Maior aliança partidária, maior fatia dos recursos do fundo eleitoral e o maior tempo de propaganda de rádio e TV. Nada disso foi suficiente para alavancar a candidatura à Presidência da República de Geraldo Alckmin (PSDB) até agora.
Estacionado nas pesquisas de intenção de voto, o tucano ainda pode ter alguma chance se conseguir convencer o eleitorado de que é a alternativa mais viável da centro-direita para tirar a esquerda do segundo turno. Alckmin que se mostrar um “voto útil” já no primeiro turno, seduzindo eleitores de outros candidatos, para disputar a reta final da eleição, provavelmente contra Jair Bolsonaro (PSL).
A campanha tucana tem como meta tentar trazer para Alckmin ao menos cinco ou seis pontos percentuais das intenções de voto de outros candidatos, como Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo), para levá-lo ao segundo turno. E uma novidade: tentará também angariar votos de uma fatia do eleitorado de Marina Silva (Rede), vista por parte dos tucanos como escolha entre eleitores mais liberais do que identificados como de esquerda.
Com esse percentual de votos a mais, poderia ficar em segundo lugar nas pesquisas, passando ou empatando tecnicamente com Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT).
“Precisamos mostrar para eleitores do mesmo campo (político) que o único que tem chance de ir para o segundo turno é Alckmin. Passou da fase de experiências na campanha, desses votos. E agora é hora dos eleitores deles (Dias, Amoêdo e Meirelles), que precisam entender isso”, avaliou o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), próximo à campanha tucana. “Vamos insistir nisso. Queremos insistir e conscientizar a população desse voto útil, que não é útil para um candidato, mas sim útil para o Brasil”, completou.
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Considerando as intenções de voto das mais recentes pesquisas em três candidatos que estão no pé das pesquisas e em campo ideológico próximo ao do PSDB, o coordenador de análise política da Genial Investimentos, Ribamar Rambourg, avaliou que Alckmim pode mirar em até 10 pontos percentuais dessas intenções de voto.
“Ficou mais difícil Geraldo Alckmin pegar votos do Bolsonaro (após o atentado contra o militar). E ele perdeu uma semana de sua campanha. Ele tem chances? Tem. Se for ao segundo turno seria competitivo. Alvaro Dias, Amoêdo e Meirelles têm juntos quase 10% dos votos. Alckmin pode tentar contar com isso. É uma questão. Mas só isso não basta. Alckmin tem de pensar em uma forma de atrair esses 10%. E para isso ele tem de crescer alguns pontos, para mostrar que tem chance de ir para o segundo turno”, analisou Rambourg.
Mesmo se conseguir esses votos, Alckmin pode não deslanchar senão tiver mais a oferecer ao eleitorado, na avaliação de André César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa. “Em que condições Alckmin pegaria esses votos? Ele vai pegar de quem? Tá difícil para ele. Alguns analistas do mercado financeiro ainda acham que ele reage nas pesquisas. Mas, racionalmente, o que faria ele dar essa virada fenomenal na última semana? Não tem como. Dessa cartola não sai coelho”, opinou.
Voto em Bolsonaro no primeiro turno pode trazer o PT de volta?
Se na primeira fase da campanha de Alckmin o alvo foi Bolsonaro, neste momento está na mira, além do deputado militar, também o candidato do PT, Fernando Haddad, que vem crescendo nas pesquisas. Geraldo Alckmin vem reforçando o discurso de que o voto em Bolsonaro no primeiro turno pode trazer o PT de volta.
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Silvio Torres, integrante da campanha tucana, reforça essa visão. “Caminha para o voto útil acontecer. Isso é natural, que aqueles que têm a preocupação que nós temos, de que tenha o segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, têm de ser estimulados a perceber quer isso vai levar o Brasil para uma encruzilhada muito difícil. Achamos que Alckmin tem mais condições de dar estabilidade para o país. Ele tem apoio no Congresso, tem experiência e confiança dos investidores. Quem pode tirar o Brasil disso é Alckmin. Essa percepção está se cristalizando. Esperamos que aconteça logo isso, para reverter a pesquisa”, afirmou o deputado do PSDB.
Problemas e pressão do Centrão
A aproximação do dia da eleição dificulta a situação de Alckmin, que é pressionado por seus aliados do grupo chamado de Centrão (os maiores partidos que não são nem de direita nem de esquerda no Congresso, e reúne as legendas DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade), que quer ver avanços nas intenções de voto do tucano. Há riscos de que tenha início uma debandada de integrantes do bloco na aliança tucana.
Lideranças ligadas a Bolsonaro asseguram já estar ocorrendo uma debandada de integrantes do Centrão, dada a desesperança que se abateu sobre a candidatura tucana. Presidente do PSL em São Paulo, o deputado federal Major Olimpio, que concorre a uma vaga para o Senado, disse que tem sido procurador por dezenas de parlamentares paulistas do PP, do DEM, do PR e do Solidariedade que decidiram “virar a casaca” e apoiar Bolsonaro.
“O Centrão já está fazendo a missa de corpo presente do Alckmin, que está lá na ponta do Titanic e o navio afundando aqui embaixo. Ele já morreu e estão procurando amigos e familiares para darem a notícia”, disse Olimpio,
O início desse processo pode estar próximo e depende dos números nas próximas pesquisas. O cientista político André César avaliou que um processo do tipo teria o efeito de um “rastilho de pólvora”, que seria difícil de ser estancado. “A próxima pesquisa pode ser a pá de cal de Alckmin. Ele sabe que a coisa desandou. E (uma eventual derrota eleitoral) pode ser o fim do PSDB: vai ter muita caça às bruxas dentro do partido”, disse.
Mesmo que o apoio do Centrão seja mantido, Alckmin terá de correr. “Ele tem todas as condições nessa eleição de crescer. Tem palanques, tem tempo de TV, tem bom relacionamento com mercado. Mas ele não tem muito a oferecer”, afirmou Rambourg. “Ele tem uma ligação com Temer, um discurso econômico racional demais, e não é situação simples a de ter de vender, numa eleição tão polarizada como essa, seus números da gestão de governador”, avaliou.
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