Até 5 de agosto, quando termina o prazo para a realização das convenções partidárias e oficialização das candidaturas, os políticos ainda vão negociar intensamente a formação de alianças para a sucessão presidencial. Algumas delas, que vêm sendo cogitadas nos bastidores ou publicamente, parecem improváveis pela falta de afinidade ideológica ou pelos interesses divergentes entre os pré-candidatos. Mas, em se tratando de política, nada pode ser completamente descartado.Confira cinco dessas coligações que muita gente pode achar que não sai de jeito nenhum, mas que até podem se concretizar:
1. Ciro Gomes com Lula
Morde e assopra. Assim pode ser definida a relação do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) com o ex-presidente Lula e o PT. Isso fica demonstrado, por um lado, pelo distanciamento entre eles devido à insistência petista em ter o ex-presidente como candidato. Mas a afinidade ideológica, no campo da esquerda, os aproxima.
No atual momento, a relação de Ciro com os petistas pende mais para o “morde”. Ainda assim, não é totalmente impossível que o pedetista esteja junto com o PT na eleição.
Do fim do ano passado para cá, Ciro contrariou o PT em pelo menos três ocasiões: elogiou o agendamento rápido do julgamento de Lula na segunda instância da Lava Jato, negou haver uma “conspiração” contra o ex-presidente, e disse que o petista não é preso político. Por outro lado, o pedetista diz acreditar que Lula é inocente.
No dia em que Lula se entregou para começar a cumprir a pena da Lava Jato, em 7 de abril, Ciro não compareceu ao palanque montado para o ex-presidente discursar em São Bernardo do Campo (SP), antes de ser preso. O gesto pegou mal no PT. Mas, logo depois, o pedetista tentou (sem sucesso) visitar o petista na Polícia Federal de Curitiba, onde o ex-presidente está preso.
Em abril, Ciro se encontrou com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), visto como um dos nomes para ser o plano B do PT se Lula não for candidato. Os dois discutiram uma possível aliança entre partidos de esquerda. Poucos dias depois, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT), outro “plano B” dos petistas na disputa presidencial, disse que seu partido poderia indicar o vice de Ciro.
Mas a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, jogou um balde de água fria em Ciro. Descartou qualquer hipótese de Lula não ser candidato. E disse que “Ciro não passa no PT nem com reza brava”. O candidato do PDT reagiu, e disse ter “pena” de Gleisi.
2. Ciro Gomes com Rodrigo Maia
Ciro Gomes é o candidato a presidente do PDT, um partido de centro-esquerda que faz oposição ao governo Temer. Já disse que pretende revogar “todas as reformas” aprovadas no atual governo. Pré-candidato ao Planalto pelo DEM (partido de centro-direita), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi um aliado de primeira hora de Temer para que o Congresso aprovasse as reformas.
Apesar dessas diferenças ideológicas, nas últimas semanas cresceram os rumores de que os dois estariam negociando uma aliança.
Na segunda-feira (11), Ciro negou que haja discussões dele com o DEM. Mas deixou a porta aberta. “Neste instante, há muito mais fofoca e intriga em cima da fofoca do que realidade. O DEM tem um candidato a presidente da República, e não seria eu a cometer a indelicadeza de passar por cima de uma candidatura. Amanhã, se o Democratas entender que o projeto que eu estou advogando merece uma reflexão, eu reagirei com todo respeito.”
3. Marina Silva com Geraldo Alckmin
Uma aliança entre a ex-senadora Marina Silva (Rede) com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) parece mais uma vontade do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso do que dos dois.
FHC não esconde a descrença de que Alckmin possa se tornar competitivo. E busca articular uma aliança de partidos de centro que, em tese, seria para ter Marina como cabeça de chapa – já que ela é quem está mais bem colocada nas pesquisas.
Mas a insatisfação de parte do tucanato com Alckmin tem irritado o ex-governador paulista, que assegura que vai deslanchar assim que a propaganda eleitoral no rádio e na televisão começar.
Na Rede, partido de Marina, também haveria resistências a uma coligação com o PSDB – partido que foi atingido pela Lava Jato. Um dos principais pontos do discurso da candidata é justamente o combate à corrupção – o que poderia ficar comprometido com uma coligação com os tucanos.
4. Geraldo Alckmin com Alvaro Dias
As articulações do ex-presidente Fernando Henrique também incluem uma possível aliança entre Alckmin e o senador Alvaro Dias, candidato a presidente pelo Podemos.
Alvaro já foi do PSDB e a união entre os dois, portanto, não seria incoerente do ponto de vista ideológico. Mas o senador já deixou claro que não abre mão de ser o cabeça de chapa. “É algo que passa muito longe do meu alambrado”, disse Alvaro, em março, sobre a possibilidade de ser vice de Alckmin.
5. Alvaro Dias com Rodrigo Maia ou Flávio Rocha
O senador Alvaro Dias (Podemos) começou a negociar em maio uma possível aliança com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pré-candidato ao Planalto pelo DEM. Nas conversas iniciais, a ideia dos dois seria isolar o PSDB e o MDB e consolidar uma candidatura alternativa de partidos mais ao centro do espectro político.
Maia, contudo, estaria ao mesmo tempo se aproximando da esquerda, discutindo aliança com Ciro Gomes – hoje um candidato mais bem colocado nas pesquisas do que Alvaro.
Paralelamente, Alvaro abriu negociações com o empresário Flávio Rocha, pré-candidato a presidente pelo PRB. O problema é que Rocha acredita que a aliança entre eles também teria de envolver o PSDB e o MDB – exatamente o contrário Alvaro diz querer (ao menos nas negociações com Rodrigo Maia).
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