Diversos membros do Ministério Público Federal e ministros do Supremo Tribunal Federal já afirmaram que mensalão e petrolão são praticamente uma coisa só. E um personagem presente nos dois escândalos é justamente o corretor e doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Se hoje ele é descrito como “o operador de Eduardo Cunha” – ou seja, o responsável por arrecadar, lavar e repassar as propinas ao ex-presidente da Câmara dos Deputados –, em 2005 ele apareceu no mensalão como o operador do Partido Liberal (PL). Segundo o publicitário Marcos Valério, uma empresa de Funaro (mas registrada em nome de laranjas), a Garanhuns, teria servido para que R$ 6,5 milhões do esquema de corrupção chegassem às mãos de Valdemar Costa Neto, então presidente da legenda. Funaro acabou fazendo um acordo de delação premiada e contou o que sabia. Em abril de 2013, a Justiça o inocentou de uma acusação de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, e o condenou por outra acusação de lavagem, mas sem impor pena nenhuma devido à colaboração com as autoridades.
Funaro começou a carreira na corretora Plusinvest, que era de sua família, e conheceu Eduardo Cunha no fim dos anos 90, segundo reportagem da jornalista Malu Gaspar na revista Piauí. Quem os apresentou foi o então presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Albano Reis. Funaro era amigo dos filhos de Reis, e Cunha era suplente de deputado estadual e presidente da Companhia Estadual de Habitação durante o governo de Anthony Garotinho. A relação prosperou: durante as investigações do mensalão, a revista Época descobriu que era Funaro quem pagava o aluguel do flat onde Cunha (que se elegeu deputado federal pela primeira vez em 2002) vivia em Brasília.
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Antes do mensalão, Funaro já tinha sido investigado no escândalo do Banestado, em 2003. Depois do mensalão, e apesar do acordo de delação em que se comprometia a não cometer novos crimes, Funaro seguiu às voltas com a Justiça. Em 2007, foi deflagrada a Operação Themis, destinada a combater um esquema de venda de sentenças judiciais. A delação de Funaro foi o ponto de partida das investigações. No ano seguinte, o corretor foi preso pela Operação Satiagraha, que também levou para a cadeia o banqueiro Daniel Dantas, o doleiro Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Ambas as operações foram posteriormente anuladas pela Justiça. Depois disso, Funaro saiu do noticiário – até reaparecer na Lava Jato.
Em julho de 2016, Funaro foi preso na Operação Sepsis, um desdobramento da Lava Jato. As investigações chegaram a ele graças à colaboração de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Segundo a delação de Cleto, o esquema funcionava em colaboração tripla entre ele, Cunha e Funaro até 2012, quando o doleiro e o executivo brigaram – até ali, Funaro pagava a parte de Cleto nas propinas. Basicamente, as empresas que recebiam recursos do FI-FGTS (um fundo que usa dinheiro do FGTS para investimentos em infraestrutura) pagavam uma propina de 1% sobre o valor investido. Cunha ficava com 80% desse dinheiro, e o restante era dividido entre Cleto e Funaro.
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O vice-presidente da Caixa e o deputado mantinham uma planilha em que registravam que empresas pagaram propina e qual foi a parte de cada envolvido no esquema. Ali, Funaro era descrito como “Maluco” – não sem razão, a julgar pela descrição do próprio Cleto: o operador de Cunha era extremamente agressivo e chegou a ameaçar incendiar a casa de Cleto com os filhos dentro. O empresário Milton Schahin, também investigado na Lava Jato, disse em depoimento que Funaro ameaçou de morte a ele e ao irmão, Salim – a desavença entre eles vem desde 2008 devido ao rompimento de uma barragem construída pela empreiteira dos Schahin, em uma obra contratada por uma empresa que era representada por Funaro.
Funaro está preso na Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, e começou a negociar seu acordo de delação premiada no início deste ano. O acordo foi homologado pelo ministro Edson Fachin em setembro, o que gerou crítica do presidente Michel Temer, por meio de nota. Com a divulgação do conteúdo de seu depoimento à Procuradoria-Geral da República, compreende-se bem o motivo.
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