Discreto. Pouco afeito a declarações públicas e entrevistas. E, portanto, imune a polêmicas desnecessárias. Com esse perfil ideal para a preservação da imagem e embalado por circunstâncias que o protegeram, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Leandro Daiello, sobreviveu à pressão contra o avanço da Lava Jato sobre os governos Dilma e Temer graças à percepção popular de que sua demissão significaria ingerência na operação. Agora, ele volta a ser alvo de políticos que querem vê-lo fora da PF. E, para piorar, também enfrenta “fogo amigo” dentro da PF. A pergunta que fica é: Daiello vai resistir?
O novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, nomeado pelo presidente Michel Temer no domingo (28), não garantiu a permanência de Daiello. Disse que “vai avaliar” a possibilidade de mudar o comando da PF. Foi o suficiente para reavivar os temores de interferência nas investigações – já que o próprio Temer é suspeito de ter participado do esquema de corrupção.
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Gravações
Os políticos sempre negam a intenção de barrar a Lava Jato. Mas cada vez mais surgem indicadores de que as declarações públicas deles não condizem com a realidade. As gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS, com o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), mostram que o tucano queria ver Daiello fora da PF e teria pressionado Temer a mudar o comando da polícia.
Em 24 de março, Joesley e Aécio se encontraram. Na conversa, gravada pelo empresário, o tucano afirma que pretendia “apertar de novo” o presidente Temer para “o cara da Polícia Federal (...) cair”.
Pouco depois, Joesley concorda: “Tem que tirar esse cara [Daiello]”. E Aécio reafirma: “Tem que tirar esse cara”. O tucano ainda diz que a Operação Carne Fraca – que teve falhas grosseiras e causou prejuízos econômicos ao país – poderia ser a justificativa a ser apresentada à opinião pública. “Aí vai ter quem vai falar: ‘É por causa da Lava Jato’. [O governo tem de responder:] ‘Não, é por causa da Carne Fraca’”, afirma Aécio.
O mais longevo
O gaúcho Leandro Daiello Coimbra é o diretor-geral da Polícia Federal (PF) que mais tempo ficou no cargo desde a redemocratização do país, em 1985. Assumiu a PF em janeiro de 2011, no início do governo de Dilma Rousseff (PT). Formado em Direito pela PUC-RS, Daiello entrou na polícia em 1995. Antes de chefiar a instituição, era superintendente da Polícia Federal em São Paulo.
Resistência na PF
A situação de Daiello é crítica porque ele também enfrenta a resistência, dentro da própria PF, de uma ala expressiva de delegados que quer vê-lo fora do comando da polícia.
Quando Torquato Jardim foi nomeado ministro da Justiça, a Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) emitiu nota em que demonstra “preocupação” com a “possibilidade de interferências no trabalho realizado pela Polícia Federal”. Em nenhum momento, porém, a nota defende a manutenção de Daiello no cargo. A ADPF pede apenas que seja instituída a autonomia da PF e um mandato para o diretor-geral – antigas reivindicações dos delegados.
Em fevereiro, quando o então ministro da Justiça Alexandre de Moraes foi indicado por Temer para o Supremo Tribunal Federal (STF), a ADFP defendeu publicamente a saída de Daiello. A associação atribuiu ao diretor-geral a responsabilidade pela saída de delegados que participavam da Lava Jato. E dizia haver riscos à continuidade da operação com a permanência dele no comando da PF. Também argumentavam que a gestão de Daiello tem problemas sérios de administração. Em contrapartida, a ADFP entregou a Temer uma lista tríplice de delegados eleitos pelos próprios companheiros para ocupar a chefia da instituição.
Daiello, bem ao seu estilo, não se pronunciou à época. E Temer o manteve no cargo.
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