| Foto: Beto Barata/Beto Barata/Agência Senado

Era 25 de novembro de 2015 quando o país acordou com a notícia de que o então líder do governo Dilma Rousseff no Senado, Delcídio Amaral (então no PT), havia sido preso em uma nova fase da operação Lava Jato. Ele foi alvo de uma gravação feita pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, em que discutia um plano de fuga para o ex-diretor e o pagamento de uma mesada para que ele não fizesse delação premiada.

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Três anos mais tarde, depois de ser cassado pelos colegas e fechar um acordo de colaboração premiada que foi questionado pelo Ministério Público, Delcídio quer voltar a ser senador. Agora filiado ao PTC, Delcídio registrou sua candidatura ao Senado pelo Mato Grosso do Sul na última segunda-feira (17).

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Ele vai substituir César Nicolatti (PTC), que desistiu da candidatura e vai concorrer a um mandato de deputado estadual. Por ter sido cassado pelos colegas, Delcídio está inelegível, mas garante que vai brigar na Justiça pela sua candidatura.

Histórico

Delcídio foi o primeiro senador preso no exercício do mandato desde a redemocratização, em 1985. A prisão preventiva foi determinada pelo ministro Teori Zavascki, relator à época da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) e que morreu em janeiro de 2017 após a queda de um avião em Paraty (RJ).

O senador petista havia caído em uma gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró. Nela, o senador apresentava um plano de fuga ao ex-diretor da Petrobras para a Espanha, via Paraguai, e prometia o pagamento de uma mesada de R$ 50 mil para que Cerveró não fizesse acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

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A decisão de Teori atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusou Delcídio de integrar organização criminosa. Fazer parte dessa organização, na visão dos procuradores, configurava a prática de um crime permanente, ou seja, em contínuo estado de flagrante delito, única condição prevista na Constituição que justifica a prisão de um parlamentar.

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Por estar no exercício do mandato, a prisão de Delcídio precisou de autorização do Senado Federal. O plenário da Casa aprovou a manutenção da prisão preventiva decretada pelo STF no mesmo dia da deflagração da operação e iniciou um processo disciplinar contra ele.

Como resultado, Delcídio foi cassado pelos colegas em maio de 2016, com 74 votos a favor da cassação e uma abstenção. Com a decisão, ele perdeu os direitos políticos por oito anos.

Logo depois de ser cassado, Delcídio concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva. Durante sua participação, chorou ao falar da família e pediu desculpas à população por ter cometido o crime de obstrução da Justiça.

Delação do “profeta do caos”

Meses após a prisão, em fevereiro de 2016, o ex-senador decidiu colaborar com as investigações, se autointitulando um “profeta do caos”. Delcidio deu detalhes do esquema de corrupção na Petrobras e em outras empresas públicas, envolvendo nomes de políticos, e descreveu uma suposta tentativa da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Lula de interferir na operação Lava Jato. Por ter firmado a delação, Delcídio deixou a prisão e voltou para o Senado, até ser cassado pelos colegas.

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Quebra do acordo

Em setembro do ano passado, o MPF pediu para que Delcídio perca os benefícios obtidos a partir da delação premiada por ter mentido no acordo. De acordo com o procurador Ivan Cláudio Marx, as provas coletadas mostraram que Delcídio tinha motivos para tentar evitar que Cerveró firmasse o acordo de colaboração premiada. O principal deles era impedir a revelação de que ele (Delcídio) recebeu R$ 4 milhões da construtora UTC, como propina, e que o dinheiro foi usado em caixa 2 em sua campanha ao governo do estado do Mato Grosso.

Delcídio foi absolvido pela Justiça Federal de Brasília, junto com o ex-presidente Lula, no processo em que era acusado de obstrução de Justiça no caso da gravação feita pelo filho de Cerveró.

O ex-senador ainda responde a um processo em Curitiba, conduzido pelo juiz federal Sergio Moro. A ação penal envolve Delcidio e outras nove pessoas, acusados de corrupção e lavagem de US$ 17 milhões na aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.