Não foi como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Mas a sessão da Câmara dos Deputados que pode levar o presidente Michel Temer a ser afastado do cargo também tem sido farta em momentos inusitados. Alguns, de bizarrice explícita. OK, faz parte da democracia. Mas não precisava ser assim.
1. O amor é cego
O deputado Wladimir Costa (SD-PA, foto), que tatuou o nome de Temer no corpo, conseguiu chamar a atenção de novo – dentro e fora do plenário. Discursou enfaticamente, até de forma raivosa, para acusar a oposição e defender o presidente. Disse que as pesquisas de opinião mentem. Segundo ele, no Pará mais de 80% das pessoas aprovam o presidente Temer. Também deu entrevista em que falou de sua afeição pelo presidente: “I love you, Temer”, disse estar grafado na polêmica tatuagem. Falou que a próxima será na costela e outra na barriga.
2. Empurrra-empurra
Fora da tribuna, Wladimir Costa provocou os oposicionistas erguendo dois Pixulekos, bonecos de Lula vestido de presidiário. Chegou a bater em alguns deputados da oposição com o Pixuleko.Isso provocou um empurra-empurra no plenário. A confusão só terminou quando oposicionistas conseguiram furar o boneco inflável.
3. A tatuagem oposicionista
A tatuagem de Wladimir Costa não passou batida pela oposição. Virou piada e ganhou nova versão. Virou um “Fora Temer”.
4. Imagem “bonita”
A oposição também armou seu circo no Congresso. Levou dezenas de malas com dinheiro cenográfico, numa alusão aos R$ 500 mil da JBS recebidos por Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer. Durante o empurra-empurra por causa do Pixuleko, opositores jogaram dinheiro cenográfico ao alto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ironizou: “É essa a imagem que achamos ‘bonita’ passar para o Brasil?”.
5. A pilcha e o diabo
O deputado gaúcho Pompeo de Mattos (PDT-RS) também conseguiu chamar a atenção. Pilchado, acusou Temer. E apelou a uma metáfora equina, bem ao estilo gauchesco, para tentar convencer os colegas a votar contra Temer: “Não vendam alma para o diabo, porque o diabo vem buscar. E vem a cavalo”.
6. Concorrendo com Bibi Perigosa
Os deputados falam muito sobre o horário da votação. Alguns criticam o fato de a sessão poder se estender para a noite, insinuando que a votação ocorreria “na calada da noite”. Outros querem mesmo é que a sessão demore para aproveitar um pouquinho do horário nobre da televisão. Se der para ser no hora da novela A Força do Querer, melhor. É que a TV Globo vai transmitir a votação ao vivo e a oposição quer aproveitar a grande audiência do horário para constranger deputados a votarem a favor de Temer. Em tempo, a novela tem feito sucesso ao retratar, com a atriz Juliana Paes, a história de Bibi Perigosa (foto).
7. Sujeira lá e cá
O deputado Laerte Bessa (PR-DF) acusou o PT e o “puxadinho do PT” (partidos de esquerda contrários a Temer) de terem sujado o plenário da Câmara no protesto que fizeram (foto), com faixas pedindo a saída do presidente, já durante a sessão. Os oposicionistas rebateram na hora: “Sujo é o Planalto”. Aliás, durante o protesto, os oposicionistas é que receberam o troco. Eles cantaram: “O povo quer votar: diretas já!”. Em resposta, ouviram: “Lula na cadeia!”
8. Eu estou aqui? Ou não estou?
A estratégia da oposição de tentar não dar quórum para a votação contra Temer criou uma situação inusitada. Um deputado pediu para discursar. Mas, então, questionou a Mesa da Câmara se o discurso dele já contava para marcar presença. Ou seja, ele queria estar presente mas ausente ao mesmo tempo. Outros deputados da oposição também falavam sem registrar presença. Foram acusados pelos governistas de serem “fantasmas”.
9. Temer, o redentor da nação
Faz parte da profissão. Mas o advogado do presidente, Antônio Cláudio Mariz (foto), exagerou em seu discurso de defesa do presidente. Disse que Temer cumpre uma “missão redentora” no país. E afirmou que, se o presidente cometeu um crime, foi o de ter trazido uma série de benefícios ao país. Como se diz no popular: “Menas, Mariz. Menas”.
10. Zzzzzzzzzzzzzz!!!
Enquanto o circo pegava fogo no Congresso, do lado de fora Brasília vivia um dia normal, como se nada estivesse ocorrendo. Não deixa de ser inusitado (talvez bizarro) que uma votação dessas não tenha mobilizado multidões de brasileiros.
Colaboraram: Fernanda Trisotto, Bruna Borges, Evandro Éboli e Flávia Pierry.
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