Desde que chegou a Brasília há dez anos, para assumir seu primeiro mandato, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) ganhou uma fama só: a de raro anfitrião entre seus colegas. Passa longe de ser um mineiro típico, aquele fechado e introspectivo. Extrovertido e folclórico, Fabinho, como é conhecido, promove lautos almoços e jantares em seu apartamento funcional e, assim, conseguiu se tornar o primeiro vice-presidente da Câmara no início deste ano. Conquistou seus “eleitores” pela boca e pelo estilo bonachão. As leitoas servidas nos seus regabofes são famosas.
Fabinho obteve o apoio, principalmente, do chamado baixo clero, grupo formado pelos parlamentares menos conhecidos e que nunca relatam os projetos mais importantes. Foi o azarão na disputa para a vice-presidência e derrotou duas “raposas” do PMDB: Lúcio Vieira Lima (BA), irmão de Geddel, e Osmar Serraglio (PR), ex-ministro da Justiça. E o vencedor se filiou ao PMDB somente no ano passado. Até então era do Partido Verde (PV).
Derrotado na disputa, Vieira Lima evita criticar as armas utilizadas pelo adversário para vencer a disputa. “É uma pessoa alegre e extrovertida. Um mestre em conquistar amigos e corações”, diz. Logo após a apuração dos votos, Serraglio disse que era difícil concorrer com candidato que pagava jantares para os eleitores.
Prazo de validade para a Lava Jato
O vice de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ganhou o noticiário no final de semana ao propor restrições à Lava Jato. Para ele, cada caso deveria durar no máximo seis meses. De olho no lugar de Maia, Fabinho sabe que agrada, com esse tipo de declaração, ao baixo e ao alto clero da Casa, que já demonstrou não morrer de amores pelo Ministério Público Federal ao impor derrota às dez medidas de combate à corrupção. Dezenas de deputados são investigados no STF.
Não foi a primeira vez que o vice manifestou seu descontentamento com as investigações. Já o fez ano passado num discurso em plenário. “Quero afirmar que nesta Casa nós temos que ter coragem. Quem não tiver coragem não pode ser deputado. Aqui, se alguém quiser nos dar ordens, que ganhe a eleição e vire deputado. Nesta Casa, nós temos que ter coragem e determinar o que queremos para o Brasil. Nós não queremos acabar com a Operação Lava Jato, não! Mas nós queremos respeito”, disse Fabinho.
Penas mais duras contra a corrupção
Antes de ingressar no PMDB, o deputado apresentou um projeto, em 2015, que endurecia as penas para os crimes de corrupção passiva e corrupção ativa. Alterava as penas atuais previstas de 2 a 12 anos para 6 a 20 anos de cadeia, para os dois casos. A proposta está parada. Vários integrantes de seu novo partido, a começar pelo presidente Michel Temer, estão envolvidos em escândalos.
“A cada dia são denunciados novos crimes contra a administração pública, praticados por verdadeiras organizações criminosas compostas por funcionários públicos, empresários e até mesmo políticos, que se aproveitam da facilidade de acesso a bens e recursos públicos para dilapidar o patrimônio de todos em proveito de poucos. A corrupção é uma prática natural e recorrente em nosso país devido à certeza da impunidade de que gozam os criminosos”, afirmou o deputado mineiro no projeto.
Fabinho chegou a ensaiar um racha com Temer, criticou as reformas enviadas pelo Planalto, mas eles já voltaram às boas. O vice da Câmara foi o único parlamentar na comitiva oficial de Temer que viajou à Argentina na semana passada para a reunião do Mercosul.
Reportagem atualizada ao meio-dia de 27/07 para a retirada da informação de que o deputado continuava na Argentina. Sua agenda no dia 25/07 foi em Brasília.
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