Escolha pessoal do presidente Michel Temer, o delegado da Polícia Federal Fernando Segóvia será o novo titular na linha de comando da PF. A notícia pegou de surpresa os policiais da corporação, em Brasília, que souberam pela imprensa da saída do diretor-geral Leandro Daiello. Não tanto pela mudança em si, especulada há vários meses, mas pela escolha do sucessor. Segóvia não era o favorito nas rodinhas de conversa.
O novo chefe da PF comandará a instituição com o desafio de levar adiante as investigações da Lava Jato, especialmente as referentes a políticos com foro privilegiado que estão no Supremo Tribunal Federal (STF). Delegados ouvidos em off pela Gazeta do Povo avaliaram como “saudável” a troca de comando, porém disseram ter ficado bastante surpresos com a forma como ela foi feita. Afirmaram não terem recebido nem sequer um telefonema a respeito da troca, seja do Ministério da Justiça ou da Presidência da República.
Daiello foi o segundo delegado que mais tempo ficou à frente da Polícia Federal na história e o primeiro desde a redemocratização do país, somando exatos 6 anos e dez meses no comando. Antes dele, Moacyr Coelho foi o chefe da PF por 11 anos, entre 1974 e 1985.
Leia também: Escolha de novo diretor-geral ignora delegada da Lava Jato preferida pela PF
Não é a primeira vez que o Planalto anuncia uma troca de comando de forma inesperada. Foi assim com o ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio, antecessor de Torquato Jardim na pasta. E agora repetiu a fórmula com a direção da Polícia Federal. Na nota oficial emitida pelo próprio Ministério da Justiça, fica clara que a escolha foi do presidente Michel Temer, sem nem sequer passar pelo crivo de Jardim.
O novo diretor da PF desbancou nomes preferidos que circulavam nos bastidores e corredores do Ministério da Justiça e do Palácio do Planalto, como os diretores Rogério Galloro, Luiz Pontel e Roberto Cordeiro. Segóvia é tido por alguns colegas da instituição como uma pessoa diplomática, porém firme nas decisões. Por outro lado, já desperta suspeitas de como conduzirá os trabalhos na PF, uma vez que não guarda vasta experiência na linha de comando de grandes desafios.
A escolha de Segóvia ao mais alto posto da Polícia Federal também surpreendeu seus pares pelo escasso currículo que ele acumulou ao longo de 22 anos de carreira na corporação. Geralmente a indicação do diretor-geral da PF é uma escolha que passa ou pelos superintendentes dos estados de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Minas Gerais ou entre os diretores que compõem o alto escalão da instituição. Segóvia não tem nenhum desses atributos e atualmente integrava a equipe da corregedoria da PF.
Ele foi adido da PF na África do Sul e superintendente regional no Maranhão. Atuou na Boi Barrica, operação que chegou a ser anulada em decisão do Superior Tribunal de Justiça, o que beneficiou diretamente, à época, Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP).
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura