Para eleger o filho Eduardo deputado federal em 2014, o pai e experiente parlamentar Jair Bolsonaro teve de se dividir entre sua campanha no Rio de Janeiro e se empenhar pelo filho em São Paulo. Deu certo, mas foi no sufoco. Eduardo Bolsonaro, então do PSC, obteve 82 mil votos e foi o 67º colocado entre os 70 eleitos para representar os paulistas na Câmara. Teve de creditar sua eleição ao bom desempenho do pastor Marco Feliciano, da mesma legenda, e que teve quase 400 mil votos e ajudou a “puxá-lo”.
Quatro anos depois, a história foi outra. No rastro do fenômeno do Bolsonaro presidenciável e com a força das redes sociais, Eduardo foi reeleito com 1,8 milhão de votos, a maior da história para deputado federal, e ajudou a “carregar” nove deputados do PSL no estado.
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Eduardo ascendeu rápido, ganhou protagonismo na transição e passou a incomodar adversários e até aliados do pai. Mesmo sem cargo no futuro governo, tornou-se um interlocutor do pai no Congresso e no exterior.
No périplo que fez aos Estados Unidos na semana passada, Eduardo, atuou abertamente como mensageiro da nova gestão. Reuniu-se com autoridades do Departamento do Estado, da Secretaria do Tesouro, com o genro de Donald Trump, falou para empresários e deu entrevistas, entre outras agendas. Também deu declarações que causaram desconforto à equipe econômica chefiada por Paulo Guedes, como reconhecer que a reforma da Previdência pode não ser aprovada.
No campo da política internacional, disse que o Brasil deixará de ser um país “socialista” e garantiu que a embaixada brasileira em Israel vai se deslocar de Tel Aviv para Jerusalém. Apareceu com um boné de uma campanha antecipada para reeleição de Trump em 2020 e usou camisetas com dizeres do tipo “be nice, don´t be communist” (“seja legal, não seja um comunista”).
O filho do presidente contabilizou cerca de 30 compromissos nos Estados Unidos, com pessoas que “podem ajudar muito o Brasil e pude perceber a animação generalizada das pessoas pelo novo governo que está por vir”, escreveu em suas redes. E rebateu críticas da oposição.
“Aos que fazem críticas descabidas à minha vinda para os EUA: aguardo a mesma energia e enfoque nas atividades dos filhos do Lula.”
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Até agora, Eduardo vinha evitando exposições e declarações sobre a montagem do governo, por exemplo. Em entrevistas, evitava parecer que dava pitacos, mas teve peso na indicação do diplomata Ernesto Araújo para o comando do Itamaraty. Não levou Araújo, porém, na sua viagem ao exterior. Nas suas redes, o futuro chanceler não fez qualquer menção aos encontros do filho do presidente nos Estados Unidos.
Eduardo argumenta que não houve ruídos dentro do governo. Que, se houvesse, seria justamente com o ministro Ernesto, mas que tomou todo cuidado de mantê-lo a par de cada passo da viagem.
“Até pedi a ele para tornar público [nas suas redes] durante a viagem um desses diálogos. Não teve problema algum”, disse Eduardo na noite de terça-feira (4).
Sobre a Previdência, o deputado disse também que as críticas não chegaram a ele.
“Não falei nada demais. Não posso é mentir e dizer que será fácil aprovar a reforma da Previdência”, afirmou o parlamentar.
Um deputado da base de Bolsonaro, que pediu para não ser identificado, afirmou que o filho do presidente eleito se precipitou e não deveria ter dado essa declaração sobre a reforma.
“Estamos nos esforçando para obter o apoio suficiente dentro do Congresso e aprovar a reforma ideal. Era melhorar esperar um pouco antes de dar um prognóstico que ainda não temos”, disse o parlamentar.
A presidente do PT, a senadora e deputada federal eleita Gleisi Hoffmann, ironizou a imagem de Eduardo com o boné pró-Trump.
“Desenhado! Pra completar, só faltou a orelha do Mickey no bonezinho”, escreveu a senadora em suas redes.
Eduardo não teve ter qualquer cargo no futuro governo e talvez nem seja líder do governo ou de seu partido. Não precisa.
“É o cara que toma café todo dia com o presidente. Não precisa dizer mais nada de sua influência”, costuma dizer a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), declarada candidata a líder da legenda.
Da abordagem de jornalistas a parlamentares e outras autoridades e admiradores da família, Eduardo não circula sossegado no Congresso. Sempre correndo, tal como o pai ele evita locais de maior aglomeração e anda pelos corredores laterais e nos cantos, fugindo desse assédio.
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