Líderes do PT admitiram pela primeira vez, nesta terça-feira (1º), a possibilidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja o candidato do partido na corrida presidencial deste ano. Dois nomes cotados como alternativas do partido à ausência de Lula na corrida eleitoral, os ex-ministros Jaques Wagner e Fernando Haddad, falaram abertamente sobre alianças. Embora o cenário ainda seja incerto, as declarações abrem portas para negociações com nomes como Ciro Gomes (PDT) e Joaquim Barbosa (PSB).
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Ao chegar ao ato pelo Dia do Trabalho em Curitiba, onde Lula está preso, Wagner foi indagado por jornalistas sobre a possibilidade de a sigla aceitar ser vice de Ciro.
“Pode. Sempre defendi que, após 16 anos, estava na hora de ceder a precedência. Sempre achei isso. Não conheço na democracia ninguém que fica 30 anos. Em geral fica 12, 16, 20 anos. Defendi isso quando o Eduardo Campos ainda era vivo. Estou à vontade neste território”, respondeu.
Desde que Lula foi preso, em 7 de abril, o PT vem sustentando um discurso de que ele, mesmo que esteja inelegível pela Lei da Ficha Limpa, é o nome que o partido lançará na disputa pela Presidência da República.
De lá pra cá, Lula autorizou alguns nomes da legenda a darem início a conversas para formação de alianças no pleito de outubro.
Um dos nomes destacados para isso foi o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que esteve com Ciro na semana passada. E, no encontro, aventou à possibilidade de ser vice na chapa pedetista. Hoje, porém, negou que se esteja traçando uma alternativa a Lula. “Seria um desrespeito”, afirmou.
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Apesar desses movimentos, a direção nacional do PT é contra não ter um nome como cabeça de chapa na disputa. Acreditam que isso seria uma demonstração de fragilidade que não pode ser dada no momento em que a sigla vive seu momento mais delicado, com seu maior líder atrás das grades.
Mesmo sem uma definição sobre isso, que só deve ser tomada lá pro fim de julho - os registros de candidaturas na Justiça Eleitoral podem ser feitos até 15 de agosto -, as conversas de bastidor seguem.
E nesse contexto, Jaques Wagner defendeu também uma aproximação com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. “Acho que tem que conversar com todo mundo. Não só pensando na questão eleitoral mas pensando em como retomar um processo de crescimento sustentável com distribuição de renda no Brasil. Então acho que conversar com Ciro, Manuela (D’Avila, do PC do B) e Joaquim (PSB), faz parte da política.”
A candidatura de Barbosa também não conta com 100% de certeza. Mas é a intenção primeira do PSB, para se alçar ao topo da política nacional e aumentar sua participação no Congresso aproveitando o potencial de captação de voto já demonstrada pelo ex-ministro.
“O Ciro eu sei mais ou menos o pensamento, a Manuela eu sei mais ou menos o pensamento, o Joaquim está começando a apresentar o seu pensamento. De todos que falei, Joaquim é o mais outsider. Nunca foi uma pessoa dedicada propriamente à política”, acrescentou Wagner.
Lula foi protagonista de discursos por todo Brasil
O ex-presidente foi o protagonista dos discursos desta terça em todo o país, em diversos palanques. Mas dividiu espaço com críticas à política econômica de Michel Temer, especialmente às reformas Trabalhista e da Previdência.
O discurso governista em prol da Reforma Trabalhista se baseia na geração de empregos. Mas, semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novos dados que mostram um total de 13,7 milhões de pessoas.
Esse número foi repetido à exaustão por líderes da esquerda que subiram em diversos palcos montados pelo país. Sindicalistas disseram que a medida aumentou a insegurança jurídica, não tem gerado empregos e nem modernizado as relações de trabalho.
Embora a prisão de Lula seja um fator diferente deste 1º de maio, a linha mestra dos discursos se manteve. Críticas às reformas do governo Temer já estavam presentes no ano passado. Bem como as manifestações contra a Lava Jato.
À época do 1.º de maio de 2017, Lula estava prestes a depor em Curitiba ao juiz Sérgio Moro. E as militâncias usaram o Dia do Trabalho para fazer convocações em prol do ex-presidente. O mesmo que ocorre este ano.
Imposto sindical também é destaque
Nas críticas à Reforma Trabalhista, ganhou destaque o fim da contribuição sindical.
Há algumas liminares que mantém o imposto, outras que acabaram derrubadas. Com a Reforma Trabalhista sem ter sido votada no Congresso até seu prazo, segue um período de incerteza quanto à fonte de receita das entidades.
Este é o primeiro ano sem a obrigatoriedade de pagamento do imposto. E a diferença nos cofres das entidades de classe pelo país se fez visível hoje. Diversas lideranças sindicais reclamaram e disseram que isso impactou negativamente nos protestos que foram convocados este ano.
Em São Paulo, por exemplo, o palco montado na zona norte da cidade pela Força Sindical foi 20% menor que em 2017. O público também foi menor: de 700 mil pessoas para 500 mil.
Neste ato, para o qual foram convidados vários presidenciáveis, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) subiu ao palco e criticou a reforma trabalhista, que segundo ela tiram direitos e faz com que empregados trabalhem mais. “Este é o 1º de maio sem a CLT como nós a conhecemos”, afirmou a pré-candidata à Presidência em breve discurso, no qual também frisou a necessidade de evitar a votação da Reforma da Previdência.
Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos petistas, também subiu ao palanque em São Paulo. Pré-candidato à presidência pelo Solidariedade, criticou as reformas promovidas pelo governo Michel Temer. “O 1º de maio é mais um dia de protestos que de celebração. gerar emprego é uma obrigação moral, administrativa e política”.
“É preciso que em um país democrático haja equilíbrio entre os desiguais. A reforma trabalhista do governo retirou toda a renda e forma de financiamento dos sindicatos e não mexeu na dos empresários”, defendeu Rebelo.
Aldo e Manuela saíram do evento em São Paulo e seguiram para Curitiba, para o ato em defesa do ex-presidente Lula.
Por lá passaram diversos outros políticos, como a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e o presidente do diretório do PT no Paraná, DR. Rosinha.
Dia do Trabalho: por que comemoramos?
O Dia do Trabalho é comemorado em vários outros países.
O primeiro marco é 1886, quando trabalhadores se reuniram em Chicago, nos Estados Unidos, para pedir redução da jornada de trabalho de 13 para oito horas diárias. Com adesão de milhares de pessoas e greve geral, a manifestação acabou em confronto, mortos e feridos.
Em 1889, a organização de trabalhadores Segunda Internacional Socialista decidiu convocar uma manifestação todos os anos pela jornada de oito horas. Escolheram o dia 1º de maio em homenagem aos trabalhadores de Chicago.
A data se tornou feriado no Brasil em 1924, sob o governo de Artur Bernardes. Mas foi com Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (1937-1940), que o dia começou a ser comemorado de fato.
Vargas começou a anunciar medidas para os trabalhadores sempre nessa data: criação do salário mínimo (1940), da Justiça do Trabalho (1941) e da Consolidação das Leis Trabalhistas (1943).
De uns anos para cá, virou tradição anunciar o aumento do salário mínimo em 1º de maio. Em pronunciamento ontem, o presidente Michel Temer falou do aumento de 5,67% do Bolsa Família e do projeto de reajustar o mínimo para R$ 1002.
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