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 | Divulgação/Range Rover
| Foto: Divulgação/Range Rover

O carro da foto é um Range Rover Vogue SE. Motor 4.4, diesel, 339 cavalos de potência. Vai de zero a cem em 6,9 segundos e, com os devidos cuidados, pode rodar a 218 quilômetros por hora. Atravessa um riacho (ou inundação) com até 90 cm de profundidade.

Não bastassem esses e outros atributos, o Vogue SE passa a contar nesta semana com um novo item de série: combustível subsidiado por todos os contribuintes.

Com a ajuda financeira até de quem não tem carro, seu dono gastará menos para desfrutar as sensações que esse veículo pode proporcionar. Não que ele esteja especialmente preocupado com dinheiro, pois desembolsou R$ 718 mil para comprar o carro, mas supõe-se que a economia será bem-vinda.

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É claro que um preço reduzido artificialmente tem seus inconvenientes. Um deles: pode estimular motoristas a usar sem parcimônia um combustível fóssil, finito e muito poluente – no caso do Vogue SE, mais de um quilo de gás carbônico é lançado à atmosfera a cada cinco quilômetros rodados.

Mas quem disse que o governo tem algo a ver com isso? Ele tem outras preocupações, como encerrar a greve dos caminhoneiros. Foi por isso, aliás, que prometeu reduzir em 46 centavos o preço do litro de diesel, o que custará cerca de R$ 13,5 bilhões até o fim do ano.

Dinheiro sai do lugar de sempre: o seu bolso

O dinheiro virá do Tesouro, essa palavra carinhosa que o governo usa para chamar os pagadores de impostos. Traduzindo: haverá aumento de tributos e corte de gastos. O brasileiro terá de abrir mais a carteira (está sobrando dinheiro, né?), em troca de menos ou piores serviços públicos (estavam indo tão bem). Como disse o ministro da Fazenda, “toda vez que o Estado quer intervir em preços, alguém tem que pagar essa conta”.

O dono do Vogue SE também paga impostos, é óbvio. Em termos absolutos, talvez esteja entre os que mais pagam. Mas não em termos relativos. Porque ele não paga impostos sobre sua renda na mesma proporção que o assalariado que pega ônibus (que deveria ter a passagem barateada após a redução no preço do diesel, mas essa é outra história).

A culpa dessa desproporção é de nosso sistema tributário, mais concentrado em impostos sobre o consumo do que sobre a renda. Exatamente o contrário do que fazem os países desenvolvidos. Aqui, pobres e remediados entregam ao governo uma fração maior de sua renda que os mais ricos. O dono do Vogue SE, por outro lado, se for sócio de empresa, é isento de imposto sobre lucros e dividendos, o que significa que não recolhe tributo algum sobre boa parte de seus ganhos.

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Mas vamos lá. A intenção do governo com o subsídio ao combustível é atender às reivindicações de caminhoneiros e botar o país para funcionar novamente. E nisso o diesel tem papel fundamental.

Numa hora dessas, subsidiar quem não precisa – como os donos de SUVs gigantes, que não se mobilizaram, não deixaram de trabalhar em nome da causa e nem dependem desses carros para sobreviver – é um efeito colateral insignificante perto do benefício que terão caminhoneiros e a população toda.

Mais relevante é o simbolismo desse presente. É uma nova distorção produzida por um governo, uma classe política, um Estado e um país que só conseguem se mover na base do improviso. O problema é o que vem depois. A história (e basta voltar três ou quatro anos) ensina que cedo ou tarde todo preço artificial acaba cobrando seu... preço.

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