Deputados do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, já escolheram seus adversários diretos para, como se diz no futebol, fazer uma marcação homem a homem. O principal alvo é o PT, partido que tem a maior bancada eleita da Casa, com 56 deputados. O PSL, segunda maior bancada, elegeu 52 deputados, mas prevê crescimento com a migração de parlamentares de outras legendas.
A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), eleita deputada federal para a próxima legislatura, é alvo de disputa entre os antagonistas. Há ao menos três bolsonaristas que querem marcá-la: os conterrâneos Joice Hasselmann (paranaense eleita por São Paulo) e Filipe Barros (PR), além de Carla Zambelli (SP).
“Temos uma pré-divisão, sim, uma cota pessoal. A gente meio que está dividindo os nomes da oposição com os nossos nomes de cá de enfrentamento”, explica Hasselmann.
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“Essas posições são naturais. Eu e a Erika Kokay [PT] somos do DF e já temos posições antagônicas. Agora, a Erika não terá mais o microfone só para ela. Quando for defender pautas de direitos humanos, sob a sua ótica do direito dos manos, estarei lá para fazer o contraponto. O povo brinca que a TV Câmara terá mais audiência que a Globo”, afirma Bia Kicis (DF), eleita deputada pelo PRP, mas de malas prontas para o PSL.
Segundo Zambelli, a conversa da marcação mano a mano é informal e não há uma estratégia realmente traçada. “O que a gente já conversou mais é, por exemplo, se as mulheres [da oposição] começarem a atacar os homens do nosso partido, nós, mulheres, sairemos em defesa, de acordo com o tema. Não é uma defesa cega. É até uma forma de não ter problemas com comissão de ética por quebra de decoro. A gente quer minimizar os problemas”, afirma a deputada eleita por São Paulo.
Para Filipe Barros, o enfrentamento com Gleisi é natural por serem do mesmo estado, mas ele também quer se colocar como antagonista do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), caso ambos estejam na Comissão de Direitos Humanos.
Deputados do PSL disseram que Wyllys também será alvo do deputado eleito Alexandre Frota (PSL-SP). Ao ser questionado sobre a estratégia, o parlamentar informou que estava na praia e retornaria apenas no fim de janeiro.
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A maneira como farão este enfrentamento ainda não foi definida pelos parlamentares do PSL. Alguns deles sabem que a tática, porém, pode acabar atrapalhando o governo.
Até o ano passado, governistas preferiam se abster diante dos disparos da oposição para não alongar as sessões.
Se cada parlamentar do PT ou do PSOL for, realmente, ser rebatido por um defensor de Bolsonaro ao colocar em prática o chamado kit obstrução, as votações podem se estender pela madrugada para dar espaço para tanta discussão. “Por isso não traçamos o modus operandi. O PT e outros partidos vão utilizar de kit obstrução. Tem que ter sabedoria para saber quando atacar”, diz Barros.
Além da estratégia de marcação individualizada, o partido também já se organiza para a apresentação de propostas. Barros afirma que a bancada quer retomar a discussão do projeto que ficou conhecido como “Escola sem Partido”.
Engavetada no ano passado, a proposta limita o que o professor pode falar em sala de aula e veta o que que os seguidores de Bolsonaro convencionaram chamar de ideologia de gênero.
Outro tema que pretendem apresentar logo no início dos trabalhos legislativos é um novo pacote de medidas anticorrupção reunidas no projeto “Unidos Contra a Corrupção”, de iniciativa da sociedade civil organizada.
O PSL elegeu apenas um deputado em 2014 e, atualmente, tem oito deputados. Impulsionada por Jair Bolsonaro, cresceu mais de seis vezes nas eleições do ano passado. Em busca de espaço no comando da Casa, a cúpula do partido decidiu apoiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Câmara.
O PT, que caminhava para anunciar apoio a Maia, agora avalia se é politicamente viável integrar o mesmo grupo da legenda de Bolsonaro. A eleição para presidente da Câmara acontece em 1º de fevereiro.