Adélio Bispo de Oliveira , o homem que esfaqueou o deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), queria concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014. Contudo, sua candidatura foi vetada pelo partido em que era filiado, o Psol. Ele chegou a escrever projetos de lei e textos sobre a situação brasileira. A descoberta dos textos foi da Polícia Federal (PF), ao vasculhar arquivos do computador de Adélio.
Aos investigadores Adélio disse ser ele o pai do Ministério da Segurança Pública, criado este ano pelo governo de Michel Temer (MDB), e reclamou ter sido plagiado.
O algoz de Bolsonaro chegou a procurar no Congresso parlamentares que estivessem dispostos a encampar as propostas que rascunhava. Uma visita feita por ele ao prédio do Legislativo em Brasília, em 2013, foi confirmada pela PF.
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As investigações, ainda em curso, estão divididas em duas. Uma trata do ataque em si e deve ser concluída até o fim desta semana. A outra, instaurada na terça (25), vai buscar possíveis coautores. Imagens do local do crime, obtidas nas redes sociais e no comércio de Juiz de Fora, além de dados recolhidos em uma lan house frequentada por Adélio, estão sendo periciadas.
Por ora, no entanto, não foram encontradas evidências de trama política, arquitetada por um terceiro que tenha financiado ou incentivado o ataque ao candidato do PSL --a hipótese foi alimentada nas redes sociais e pelo presidenciável. Os indícios são de que ele agiu sozinho, talvez fora de juízo perfeito.
Militante de esquerda e frequentador de igreja evangélica, Adélio afirmou ter praticado o atentado a mando de Deus e por se sentir ameaçado pelos discursos do candidato. Alegava-se perseguido por grupos como a maçonaria.
No Facebook, disse que combatê-la seria a chave “para barrar o alto índice de assassinatos não só em Montes Claros [sua cidade de origem, em MG], mas no Brasil e no mundo”.
Insanidade
Há quatro anos, quando esteve em Montes Claros, parentes recomendaram que Adélio fosse a um médico por causa do comportamento estranho. Falava sozinho, trancava-se no quarto e demonstrava agitação. Mas Tuca, como era chamado pelos mais próximos, declinou.
“Que Deus é esse que ele serve que ‘manda’ ele endoidar? Tenho certeza de que, quando o delegado olhou para ele, percebeu que ele surtou”, afirma a servente Maria Inês Dias Fernandes, 48, casada com o irmão do agressor, ao comentar a atitude do cunhado.
A tese de insanidade mental tem sido levantada pela defesa. O advogado de Adélio, Zanone Manoel de Oliveira Júnior, pediu que seu cliente, atualmente preso, fosse submetido a exames psiquiátricos, o que foi deferido pela Justiça.
A avaliação está sendo feita pelo psiquiatra Hewdy Lobo, contratado pelo defensor. Se o laudo indicar algum tipo de doença ou transtorno, abre-se caminho para perícia judicial.
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Por lei, o esfaqueador se livra da pena caso se confirme que era inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito do ato que praticou; ou pode tê-la reduzida em até dois terços, caso fique demonstrado entendimento parcial sobre o crime.
Adélio já foi examinado na prisão pelo psiquiatra, que deve entregar seu parecer até sexta (28). Também teve uma consulta com um médico da mesma especialidade, do próprio sistema prisional, que lhe prescreveu um medicamento. O paciente, no entanto, se recusou a tomá-lo.
Para investigadores, o comportamento do algoz de Bolsonaro indica não só premeditação, mas que ele tinha, sim, consciência de que praticaria um crime, pois, no meio da multidão, disfarçou a faca e o propósito de atacar.
Às 14h daquele 6 de setembro, Adélio já estava à espreita no parque Halfeld, em Juiz de Fora, próximo ao ponto de concentração do ato marcado pelo candidato. O deputado só chegaria uma hora e 15 minutos depois. Adélio se aproximou do presidenciável entoando as mesmas frases de seus apoiadores. Levava a faca escondida num jornal.
Ele tinha a arma do crime consigo havia meses. Comprou um jogo com duas facas e optou pela maior, de 20 centímetros. A decisão de atacar o candidato foi tomada três dias antes, ao ver um outdoor sobre o evento, segundo contou a policiais.
Em julho, o agressor esteve na mesma escola de tiro frequentada pelos filhos do presidenciável, em Santa Catarina --com os quais, no entanto, não cruzou. Justificou à PF que pretendia comprar uma arma de fogo, mas não indicou o propósito.
Família
Filho de um gari com uma varredora de rua já mortos, Adélio é descrito por familiares como solitário e errante. Saiu pela primeira vez de casa, em Montes Claros, aos 17 anos, em busca de trabalho. Passava anos sem dar notícias e, quando aparecia, não fazia muitos comentários de si ou de relacionamentos.
“Ele falava que não ia colocar filho no mundo para não sofrer. Namorada dele, sempre foi para fora [de casa]”, diz a sobrinha, Jussara Ramos, 31.
Andarilho, o agressor de Bolsonaro morou em bairros pobres de algumas cidades brasileiras, como Uberaba, Florianópolis, Joinville e Curitiba, nas quais desempenhou inúmeros serviços, quase sempre de curta duração, em obras, drogaria, iate clube, supermercado e restaurante.
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A habilidade com facas teria vindo de trabalhos como açougueiro e sushiman - era exímio cortador de carnes.
A chegada em Juiz de Fora, 15 dias antes do crime, foi também em busca de emprego. Investigadores constataram que Adélio fez telefonemas para departamentos de recursos humanos de algumas empresas, procurando vagas.
O algoz de Bolsonaro está isolado na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS). Não tem direito a banho de sol e só pode receber advogados.
Entre outros mistérios sobre o crime que cometeu, permanece a identidade de quem patrocina uma banca de grife para defendê-lo. O advogado Zanone Manoel diz que seu escritório é pago por um religioso que tem apreço por seu cliente e quer anonimato. Ele diz receber ofertas de dinheiro para ajudar na defesa.
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