que “talvez” o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O ministro atacou ainda o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que se retirou da disputa ao comando da Casa e disparou críticas a aliados do governo.
“A gente tem de ter clareza que o objetivo de Renan Calheiros com o Partido dos Trabalhadores era fazer da presidência do Senado um bunker, uma cidadela de resistência ao governo de Jair Bolsonaro”, disse.
Sobre a resistência que Renan poderia representar, Lorenzoni ponderou: “ele perdeu a cadeira e a caneta, e claro que tem menos poder. Mas a gente não tem ilusão que o PT e alguns dos seus aliados vão nos dar folga tanto na Câmara quanto no Senado”, disse.