O PT começa a esboçar um discurso que tem tudo para ganhar força em 2018: eleger um candidato “novo” para a Presidência será um risco muito grande para o país. Em entrevista à rede de comunicação britânica BBC divulgada no último dia 11, a ex-presidente Dilma Rousseff deu o tom: “O novo pode ser um Hitler. Não há garantia [de que não venha a ser]”.
Ela não disse quem seria o “Hitler” brasileiro. Mas tudo indica que o alvo preferencial é o deputado Jair Bolsonaro, que cresceu nas pesquisas de intenção e encostou em Lula. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), eventualmente pode vir a ser atingido, pois também encarnou o “novo” na eleição de 2016.
A declaração de Dilma foi dada após a ex-presidente ser questionada se uma possível candidatura de Lula não seria uma volta ao passado e se o país não precisa de “sangue novo” para resolver seus problemas. “Como sabemos que o Brasil precisa de um novo líder e uma nova mudança? E desde quando o ‘novo’ necessariamente é uma coisa boa? O novo pode ser um Hitler. Não há garantia”, disse Dilma. “Por que as pessoas aprovam Lula [que está em primeiro nas pesquisas eleitorais]? Porque as pessoas viveram melhor durante seu governo.”
O contexto do “novo”
Pesquisas de opinião pública indicam claramente que os eleitores desejam um candidato novo ou de fora da política para votar em 2018. Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas em dezembro do ano passado mostrou que 49% dos brasileiros preferem votar nas próximas eleições em um candidato de fora da política, contra 32% que escolheriam um político de carreira.
Dois meses antes, em outubro de 2016, as eleições municipais já haviam mostrado a força do discurso do “novo” e do candidato de fora da política. A eleição do empresário João Doria (PSDB) para a prefeitura de São Paulo foi o maior exemplo desse fenômeno. Mas não o único. O também empresário Alexandre Kalil (PHS), mais conhecido por ter sido presidente do Clube Atlético Mineiro, elegeu-se prefeito de Belo Horizonte (MG).
O caso de Doria, porém, foi emblemático. Quando a campanha começou, em agosto, ele tinha apenas 5% das intenções de voto – atrás de outros quatro candidatos. Usando justamente o discurso de não ser um político, cresceu e venceu a eleição no primeiro turno, com 53% dos votos válidos.
Especialistas em pesquisas eleitorais costumam dizer que as sondagens realizadas antes da campanha medem mais a lembrança de nomes já conhecidos dos eleitores. Os nomes “novos” sempre tendem a crescer quando os eleitores possam a saber quem eles são. Nesse sentido, as pesquisas que indicam hoje que Lula lidera a corrida presidencial, embora favoráveis ao petista, não são garantia alguma de vitória.
Os alvos: Doria e Bolsonaro?
Doria, embora não tenha anunciado ainda que pretende disputar a Presidência, tem viajado o país em uma clara demonstração de que está em pré-campanha. Além disso, ele é o segundo nome mais lembrado como quem mais representa o “anti-Lula”: 14,5% dos eleitores brasileiros acham que ele é quem mais encarna o perfil do oponente do petista, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas realizado em julho.
O deputado federal Jair Bolsonaro (hoje no PSC, mas que irá ingressar no Patriota, novo nome do PEN) é o principal “anti-Lula” para 32,2% dos eleitores. Bolsonaro não é exatamente “novo” na política. Mas é a primeira vez que vai disputar a Presidência e tende a adotar um discurso de novidade.
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Bolsonaro, por suas posições radicais e militaristas, desde já parece ser o pré-candidato a presidente que será o alvo preferencial da identificação com Hitler patrocinada por petistas, inclusive porque está crescendo nas pesquisas. O deputado passou a ser alvo direto de críticas do PT. Em julho, durante entrevista a um grupo de jornalistas esportivos no programa na internet Sala do Zé, Lula associou Bolsonaro ao “ódio” disseminado pela direita no Brasil.
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