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Adelio Bispo de Oliveira, agressor de Bolsonaro. | Tomaz Silva/Agência Brasil
Adelio Bispo de Oliveira, agressor de Bolsonaro.| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, mudou o curso das eleições 2018. O até então desconhecido mineiro de Montes Claros desferiu uma facada no candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), em Juiz de Fora, dia 6 de setembro. Preso em flagrante, Adélio Bispo está isolado na Penitenciária de Campo Grande. Mas, antes disso, ele teve uma vida nômade.

Gazeta do Povo teve acesso aos registros profissionais de Adélio, antes da divulgação do primeiro inquérito da Polícia Federal, que deve ser concluído até o fim desta sexta-feira (28). Um segundo inquérito foi instaurado na última terça-feira (25). 

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Baixos salários 

Adélio Bispo teve empregos (formais e informais) em pelo menos dez cidades nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. Raramente passava do período de experiência de três meses. Um de seus empregadores justificou que ele não teve contrato permanente porque “era muito lento”. Mas não parecia ser alguém ameaçador, conforme relatos.

A média salarial sempre foi pouco acima de um salário mínimo. O penúltimo trabalho formal de Adélio Bispo foi de março a junho de 2018, sem completar esse último mês, em um restaurante japonês de Florianópolis, onde teve os maiores salários de sua carreira: chegou a ganhar R$ 1,8 mil em um mês.

Bolsonaro pouco após ser esfaqueado por Adélio BispoAFP

A Gazeta localizou o estabelecimento. O gerente disse, em tom assustado, que não poderia interromper o trabalho para falar com a reportagem. Pouco depois, localizado em um celular, falou sobre Adélio: “Ele apareceu procurando emprego. Era uma pessoa tranquila, nunca teve rolo com ninguém e nem tocou em nome de políticos enquanto trabalhava na empresa”.

Segundo o empresário, o funcionário era auxiliar de garçom e foi dispensado no fim do período de experiência. “Mesmo assim ele voltava e cumprimentava todo mundo”, diz o proprietário do restaurante, para quem Adelio era uma pessoa amigável, embora não falasse muito. “Era tranquilo. Mas agora vai ter que responder pelos seus atos, e não temos nada com isso”, ressaltou o empreendedor.

Início de carreira

O primeiro trabalho de Adélio Bispo foi em um clube de Uberaba (MG). Foi um dos maiores períodos de emprego formal do agressor de Bolsonaro: durou de março de 1999 a setembro de 2000. À época da contratação, o salário mínimo no Brasil era de R$ 136 (R$ 150 em 2000) e Adélio recebeu, em média, pouco mais de R$ 210 por mês até o fim do contrato de trabalho.

Adélio Bispo conseguiu um novo trabalho com registro em carteira em fevereiro de 2001, em uma farmácia de Uberaba, onde recebeu pouco mais do que os R$ 180 do salário mínimo naquele ano. O contrato foi encerrado em março de 2002.

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Adélio Bispo ficou sem emprego formal até janeiro de 2003, quando foi contratado por uma empresa de medicamentos manipulados e cosméticos, ainda na cidade mineira. Lá, ficou até fevereiro de 2004. A partir desse momento, os empregos com carteira nunca duraram muito: um registro de um mês de 2005, e outros dois – também de um mês cada – em 2007.

Foi em 2007 que o hoje algoz do presidenciável do PSL ingressou – de certa forma – na política. Conforme relação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Adélio Bispo de Oliveira foi filiado ao Psol em Uberaba de 2007 a 2014. A vida profissional, contudo, não teve grandes mudanças. Em 2008, teve apenas registros formais de um mês cada até resolver mudar de ares.

Escala Florianópolis-Curitiba 

Adélio migrou para Santa Catarina. Lá, conseguiu empregos seguidos. Ele fez jornada dupla em duas empresas em Florianópolis. De janeiro a setembro de 2009, teve registros em paralelo em um supermercado e em um telemarketing. Somados os salários, ganhava pouco mais de R$ 1 mil por mês. Foi então que saiu de ambos os empregos e se mudou para Curitiba.

Em novembro daquele mesmo ano, ele conseguiu um emprego de três meses registrado por meio de uma empresa de RH que costuma fornecer trabalhadores temporários para outras companhias - e que inclusive já teve contratos com o governo.

Adelio Bispo durante depoimento prestado à Polícia FederalReprodução 

Aparentemente, seu único “mês cheio” de trabalho com registro na empresa de prestadores de serviço foi em dezembro, quando recebeu R$ 770. Em janeiro de 2010, recebeu apenas R$ 308, o que sugere que não trabalhou o mês inteiro. Mas logo arrumou outro trabalho: em fevereiro, estava novamente empregado, agora em uma cafeteria. Por lá também não trabalhou muito: menos de três meses.

Foi então que Adélio voltou para Florianópolis, onde arrumou trabalho em uma rede de supermercados. Deixou o emprego após quatro meses e, aparentemente, passou a fazer jornada dupla em um café e em uma lanchonete de um shopping, de setembro a novembro de 2010. Os dois estabelecimentos ficam no centro da capital catarinense.

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Até fevereiro de 2011, Adélio Bispo ficou formalmente desempregado, ou vivendo de bicos. Foi quando conseguiu trabalho em um estabelecimento de churrascos e espetinhos, onde não ficou nem 15 dias empregado. Esse estabelecimento, apurou a Gazeta do Povo, já fechou.

No mês seguinte, em março de 2011, Adélio conseguiu emprego em uma empresa de carretas náuticas em uma cidade da região metropolitana. Novamente, não passou pelo período de experiência e em maio ganhou dois salários de R$ 720 registrados em uma empresa de recursos humanos e outros R$ 272,50 por um call center.

Dados estranhos

Em junho de 2011, o agressor de Bolsonaro parceria ter desistido da vida em Santa Catarina. Estaria de volta a Uberaba para trabalhar no mesmo clube onde iniciou a carreira. Foi onde passou o maior período como registrado: só deixou o emprego em 2013 e sempre recebeu valores maiores que um salário mínimo. Contudo, os dados não batem com os outros registros.

Enquanto estava registrado em Uberaba, Adélio recebia salários em outros empregos em Santa Catarina, a mais de 1,1 mil quilômetros dali. Foi registrado por um restaurante em Florianópolis de junho a setembro de 2011, aparentemente sem completar o período de experiência.

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Em agosto daquele mesmo ano, dois outros registros profissionais, em um café de Florianópolis e outro em uma lanchonete – neste, recebeu apenas R$ 48. Em setembro, um salário de R$ 56 em uma empresa de eventos. De outubro a dezembro, seu registro aparece em uma padaria de São José, cidade vizinha a Florianópolis. Foi nessa cidade que em 2018 Adélio Bispo fez um curso de tiro.

De dezembro de 2011 a março de 2012, ele foi registrado em uma das organizações do Sistema S em Santa Catarina. A Gazeta do Povo confirmou que ele teve um contrato de trabalho temporário como auxiliar de manutenção no estado. Paralelamente, em fevereiro e março de 2012, esteve registrado em uma empresa de informática em Biguaçu, também região metropolitana da capital catarinense.

Escala Curitiba-Montes Claros

Em abril de 2012, o algoz de Bolsonaro estava de volta a Curitiba. Naquele mês, recebeu R$ 150 em um registro temporário. Nos dois meses seguintes, trabalhou em uma rede de supermercados da capital paranaense.

A empresa confirmou o registro à Gazeta do Povo: ele foi auxiliar de padaria. “Foi um registro de apenas 40 dias. É um emprego para tirar pães do forno, auxiliar o padeiro, o balcão e fazer reposição”, explicou uma fonte anônima à reportagem. Essa mesma fonte garantiu que nenhum dos colegas de Adélio Bispo à época trabalha atualmente no supermercado.

Após esse breve período na capital paranaense, aparentemente o agressor do presidenciável voltou para Minas Gerais. Era trabalhou em hotel de Montes Claros, sua cidade natal. O registro não dura mais que quatro meses: de agosto a novembro de 2012.

Desempregado em Brasília 

A partir desse período, quando esteve desempregado, seus registros de trabalho batem com uma visita que o investigado teria feito a Brasília. A Polícia Federal confirmou que Adélio esteve na Câmara dos Deputados em 2013. Então filiado ao Psol, o agressor procurou parlamentares para apresentar propostas porque tinha um sonho: candidatar-se a deputado nas eleições de 2014. 

A perícia da PF no computador de Adélio Bispo revelou que ele chegou a escrever projetos de lei. Contudo, o Psol negou a candidatura. Adélio, então, pediu desfiliação.

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De Brasília, Adélio teria voltado a Minas Gerais, onde seus parentes teriam recomendado que procurasse um psiquiatra. Porém, Adélio, aparentemente, seguiu outro caminho, de volta ao Sul do Brasil, novamente a Santa Catarina. Em 2013, em Itajaí, trabalhou em uma empresa do porto por menos de dois meses. Há outro registro profissional naquele ano, aparentemente com um engenheiro. Em 2014, trabalhou para outro engenheiro.

Últimos empregos

Em 2015, pela primeira vez há um registro de que Adélio Bispo trabalhou em um restaurante japonês. Ficou de abril a julho daquele ano na empresa. Contatado, o proprietário se recusou a falar sobre o assunto. 

Gazeta do Povo conseguiu o contato de um ex-advogado de Adélio Bispo em um processo trabalhista. Segundo o advogado, o autor da facada em Bolsonaro trabalhou por oito meses em Camboriú (SC) em 2015, em uma empresa do ramo de construção e empreendimentos imobiliários.

“Aparentemente era uma pessoa normal”, disse. A execução do processo ocorre em Montes Claros (MG). Consta ainda que no mesmo ano Adelio recebeu salários de uma construtora de Uberaba.

De agosto de 2015 em diante, Adélio não teve trabalhos formais até que uma grande empresa de telefonia o empregou em um call center na virada de 2017 e 2018. O CNPJ da companhia é de Curitiba. Em 2018, seus últimos empregos foram por quatro meses em um restaurante japonês de Florianópolis e por um mês em uma empresa de tecnologia da informação, também na capital catarinense.

Video from Crusoé / O Antagonista on Vimeo.

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