A comemoração do Dia do Trabalho em 2018 terá um ato inédito. Pela primeira vez desde a redemocratização, as principais centrais sindicais decidiram realizar um evento único para celebrar a data. E será em Curitiba, para exigir a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desde 7 de abril está preso na cidade, “capital” da Operação Lava Jato.
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A ação vai testar a popularidade do petista entre os sindicatos. A carreira política de Lula começou no Sindicato dos Metalúrgicos, no ABC Paulista, ainda na década de 1970. Foi dali que surgiu o nome que viria a formar o Partido dos Trabalhadores (PT) e disputar todas as eleições diretas após o fim do regime militar, até ser eleito em 2002. É inegável que a base sindical fez muito pela carreira política de Lula: foi ali que começou a sua projeção nacional.
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Condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula tem se esforçado para reatar esses laços. A promessa é que todos os presidentes nacionais dessas centrais estarão em Curitiba, juntos por Lula. Resta saber se, na prática, eles realmente vão abandonar suas bases sindicais para vir até a capital paranaense apoiar o ex-presidente.
O ato único foi convocado por CUT, Força Sindical, CTB, NSCT, UGT, CSB e Intersindical. É a CUT a mais alinhada com Lula e o PT – e também a que mais faz questão de ressaltar o aspecto histórico do ato.
“O que unificou CUT, Força Sindical, CTB, NCST, UGT, CSB e Intersindical foi a defesa da liberdade do ex-presidente Lula, mantido como preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba há 20 dias, e a certeza de que eleição de Lula para presidente da República em outubro é a chance que a classe trabalhadora tem de conseguir resgatar direitos perdidos nos últimos anos”, afirma um texto publicado no dia 29 de abril no site da central.
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Nenhuma outra central divulga o ato único com tanto afinco quanto a CUT. Observando as últimas notícias postadas nos sites das centrais, apenas CTB, CSB e Intersindical fazem menção ao ato ou à defesa de Lula. A Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) divulgou uma grande nota falando do evento. “Justiça, sim. Perseguição, não. Liberdade para Lula!”, encerra o texto. A Intersindical postou um grande informativo sobre 1º de Maio e menciona a perseguição a Lula e ao PT. Já a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) disponibilizou até materiais para a categoria imprimir e levar aos atos, ressaltando a ação em Curitiba.
As outras centrais, por sua vez, pouco ou nada falam sobre o ato unificado. A Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) não fez publicações sobre os atos em seu site, mas postou uma nota informando que, devido ao feriado, a central encerraria os trabalhos na sexta-feira (27) e retomaria as atividades apenas na quarta-feira (2).
A União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Força Sindical foram as centrais mais alinhadas ao governo de Michel Temer – qualificado de golpista para baixo por muitas das outras centrais. Foi a elas que o emedebista recorreu para angariar apoio para a aprovação das reformas, embora só tenha conseguido fazer passar a trabalhista. No site da UGT, só há menção aos eventos prévios de 1.º de Maio promovidos pela própria central, em meio a notas sobre integrantes da UGT que assumiram algum tipo de cargo vinculado ao Ministério do Trabalho.
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Terceira maior central do país, a Força Sindical, capitaneada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), aliado de primeira hora de Michel Temer, pouco fala sobre o ato unificado. A central divulga – e muito – as ações que serão realizadas nos estados, com ênfase para a programação musical e o sorteio de prêmios. Em São Paulo, terra de Paulinho, a Força vai levar muitas duplas sertanejas e ainda sorteará 15 carros zero quilômetro.
A única menção que a Força faz ao ato histórico de Curitiba está em um arquivo de PDF, que detalha a programação nos outros estados que não São Paulo. Quando trata da Força Sindical no Paraná, há a observação de que “será unificado com todas as centrais sindicais”. Sem prêmios, sem shows – ainda que o ato unificado tenha uma extensa programação, incluindo atrações musicais.