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 | Ricardo Stuckert
| Foto: Ricardo Stuckert

O ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi teria doado secretamente US$ 1 milhão para a campanha presidencial do petista Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, segundo reportagem da revista Veja. A informação consta na proposta de delação premiada entregue ao Ministério Público Federal pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Naquele ano Lula venceu a disputa no segundo turno, contra José Serra (PSDB).

Palocci teria se comprometido a apresentar provas e mais informações a respeito da operação, como de que maneira o dinheiro foi gasto, se o acordo de fato for assinado com o MPF. Se confirmada a denúncia, a ajuda de Kadafi será mais um fato a revelar a proximidade do ex-presidente brasileiro com ditadores mundo afora, como Fidel Castro (Cuba), Hugo Chávez (Venezuela) e José Eduardo dos Santos (Angola).

Kadafi sempre manteve relação cordial com Lula, sendo chamado pelo petista de “amigo” e “irmão”. Durante seu mandato, Lula se reuniu pessoalmente quatro vezes com o ditador. Kadafi governou a Líbia com mão de ferro por 41 anos até ser capturado e morto em outubro de 2011, em meio a uma revolta que sacudiu o país africano. Em 2009 foram dois encontros. Um deles na Cúpula América do Sul-África, realizada em Isla Margarita, na Venezuela, no dia 26 de setembro.

Na época, houve muitas críticas à aproximação de Lula com Kadafi. Aconselhado por seus assessores mais próximos (o ex-ministro Celso Amorim e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia), Lula dizia que o Brasil não tinha preconceitos e que se tratava de uma diplomacia pragmática.

A fracassada parceria com Chávez

Primeira grande obra da Petrobras a acender o alerta da força tarefa da Lava Jato, a Refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco) deveria ter sido uma parceria entre os governos do Brasil e da Venezuela. A construção foi anunciada em 2005 pela Petrobras, que arcaria com 60% dos custos. A petrolífera venezuelana, a PDVSA, seria responsável pelos outros 40%. A parceria, porém, nunca foi efetivada e o governo da Venezuela não chegou a investir nenhum centavo na obra.

A refinaria, orçada em US$ 2,5 bilhões, acabou custando US$ 19 bilhões e foi alvo de várias recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU), que chegou a sugerir que a obra fosse interrompida.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro no processo do tríplex do Guarujá, Lula falou sobre o caso. O petista contou que decidiu construir a refinaria depois de conversar com o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez. “O que aconteceu era que nem a Petrobras nem a PDVSA queriam. E o que aconteceu é que não aconteceu a tão sonhada parceria. A Petrobras fez sozinha a refinaria”, disse Lula.

Segundo o MPF, parte do dinheiro desviado de Abreu e Lima teria sido destinado a Lula através do tríplex. O ex-presidente foi condenado neste processo a 9 anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O petista recorreu da decisão e aguarda análise do Tribunal Regional Federal da 4.ª região (TRF-4).

Construção de porto em Cuba

A delação de executivos e ex-executivos da Odebrecht, que caiu como uma bomba no meio político no início do ano, ajuda a esclarecer a relação de Lula com outros ditadores. Em seus depoimentos, o empresário Emílio Odebrecht contou aos investigadores da Lava Jato sobre o processo de negociação para que a empreiteira construísse o Porto de Mariel, em Cuba.

Segundo ele, Hugo Chávez foi quem fez o primeiro pedido para que a Odebrecht construísse o porto cubano. Lula também teria feito o mesmo pedido ao patriarca da empresa. Segundo Emílio, o petista teria pressionado o BNDES a liberar o empréstimo para Odebrecht. Ainda segundo o delator, o ex-presidente Lula teria atendendo a um pedido do ditador Fidel Castro.

A versão de Emílio foi corroborada por Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa. Em seus depoimentos da colaboração premiada, Marcelo disse que Lula e o atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), teriam atuado politicamente para viabilizar a obra.

A construção do Porto de Mariel foi orçada em US$ 957 milhões, dos quais US$ 682 milhões saíram do BNDES. Emílio também contou que em uma situação “normal” nem a Odebrecht e muito menos o BNDES teriam tocado o projeto em Cuba. O caso está sendo investigado na Justiça Federal de Brasília.

BNDES em Angola

A colaboração da Odebrecht também apontou que Lula atuou para aumentar a linha de crédito da empreiteira para realização de obras em Angola. O país é comandado há quase 40 anos por José Eduardo dos Santos – reeleito em 2012 depois de uma campanha comandada por João Santana, marqueteiro preso na Lava Jato e que também comandou as campanhas de Lula e Dilma Rousseff, no Brasil.

Segundo Emílio, a negociação começou em 2009 e se concretizou em 2010, aumentando para US$ 1 bilhão a linha de crédito da Odebrecht no BNDES. Em troca, segundo o patriarca da empresa, a Odebrecht pagou R$ 64 milhões em propina. Lula teria indicado o ex-ministro Paulo Bernardo para tratar do assunto.

Os colaboradores da Odebrecht afirmaram, ainda, que a campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT) para o governo do Paraná, em 2014, recebeu parte desses recursos. Teriam sido repassados para a petista R$ 5 milhões por causa do acerto em Angola. Gleisi nega que tenha recebido os recursos.

O ex-presidente é réu em uma ação que o investiga por tráfico de influência em favor da Odebrecht em Angola. Lula foi acusado de atuar junto ao BNDES para a liberação da linha de crédito da construtora no país africano.

Marcelo Odebrecht também contou que a empreiteira contratou no âmbito das obras em Angola financiadas pelo BNDES uma empresa do sobrinho de Lula, Taiguara Rodrigues. O sobrinho do petista teria aberto uma empresa em 2009 para prestar serviços à Odebrecht e chegou a receber R$ 20 milhões até 2015.

“Pacto de sangue”

O ex-ministro Antonio Palocci já foi condenado por Moro a 12 anos de prisão e está preso desde setembro do ano passado. Ele investe contra Lula desde o início das tratativas das negociações do acordo de delação. Em setembro último, ele divulgou uma carta, escrita de próprio punho da cadeia e entregue aos advogados para ser digitada e impressa, de três páginas e meia. Explosivas, as palavras do ex-ministro foram endereçadas à presidente nacional do partido, a senadora Gleisi Hoffmann.

Cirurgicamente montada e retocada, a carta coloca o PT e Lula contra a parede, ao afirmar que seus dois governos e de sua sucessora foram corrompidos pelo “tudo pode” e pelos “petrodólares”. Antes, no dia 6 de setembro, Palocci havia confessado negociar propinas com a Odebrecht e incriminado Lula ao revelar um suposto “pacto de sangue” entre o ex-presidente e Emílio Odebrecht, em 2010, em que foi acertado R$ 300 milhões em corrupção ao PT. Lula sempre negou todas as acusações feitas por Palocci.

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