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 | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Mesmo com o prazo para o registro de candidaturas cada vez mais próximo, o PT continua insistindo na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se recusa a falar em plano B para a eleição presidencial. O partido vai realizar a convenção no dia 4 de agosto e garante que irá registrar a candidatura de Lula no dia 15 – prazo final estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o registro de candidaturas para o pleito.

A estratégia leva em conta uma série de variáveis e pode incendiar o país. Lula está preso desde abril, em Curitiba e, desde janeiro, está inelegível pela Lei Ficha Limpa, que determina que candidatos condenados por um tribunal colegiado não podem concorrer nas eleições.

1) Partido tenta reescrever a história

Deixando a figura de Lula um pouco de lado, a estratégia de mantê-lo candidato é uma tentativa de o PT, como partido político, tentar uma remissão nas urnas e reescrever a história. Desde o primeiro governo Lula, o partido se vê envolvido em escândalos de corrupção, como o mensalão e a Lava Jato, que culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

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“A estratégia do PT é um olhar para o passado, tentando fazer uma redenção histórica, tentando dizer que tudo o que aconteceu foi um golpe. Ele está tentando fazer um revisionismo ou até manipular a interpretação histórica do que aconteceu nos últimos 5 anos”, analisa o cientista político da PUC-PR, Masimo Della Justina.

Com o ex-presidente na cabeça de chapa do PT, o partido tenta dar força ao discurso de perseguição política e ao resgate histórico das conquistas da era Lula, em um momento de profunda crise política e econômica para o país.

2) Não há lideranças capazes de substituir Lula no partido

A estratégia de defender a candidatura de Lula com unhas e dentes também é reflexo de outro problema dentro do partido: a falta de lideranças de peso capazes de ocupar uma eventual lacuna deixada pelo ex-presidente. “O problema é que o partido não tem alternativa”, diz Justina. “Um partido que durante 30 anos só tem um candidato entre seus membros é um partido que tem problemas”, completa.

Para o cientista político, o PT olha demais para o passado e esquece de olhar para o futuro. Isso causa um desgaste, segundo o especialista, para a imagem do partido, que precisa se firmar na candidatura de um candidato preso e inelegível.

3) PT tenta embaralhar o cenário eleitoral

Para o cientista político Márcio Coimbra, a estratégia de fundo do PT de manter Lula no páreo pode ser embaralhar as eleições. “Mesmo não concorrendo, ele pode estar na urna. Se ele tiver uma votação grande, o PT vai dizer que o povo decidiu pelo voto no Lula”, destaca.

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Mesmo com Lula inelegível, o partido pode registrar a candidatura no dia 15 de agosto. O petista pode fazer campanha enquanto o caso estiver sendo avaliado pela Justiça e enquanto puder entrar com recursos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Isso quer dizer que, mesmo inelegível, Lula pode concorrer – e eventualmente passar para o segundo turno. “Essa estratégia mantém a candidatura dele viva e embaralha o processo político”, diz Coimbra.

Lideranças do PT acreditam, ainda, que a Justiça Eleitoral não vai conseguir dar uma resposta rápida para o caso de Lula. A defesa deve levar os recursos até o limite e fala-se, internamente, que o TSE pode julgar o caso do petista apenas em dezembro – depois das eleições, portanto. Nesse cenário, se Lula tiver sido eleito, a eleição é anulada e uma nova disputa terá que ser convocada. O país começaria o ano sem um presidente definido.

4) Manter Lula na disputa pode dar fôlego eleitoral a um eventual plano B

O prazo para substituição de candidatura é dia 17 de setembro. Até lá, se os prazos de defesa do TSE forem rigorosamente cumpridos – o que não é a aposta do partido –, o PT já vai ter nas mãos o resultado do julgamento sobre o deferimento ou não da candidatura de Lula. Embora ainda seja possível recorrer ao STF, o partido pode optar por trocar o candidato. O mais cotado para assumir a vaga é o ex-prefeito de São Paulo e coordenador da campanha do PT, Fernando Haddad.

Uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Polícias e Econômicas (Ipespe) mostra que Haddad oscila de 2% para 12% em intenções de voto se concorrer com o carimbo de Lula, ou seja, se o ex-presidente declarar que Haddad é o candidato dele à Presidência.

5) PT tenta manter relevância política

Por trás da estratégia de manter Lula candidato também está o interesse do PT em não perder relevância política, além de se preparar para as eleições municipais. Coimbra destaca que o partido ainda tem muita força na maioria dos estados do Nordeste, como Bahia, Alagoas, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Maranhão, onde o PT tem apoios importantes e eleições para o governo do estado praticamente garantidas.

Além disso, Coimbra ressalta que o partido sempre garante uma reserva de votos no Rio Grande do Sul e, em Minas Gerais, a candidatura de Fernando Pimentel (PT), mesmo que não acabe com a vitória do petista, pode rachar o estado ao meio em uma disputa PT versus PSDB. “Se colocar tudo isso na soma, mais militância, mais candidatos a governador, isso joga o candidato do PT no segundo turno”, diz o cientista político. “As pessoas estão subestimando o PT nessas eleições”, completa.

6) Equipe jurídica ainda pode tentar rever inelegibilidade

Apesar de Lula estar inelegível pela Lei da Ficha Limpa, o advogado eleitoral Luiz Fernando Casagrande Pereira, responsável pela defesa do ex-presidente na esfera eleitoral, acredita que a Justiça ainda pode rever a inelegibilidade.

“Se tiver alguma perspectiva de êxito [nos recursos], a lei diz que é melhor suspender a inelegibilidade. Se você não suspende a inelegibilidade e depois o recurso é provido, não tem como fazer nova eleição”, defendeu o advogado em uma entrevista recente ao jornal O Estado de S. Paulo.

Pereira aposta na jurisprudência do TSE para manter a candidatura do petista. “E é esse cenário que dá ao ex-presidente Lula o direito de disputar a candidatura, não por chicana como muitos dizem, mas porque ele tem a perspectiva de reverter a inelegibilidade, porque basta que o recurso dele seja plausível e essa plausibilidade ainda não foi examinada nem pelo STJ, nem pelo Supremo”, ressaltou.

7) Eleições municipais

Para Justina, a estratégia mais acertada para o partido seria totalmente diferente da discutida até agora. “Eles ainda têm mais uma chance para manter o partido alto na memória da população, que é não lançar nenhum candidato”, aposta o cientista político. “Seria um sinal de maturidade, humildade e sabedoria política a longo prazo”, esclarece.

Para ele, é mais importante que o partido se reorganize e comece a pensar nas eleições municipais de 2020. Isso porque, ao eleger um bom número de prefeitos pelo Brasil, a legenda pode garantir mais cabos eleitorais espalhados pelo país para as próximas eleições presidenciais, em 2022.

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