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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Com Jair Bolsonaro (PSL) liderando as pesquisas para presidente, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) passaram a tentar emplacar um discurso anti-Bolsonaro, de olho em uma vaga no segundo turno das eleições. O deputado federal e capitão da reserva tem se consolidado no primeiro lugar na preferência do eleitor e, por isso, atrai cada vez mais as críticas dos adversários. A estratégia de antagonizar com Jair Bolsonaro, porém, pode virar um tiro no pé, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Na tentativa de se tornar a alternativa da esquerda à candidatura de extrema direita do PSL, Ciro Gomes partiu para o ataque nesta semana. Em sabatina realizada pelo jornal Correio Braziliense, o pedetista não poupou ataques e chamou Bolsonaro de “tresloucado, boçal e despreparado”. O ex-governador do Ceará também disse que o capitão da reserva é um “câncer” que deve ser “extirpado” pelos eleitores “enquanto ele ainda tem condição de ser extirpado”.

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Candidato que tenta se inserir no espectro da centro direita, Geraldo Alckmin também aposta em uma campanha de desconstrução de Bolsonaro. O tucano chegou a desafiar o deputado a debater o tema da segurança pública. O ex-governador de São Paulo tenta trazer para si a bandeira prioritária de Bolsonaro.

Nas redes sociais, Alckmin disse que não conhece as propostas do concorrente para a área, mas o convidou para debater o tema. Ele também criticou o oponente por não ter participado da sabatina promovida por Folha de S. Paulo, UOL e SBT.

“Bolsonaro foge dos debates porque não tem o que dizer. Fugiu também da sabatina da Folha. Convido a imprensa a procurar propostas sobre segurança pública em seu site. Nada até agora. Me acusa de ser o “santo” quando sabe que se trata de fake news. Covardia, leviandade ou os dois?”, disse o tucano no Twitter. A menção a “santo” feita por Alckmin se refere à acusação de que ele teria esse apelido na planilha de propinas da Odebrecht.

O PSDB pegou carona no comentário e fez uma postagem repercutindo o convite. “será que ele vai aceitar ou vai correr?”, questionou o partido no Twitter. O tucano tenta recuperar parte do eleitorado tradicional do PSDB, que parece estar se voltando cada vez mais para a pré-campanha de Bolsonaro.

Resposta e tréplica

Bolsonaro reagiu ao desafio proposto por Alckmin com outra provocação. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o deputado fez pouco caso do tucano e disse “não ter tempo a perder” com ele. E ainda ironizou a colocação de Alckmin nas pesquisas de intenção de voto realizadas até aqui. “Não tenho tempo para perder com Alckmin. Quando ele tiver na minha frente em São Paulo, ou atingir dois dígitos, ele liga para mim”, disse.

Assim como faz quando o assunto é economia, Bolsonaro elegeu um porta-voz para falar em seu nome sobre segurança pública. “Se ele [Alckmin] aceitar, o Major Olímpio, que é policial militar, está a sua disposição”, sugeriu. Major Olímpio é deputado federal e presidente do PSL em São Paulo.

O candidato tucano retrucou em entrevista à Folha de S. Paulo e afirmou que Bolsonaro age com arrogância. “Ele está de salto alto, está arrogante. Eu vou com as sandálias da humildade”. Alckmin chamou o adversário de ‘candidato da bala’.

“Eu fico horrorizado com o candidato da bala. Você não vai gerar emprego à bala. Ninguém vai fazer UTIs, creches paras as mamãezinhas à bala”, afirmou o tucano, classificando o oponente como “candidato do atraso”.

Polarização como estratégia

A estratégia da polarização não é novidade nas eleições brasileiras. Em 2014, o tucano Aécio Neves chegou ao segundo turno contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) apostando na polarização entre PT e PSDB. O próprio Bolsonaro, no início de sua pré-campanha à presidência, se posicionou como o candidato anti-Lula para crescer.

A estratégia de Alckmin e Ciro, porém, pode acabar virando um tiro no pé e provocar um crescimento ainda maior de Bolsonaro. “Quando a política tradicional ataca o Bolsonaro ou quer antagonizar com o Bolsonaro, na realidade estão dando combustível a ele”, diz o cientista político Marcio Coimbra. Para o analista, a estratégia de antagonizar com o deputado está errada e só colabora para o seu crescimento. “O sentimento anti-Bolsonaro fortalece o sentimento pró-Bolsonaro em outra parte do eleitorado”, ressalta.

Cientista político da PUC-PR, Masimo Della Justina ressalta que a campanha política tem dois objetivos. O primeiro, segundo ele, é a construção da própria imagem – que deve ser a prioridade dos candidatos – e o segundo é a desconstrução dos adversários. “Eu recomendaria que ao invés de ser o anti-Bolsonaro, ser a favor de si próprio”, diz.

O próprio Bolsonaro parece entender que a estratégia dos oponentes o beneficia. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ao comentar sobre os ataques, disse que “o patinho feio tá ficando bonito”. “Eles estão desesperados, coitados”, afirmou.

Os dois analistas concordam que, no caso de Bolsonaro, quanto mais os oponentes tentam antagonizar, mais forte fica sua pré-candidatura. “Psicologicamente falando, quando você fala do oponente você está anunciando, está lembrando todo mundo que ele está aí e faz as pessoas pensarem”, explica Justina. “Se o eleitor achar dois ou três pontos que ele se identifica com aquele que é combatido, mas não encontra nenhum ponto que seja semelhante a vontade dele naquele que está tentando desconstruir a imagem do oponente, ele acaba votando naquele que o outro quer desconstruir”, completa.

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