No mesmo depoimento em que acusou o ex-presidente Lula de comandar o esquema de corrupção na Petrobras, o ex-diretor da estatal Renato Duque sugeriu que a ex-presidente Dilma Rousseff também sabia da existência de desvios na estatal. E que estava preocupada com isso. Duque foi ouvido nesta sexta-feira (5) pelo juiz Sergio Moro em um dos processos da Lava Jato no qual é réu.
A citação a Dilma aparece num trecho do depoimento em que Duque fala de três encontros que teve com Lula nos quais teria ficado evidente, para o ex-diretor, que o petista não apenas sabia, mas comandava o esquema de arrecadação de dinheiro de contratos da Petrobras para o PT.
Encontro num hangar
O encontro em que Dilma foi citada, segundo Duque, ocorreu em 2014 – quando Duque não ocupava mais nenhum cargo na diretoria da Petrobras e a Operação Lava Jato já havia sido deflagrada. A reunião com Lula, segundo ele, ocorreu num hangar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
“[Lula] disse que a então presidente Dilma tinha recebido informação de que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro, numa conta da Suíça, da SBM [empresa holandesa que alugava navios para a Petrobras]”, afirmou Duque no depoimento. “Eu falei [a Lula]: ‘Não, não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí, ele [Lula] vira pra mim e fala assim: ‘E das sondas [de exploração do pré-sal]? Tem alguma coisa [propina]?’. E tinha. Mas eu falei ‘Não, não tem’. Ele falou assim: ‘Presta atenção no que eu vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?’. Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Eu não tinha mais o que fazer. Aí ele (...) disse que ia conversar com a Dilma que ela estava preocupada com esse assunto e ele queria tranquilizá-la.”