A pior recessão econômica do Brasil fez saltar o índice de desemprego no país: quase 14 milhões de brasileiros ficaram sem trabalho como reflexo da crise. Apesar de a falta de trabalho afetar uma porção grande da população, foi entre os mais jovens que a taxa acelerou. Estudo divulgado na última edição do boletim Mercado de Trabalho, do Ipea, aponta que em dois anos, a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 29 anos aumentou em 10 pontos percentuais, um resultado muito mais agudo do que o registrado em outras faixas etárias.
Os pesquisadores Carlos Henrique Leite Couseuil, Katcha Poloponsky e Maira Albuquerque Pena Franca publicaram “Uma interpretação para a forte aceleração da taxa de desemprego entre os jovens”. Os jovens são comumente apontados como um dos grupos mais afetados pelo aumento do desemprego: é um fato que não chega a ser surpreendente, ainda mais analisando os resultados de outros países em momentos de crise. No caso brasileiro, o que chamou a atenção foi a intensidade do aumento e a falta de clareza em relação às causas dessa sensibilidade ao ciclo econômico.
Dados da Pnad Contínua mostraram que entre 2015 e 2017 o desemprego dos jovens teve uma trajetória de crescimento elevado e contínuo: passou de 15% no primeiro trimestre de 2015 para 25% no mesmo trimestre de 2017. O indicador de desemprego foi maior entre os mais jovens – aqueles com idades entre 15 e 17 anos sofreram muito mais que os trabalhadores de faixas etárias entre 18 e 24 anos e 25 e 29 anos.
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Carlos Henrique Leite Couseuil explica que os pesquisadores notaram que o número de desligamentos não era tão alto no setor formal: o crescimento exacerbado era no mercado informal e entre os trabalhadores mais jovens. “A predominância dos jovens no setor informal é absurda. Quando o setor informal começa a despedir um monte de gente, esses jovens também vão perder o emprego. Esse é o problema da alocação dos jovens nos postos de trabalho. Se eles conseguissem entrar no mercado formal, talvez não sofressem tanto com a crise como aconteceu”, pondera.
Estudos e complementação de renda
Os pesquisadores levantam duas possibilidades principais para o aumento da taxa de desemprego nessa faixa etária: o retorno dos jovens aos estudos e o fato de serem uma força de trabalho complementar, ou seja, só trabalhariam para ajudar a compor a renda da família.
Couseuil aponta que o retorno aos estudos é maior sobretudo entre os jovens de 15 a 17 anos. Apesar de engrossar a estatística do desemprego, esse caso é bem visto pelos pesquisadores: são pessoas que vão buscar melhor qualificação e podem progredir no mercado de trabalho, encontrando ocupações melhores e mais estáveis no futuro.
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O professor de economia do Insper Sérgio Firpo também pondera que, entre os jovens, o tempo de duração em um emprego tende a ser menor porque é uma fase de experimentação e descoberta da vocação, o que explica o desemprego mais elevado. “O jovem ainda está acumulando capital humano. Se não terminou sua escolaridade, está na faculdade e trabalhando, ainda não definiu tão bem a sua ocupação. Além disso, o custo para rodar por empregos é menor. O chefe de família tem dificuldade maior de fazer esse movimento, porque tem de sustentá-la”, avalia.
Os jovens também estão mais suscetíveis ao desemprego porque, em alguns casos, ingressam no mercado de trabalho para complementarem a renda familiar. Firpo aponta que isso é muito em famílias que tem baixa escolaridade. Nesse caso, quando o chefe da família perde o emprego, os jovens de 15 a 17 anos, principalmente, entram na força de trabalho para ajudar.
“Esse jovem tem que ajudar a recompor a renda da família quando um dos pais perde o emprego. A taxa de participação dos jovens no mercado de trabalho é maior entre as famílias mais pobres. Mas esses jovens ficam em maior situação de desemprego por razões estruturais e conjunturais”, analisa.
Trabalho de médio a longo prazo
Embora o desemprego entre os mais jovens seja comumente mais elevado, há medidas que podem ser tomadas a médio e longo prazo para frear essa aceleração da taxa de desocupação e protegê-los um pouco mais. Couseuil argumenta que é necessário mudar a alocação desses jovens, para evitar que fiquem empregados no setor informal. “É preciso distribuir para que eles possam ocupar mais espaço no mercado formal, porque se chegar uma outra crise dessa magnitude, eles estariam mais protegidos”, diz.
Para ele, há iniciativas como os contratos de aprendizagem que são portas de entrada para o jovem no setor formal e apresentam resultados interessantes. Para ele, essa é uma meta a ser perseguida no médio prazo, principalmente para o jovem que procura o primeiro emprego. “É difícil conseguir qualquer ‘primeiro emprego’, ainda mais no mercado formal. Nesse caso, muitos pensam em arrumar o que der para ser a primeira tentativa e conseguir furar essa barreira”.