Na reta final do primeiro turno das eleições, aliados de Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República, continuam dando declarações que colocam em xeque a democracia e acirram ainda mais o clima de polarização do país. As mais recentes foram do ex-ministro José Dirceu, que defendeu tirar os “poderes” do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Ministério Público (MP) e afirmou ser questão de tempo para o PT “tomar o poder”, o que seria diferente de “ganhar uma eleição”. Ele é o “homem forte” dos governos Lula e está atuando na campanha de Haddad, apesar de ter sido repreendido por dirigentes do partido por suas declarações polêmicas.
Antes, o próprio Dirceu falou em “cerco ao Congresso”. Outros figurões do partido, como Gleisi Hoffmann e Gilberto Carvalho, pregaram, respectivamente, luta armada para evitar a prisão do ex-presidente Lula e um “levante popular” para soltá-lo, agora que ele está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
As declarações se dão durante um ano eleitoral em que o clima de polarização política está bastante acirrado. Desta vez, entre antipetistas e aqueles que não querem o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) na Presidência. Segundo pesquisa Ibope* divulgada na última segunda-feira ( 24), três em cada dez brasileiros declaram que não votam no PT de jeito nenhum. Dentre eles, 59% afirmam que vão votar em Bolsonaro.
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Por outro lado, representantes do PT têm dito que a condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso triplex, no âmbito da Operação Lava Jato, é injusta e trata-se de perseguição política. Eles queriam que o ex-presidente pudesse concorrer nestas eleições, o que não aconteceu devido à Lei da Ficha Limpa. Eles também questionam o impeachment sofrido por Dilma Rousseff em 2016, classificado como “golpe”.
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Dirceu: ataques ao MP e à Lava Jato
Na mais recente declaração do ex-ministro José Dirceu, ele atacou o Ministério Público e a Operação Lava Jato. A entrevista foi dada ao portal AZ, de Teresina (PI), no último sábado (29). O petista está percorrendo o país para divulgar o seu livro recém-lançado, “Zé Dirceu – Memórias volume 1”.
Dirceu disse que a Lava Jato foi um dos maiores erros do país e defendeu tirar os poderes de investigação do Ministério Público, instituição independente e com função definida pela Constituição Federal. “A Lava Jato se transformou num dos maiores erros do país, num balanço isso vai ficar claro. Todos os empresários fizeram delação e ficaram com seus bens. Todas as empresas quebraram, ou estão inabilitadas, ou praticamente paralisadas”.
“O Ministério Público não pode investigar. Ele acusa. Quem investiga é a Polícia Federal e a Polícia Civil. Quem decidiu isso? A Constituinte. Eles perderam essa votação na Constituinte”, afirmou o líder petista.
Dirceu foi condenado a 30 anos e 9 meses de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região por crimes investigados pela própria Lava Jato. Ele estava detido no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas foi solto por decisão da Segunda Turma do STF em junho e pode aguardar em liberdade enquanto recorre.
Dirceu: tirar os poderes do Supremo
Em entrevista ao jornalista Oscar de Barros, do portal 180graus, na última sexta-feira (28), José Dirceu também defendeu tirar os poderes do STF.
“Devia tirar todos os poderes do Supremo e ser só Corte Constitucional. O Judiciário não é um poder da República. Nossa Constituição estabeleceu três poderes, mas só existem dois poderes – os eleitos, que têm soberania popular, do Legislativo e do Executivo. (...) Quando um ministro do Supremo Tribunal Federal advoga para si mudar decreto presidencial sobre indulto, que é exclusiva competência do presidente, estamos caminhando para uma ditadura da toga.”
Dirceu: questão de tempo para tomar o poder
Em entrevista ao El País, publicada na quarta-feira (26), o ex-ministro José Dirceu afirmou que é questão de tempo para o PT tomar o poder. A frase foi dita após ele ser questionado sobre a possibilidade de o partido ganhar a eleição e “não levar”, devido à oposição que pode vir a enfrentar no Congresso.
“Acho improvável que o Brasil caminhará para um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser aceito. E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, respondeu. Ele concedia uma entrevista sobre o seu livro recém-lançado.
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No domingo (30), em São Luis, Dirceu disse que usou uma “expressão infeliz. “Porque dá condições para se explorar como se eu tivesse falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra coisa que é tomar o poder. Eu estava respondendo no caso de um golpe”, afirmou em evento, segundo o Estadão, ao comentar a fala.
Dirceu, de novo: cerco ao Congresso
Em 29 de agosto, a Folha de São Paulo divulgou uma matéria em que José Dirceu afirmou que o PT vai pressionar para implementar um “programa radical”, caso o partido volte ao poder, o que vai incluir um cerco da militância petista ao Congresso.
“Temos um programa radical e a maioria no Parlamento precisa ser combinada com uma grande pressão popular”, disse. “Que não nos critiquem por pressão popular, por cercar o Congresso Nacional com manifestações, porque foi isso que fizeram conosco no governo de Dilma”, completou.
Gilberto Carvalho: levante popular para soltar Lula
Outro nome forte do PT, Gilberto Carvalho – ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência durante os dois governos Lula e ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República durante o primeiro mandato de Dilma – falou que só um “levante popular” pode tirar Lula da cadeia.
Em entrevista ao site Brasil de Fato, em julho, o petista deu a seguinte declaração: “Só há uma forma de tirá-lo da cadeia: um levante popular, uma mobilização muito forte, uma radicalização do processo, seja de que forma for, que faça com que eles sintam que está ameaçada a estabilidade do país, e aí, por uma razão de força maior, libertem o Lula”.
A frase foi dita após ser questionado sobre qual seria a sua convicção em relação à possibilidade de Lula ser candidato nas eleições deste ano. Ele afirmou, também, que o partido faria de tudo para “transformar no mais alto custo possível essa tentativa deles (a Justiça) de impedirem a candidatura do ex-presidente Lula”. Lula está preso desde abril em Curitiba e, em 1.º de setembro, teve a sua candidatura ao Planalto barrada pela Justiça Eleitoral.
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Gleisi: luta armada
Presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann sugeriu, antes da prisão de Lula, luta armada para impedir que levassem o ex-presidente preso. Em entrevista ao site Poder360 em 15 de janeiro, afirmou: “Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar”.
Depois, com a repercussão negativa sobre a declaração, usou a sua conta no Twitter para dar explicações. Disse que usou uma “força de expressão”. “Na minha fala ao site Poder 360, usei uma força de expressão p/dizer o quanto Lula é amado pelo povo brasileiro. É o maior líder popular do país e está sendo vítima de injustiças q atingem quem o admira. Como não se revoltar c/condenação s/provas? Política e injusta”, escreveu.
Rui Falcão: prisão não será a “frio”
O ex-presidente do PT Rui Falcão deu uma entrevista ao site Brasil247 e afirmou que acreditava que a prisão de Lula não ocorreria “a frio”: “Eu acho que se resolverem prendê-lo, não será uma prisão a frio”. Falcão completou: “Nós não temos nenhuma tradição de violência, todas as nossas manifestações têm sido pacíficas, bem organizadas. Agora é uma violência incomensurável prender o Lula”. As declarações foram feitas antes da prisão. Ele disse, ainda, que o PT queria Lula candidato em qualquer hipótese, mesmo preso. A entrevista foi gravada em vídeo e divulgada em 11 de março.
*Pesquisa Ibope feita entre os dias 22 e 23 de setembro. Foram entrevistadas 2.506 pessoas em 178 municípios brasileiros. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela TV Globo. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi feito sob o protocolo BR-06630/2018.
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