O governo brasileiro não autorizou que um relator da ONU avaliasse a situação de barragens e do meio ambiente após do desastre de Mariana (MG) em 2015.
Relator da ONU sobre a implicação para os Direitos Humanos da Gestão Ambiental e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak não teve viagem autorizada e disse que solicitou várias vezes ao governo que viesse ao Brasil, especialmente à região de Mariana.
Segundo Tuncak, o objetivo era avaliar a resposta das autoridades e examinar os riscos ambientais de potenciais novos desastres.
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Tradicionalmente, o Brasil adota uma posição de manter um convite aberto a todos os relatores da ONU que queiram visitar o País. A princípio, portanto, todos são autorizados a viajar ao Brasil para realizar suas missões. Mas, na prática, as missões apenas ocorrem quando o governo oferece uma data para receber o relator.
“Fiz repetidos apelos ao governo para que eu fizesse uma avaliação independente da situação”, declarou o relator. “Fizemos muitos pedidos e tivemos reuniões com a missão do Brasil em Genebra. Mas não tivemos uma resposta e não recebemos um convite”, disse.
Tentativas
Além de diversos contatos com os diplomatas brasileiros em Genebra ao longo dos anos e ainda durante o governo de Dilma Rousseff, ele enviou uma carta oficial no dia 7 de agosto de 2018 solicitando a visita também durante o governo de Michel Temer.
Como não houve uma resposta, voltou a enviar outra carta no dia 7 de dezembro de 2018, já com o governo em fase de transição. O texto é direcionado à embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo.
Nela, o relator “reiterava” o interesse em realizar uma inspeção e sugeria que a viagem ocorresse em 2019. Baskut Tuncak, porém, indicou que mais de um mês depois, a carta continua sem uma resposta e a viagem jamais foi marcada. Procurado pela reportagem, o Itamaraty não se manifestou.
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Tuncak ainda enviou ao governo brasileiro uma carta confidencial em setembro de 2018, solicitando informações sobre o que estava sendo feito para dar uma resposta às vítimas de Mariana e o que estava sendo feito para garantir a proteção de outras comunidades. Em novembro, uma resposta foi dada.
“Naquele momento, havia uma enorme insatisfação sobre a forma pela qual a crise de 2015 estava sendo lidada. Mas aquela comunicação (do governo) não foi uma resposta satisfatória e não dizia absolutamente nada sobre a proteção das populações em outras regiões e nem prevenção”, apontou.
O relator criticou abertamente as medidas tomadas por diferentes governos brasileiro e pelo atual presidente Jair Bolsonaro de acenar para uma redução dos controles ambientais no País. “Diante do que vemos, das mortes e dos problemas ambientais, essas medidas são verdadeiros choques à consciência”, atacou Tuncak.
“Logo depois de Mariana, projetos de lei foram apresentados no Brasil relaxando os controles em áreas de mineração e em controles ambientais. Essa é uma tendência que vemos também no atual governo (Bolsonaro)”, disse.
Segundo ele, entre o desastre de Mariana e a atual crise, “não houve um esforço real para reforçar a proteção” no que se refere às barragens. “Uma vez mais, temos a mesma empresa envolvida (Vale) e famílias mortas”, lamentou.
Tunkat rejeita a tese de que apenas a Vale tenha de ser responsabilizada pelas mortes e pelo dano ambiental. “Cabe ao governo proteger sua população. Não é apenas uma questão da empresa. A responsabilidade também precisa ser das autoridades”, completou o relator.
Uma barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, localizada em Brumadinho, se rompeu na tarde de sexta-feira, 25, deixando 60 mortos, segundo dados divulgados na manhã desta segunda-feira, 28 - além de feridos e centenas de desaparecidos. A onda de rejeitos de minério de ferro atingiu a área administrativa da empresa e a comunidade da Vila Ferteco.
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