O desmatamento na região amazônica cresceu 48,8% de agosto a outubro, os meses da campanha eleitoral, em comparação com o mesmo período do ano passado. Nesses três meses, a floresta perdeu 1.674 quilômetros quadrados, área um pouco maior do que a do município de São Paulo. O desmatamento na Amazônia costuma aumentar nos anos eleitorais por causa de promessas de políticos de que legalizarão terras griladas ou flexibilizarão a legislação ambiental caso sejam eleitos.
Os números sobre o crescimento do desmatamento são do Deter B, projeto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que monitora o desmatamento em tempo quase real para subsidiar a fiscalização ambiental. A taxa oficial é calculada pelo sistema Prodes, de maior resolução, mas os dois métodos têm alta convergência.
Discurso de campanha de Bolsonaro também pode ter estimulado o desflorestamento
A hipótese de que políticos regionais tenham estimulado o desmatamento soma-se à possibilidade de que o desflorestamento também tenha sido estimulado pelo discurso de campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Em acenos ao agronegócio e apoiado pela bancada ruralista, ele criticou várias vezes a fiscalização do Ibama e disse que o país tem um excesso de unidades de conservação e de terras indígenas.
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O levantamento do Deter B mostrou que o desmate nos municípios da Amazônia pró-Bolsonaro foi duas vezes e meia maior que o número equivalente nos municípios que votaram mais em Fernando Haddad (PT) no segundo turno.
Crescimento do desmate só será identificado pela taxa oficial de 2019
A região onde mais houve desmatamento ilegal, segundo o levantamento, foi a divisa entre o Acre e o Amazonas, área de influência da BR-364. Nesses estados, os saltos foram de 273% e 114%, respectivamente. A pecuária é o principal responsável.
O coordenador do programa de monitoramento da Amazônia, Cláudio Almeida, diz que esses números têm de ser vistos com cautela, pois fatores como ocorrência de nuvens e outras variáveis diminuem a precisão do Deter. Feita a ressalva, ele afirma que o salto de quase 50% preocupa. “A literatura mostra que diversos fatores levam a um aumento no desmatamento: especulação imobiliária, expansão da fronteira agropecuária, consolidação de infraestruturas regionais, como estradas e portos, e expectativas de desenvolvimento regional”, diz.
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Esse aumento, porém, não será detectado pela taxa oficial de desmatamento anual deste ano. A tendência é de uma área desmatada ligeiramente maior do que a de 2017. Isso ocorre porque o “ano Prodes”, usado para cálculo oficial, é medido de agosto a julho do ano seguinte. Ou seja, o desmatamento dos últimos três meses só será contabilizado oficialmente em 2019.
Monitoramento de ONG confirma o crescimento do desflorestamento
O monitoramento da ONG Imazon, do Pará, também indica um recente aumento no desmate. Em setembro, o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) registrou um crescimento de 84% em relação ao mesmo período de 2017. “São valores bastante altos comparados com o mesmo período do ano anterior, mas é cedo pra fazer qualquer tipo de inferência sobre os dados”, ressalva Antônio Fonseca, pesquisador do Imazon.
As áreas mais desmatadas, segundo o SAD, são propriedades privadas ou áreas em diversos estágios de posse (58%). Em seguida, aparecem assentamentos de reforma agrária (24%) e unidades de conservação (14%).
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O desmatamento em terras indígenas representa apenas 4% do total. Praticamente metade foi detectada na reserva Apyterewa, no Pará, onde o governo federal não cumpriu uma decisão de 2015 do Supremo Tribunal Federal (STF) determinando a retirada de invasores não indígenas.
De acordo com os pesquisadores do SAD, o ritmo de desmate dos últimos meses só não foi pior por causa das chuvas acima da média do período. Com isso, a ocorrência de focos de incêndio, prática associada ao desmatamento, esteve abaixo da média histórica.
Ibama não se pronuncia sobre os dados de desmatamento
Procurado, o Ibama afirmou que apenas comenta os dados oficiais de desmatamento calculados pelo Prodes.
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