O PT passou de um estado de euforia na semana anterior para o de apreensão agora com o risco de uma derrota já no primeiro turno. A mudança radical no humor das pesquisas de intenção de voto acendeu um sinal de alerta e obrigou uma mobilização do estafe do partido, mesmo daqueles que concorrem nos estados.
A dois dias da votação de primeiro turno, o tempo é inimigo e a ordem na coligação petista se resume a uma só: levar Fernando Haddad ao segundo turno. "E depois ajustar novamente", sentenciou um cacique do PT. A sigla sofreu alguns reveses nesta semana que abalaram a candidatura presidencial.
Internamente, avalia-se que a divulgação em massa de fake news (notícias falsas) por adversários na internet e no WhatsApp influenciaram bastante.
LEIA TAMBÉM: XP/Ipespe: Bolsonaro lidera com 36% e abre 14 pontos de vantagem sobre Haddad
Já para Lula, que monitora e dirige a campanha mesmo preso em Curitiba, o maior peso veio de declarações recentes do ex-ministro José Dirceu, nome forte do partido. Ao criticar a Lava Jato, o Ministério Público e mencionar o retorno do PT ao poder, Dirceu reacendeu o "medo" da volta petista ao governo em parte da população.
Haddad avançava e vinha encostando no principal adversário Jair Bolsonaro (PSL). A partir das pesquisas de intenção de voto de segunda (1), o cenário virou. O petista desacelerou e o oponente, por sua vez, cresceu com mais força. Isso obrigou a campanha a rever algumas estratégias. Veja abaixo como o PT planeja levar Haddad ao segundo turno:
1) Consolidar a preferência petista
Desde que a substituição oficial da chapa petista foi feita em 11 de setembro, o principal foco da campanha é consolidar a transferência dos votos do ex-presidente Lula para Haddad. E isso foi bem sucedido até agora: Haddad conseguiu herdar muito rapidamente esses votos. Mas até isso começa a dar sinais de fadiga. "A ordem agora é segurar isso até o fim", afirmou uma fonte do partido.
Lula já havia identificado, desde a semana passada, que o PT estava perdendo votos nas periferias das grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador. Na segunda-feira (24), no encontro semanal que tem com Haddad, alertou-o sobre a importância de voltar-se a esse público e retomar a preferência nesses lugares.
LEIA TAMBÉM: Movimento a favor da união de centro com Ciro cresce nas redes
Além disso, mandou que os candidatos ao governo e ao Senado do Nordeste, especialmente, se concentrassem para não perder votos. A região é, de acordo com as pesquisas divulgadas até o momento, a única em que Haddad aparece na frente de Bolsonaro – conforme o Ibope de quarta-feira (3), por exemplo, o petista aparece com 30% de preferência por lá, contra 20% do candidato do PSL.
Diante disso, a campanha de Haddad decidiu muda agenda para barrar o avanço de Bolsonaro no Nordeste. A coligação marcou de última hora uma caminhada do presidenciável em Feira de Santana, a maior cidade do interior da Bahia, para a manhã deste sábado (6), véspera da eleição, ao lado do ex-ministro Jaques Wagner (PT) e do governador Rui Costa (PT), forte candidato a garantir a reeleição ainda no primeiro turno.
2) Avançar em Minas com Dilma
O Sudeste é outra prioridade da campanha petista – e de todas as demais – desde o início. A região concentra os maiores colégios eleitorais do país. Porém, é onde Haddad tem um dos piores desempenhos (14%), ao lado da Região Sul, onde pontua 11% de intenções de voto. Bolsonaro, por outro lado, tem 33% e 37% de preferência nesses locais, respectivamente, de acordo com o Ibope da última quarta.
Derrotado na tentativa de se reeleger prefeito de São Paulo em 2016, Haddad não almeja grandes pontuações por lá. Conta, porém, com aliados no Rio de Janeiro e em Minas Gerais para crescer.
LEIA TAMBÉM: Debate Globo para presidente: veja quem ganhou e quem perdeu
Desde semana passada, quando a se consolidou a realidade de um segundo turno entre o petista e Bolsonaro, o governador mineiro Fernando Pimentel começou a sofrer ainda mais pressão para aumentar a visibilidade de Haddad no estado. Acontece que ele não pontua bem nas pesquisas locais, atrás do tucano Antonio Anastasia (32%) – ele tem 21%, conforme Datafolha divulgado na quinta-feira (5).
A esperança é o fator Dilma Rousseff. A ex-presidente é candidata ao Senado e está na frente na preferência do eleitorado, também de acordo com o Datafolha. Nesta sexta (5), Haddad esteve em Minas ao lado dos dois. Discursou e falou do impeachment sofrido pela petista. Mas não mencionou nenhuma linha sequer sobre o governo que ela fez e a crise moral e econômica que se seguiu. O jogo é mencionar o vitimismo, não os erros do passado.
3) Desconstruir imagem de Bolsonaro
Também na semana passada, o ex-presidente recomendou “ir para cima”, mostrando as fraquezas e contradições do adversário. "O Bolsonaro tem uma série de contradições a serem debatidas e desfiadas ao eleitor. Não é difícil de mostrar. Até sábado, por onde formos, vamos contar para as pessoas que ele não defende a democracia, que ele elogia a ditadura militar, a homofobia, a diferença salarial para homens e mulheres, o fim do 13º. Vai cortar direitos dos trabalhadores. Isso são só alguns exemplos", ilustrou mais um nome do partido.
Claro, eles ponderam que, para todo ataque, há reações. E elas vieram com mais força desde a semana passada. Haddad tem reclamado publicamente, e inclusive entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contra notícias falsas divulgadas, segundo ele, por seguidores de Jair Bolsonaro, a seu respeito, de sua família, e do PT.
LEIA TAMBÉM: Juiz autoriza Azeredo a votar, mesmo preso e condenado como Lula. Por quê?
A primeira vitória contra as fake news veio na noite de quinta-feira (4). O ministro Sérgio Banhos, do TSE, determinou a remoção de falsas notícias disseminadas no Facebook contra o candidato do PT. Uma postagem no Facebook afirmava que Haddad estaria distribuindo mamadeiras em creches com o bico no formato de órgão genital masculino. “O PT e Haddad, Lula, Dilma, só quer isso aqui pros nossos filhos. Isso faz parte do kit gay, invenção de Haddad, viu?”, diz o vídeo.
Para se ter uma ideia do nível das fake news que circulam em redes sociais e grupos de WhatsApp.
Metodologias das pesquisas
*Pesquisa realizada pelo Ibope nos dias 1.º e 2 de outubro com 3.010 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E O ESTADO DE S.PAULO . Registro no TSE: BR-08245/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
** Pesquisa realizada pelo Datafolha de 3/out a 4/out/2018 com 1.470 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO E EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: MG-02076/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
Trump, Milei, Bolsonaro e outros líderes da direita se unem, mas têm perfis distintos
Taxa de desemprego pode diminuir com políticas libertárias de Milei
Governadores e parlamentares criticam decreto de Lula sobre uso da força policial
Justiça suspende resolução pró-aborto e intima Conanda a prestar informações em 10 dias