Um candidato que pode tirar votos de todos os outros concorrentes, sem ligação histórica com partidos políticos, considerado um novato na política e com a bandeira do combate à corrupção. Esse é Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e possível candidato à Presidência da República pelo PSB neste ano.
Filho de pai pedreiro e mãe faxineira, Barbosa nasceu em Paracatu (MG) em 7 de outubro de 1954 e completa 64 anos no dia do primeiro turno das eleições. Sua atuação como juiz implacável no julgamento do Mensalão, em 2012, lhe rendeu fama no Brasil e no exterior. Em 2013, foi listado pela revista “Time” como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.
No julgamento do Mensalão, Barbosa colocou-se como um combatente da corrupção, condenando políticos de diversos partidos, de PT a PP, um grande capital político que ele poderá valorizar em sua campanha. Nunca exerceu cargo eletivo – o que pode contar a seu favor em época de grande descrédito em relação a políticos – e não tem histórico de corrupção ou má gestão.
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Embora tenha se filiado a um partido de esquerda, Barbosa pode atrair a simpatia do eleitorado contrário ao PT por ter liderado a condenação de figuras emblemáticas do partido, como José Dirceu e José Genoíno. Esse mesmo eleitorado, no entanto, pode não aprovar algumas das posições mais recentes de Barbosa, entre elas as críticas à deposição de Dilma Rousseff, que classificou de “patético espetáculo” e “impeachment tabajara”.
Para Ricardo Caichiolo, professor doutor de Ciência Política e coordenador da pós-graduação do Ibmec em Brasília, o público não vê viés esquerdista em Barbosa, o que pode ajudá-lo como candidato. “Ele tira votos de todos os lados. Pega desde eleitores de Lula até do Bolsonaro. Muitas pessoas que votam no Bolsonaro dizem que fazem essa opção para não votar na esquerda. O nome do Joaquim Barbosa não tem esse viés esquerdista como tem o do Ciro Gomes ou da Marina Silva”, avalia Caichiolo.
A lembrança por parte do eleitorado de sua atuação no combate à corrupção no Mensalão – quando chegou a ser visto como herói e justiceiro por parte da opinião pública – já o faz ser lembrado mesmo antes do início das campanhas. E há grande espaço para que cresça a intenção de votos em Barbosa a partir do momento em que a estrutura partidária estiver trabalhando em sua campanha, segundo Caichiolo.
“Ele já sai a frente de candidatos como Jaques Wagner ou Fernando Haddad”, diz o cientista político, referindo-se a dois petistas tidos como alternativas do PT caso o ex-presidente Lula não possa se candidatar.
Ao menos mais uma característica de Barbosa pode pesar em seu favor na construção da figura de candidato: em um momento de valorização do papel da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, em partes fruto da Operação Lava Jato, Barbosa aparece como um ex-juiz. “Para o eleitor que quer a prevalência das instituições, do Judiciário, Barbosa pode pegar esses votos”, avalia Caichiolo.
Com uma grande pulverização no cenário eleitoral para este ano – muitos candidatos, poucas alianças e variadas vertentes políticas –, a chegada de Barbosa pode trazer novidades ao cenário eleitoral, na visão de André César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa.
“Dado o atual quadro da política brasileira, a presença de Barbosa na disputa sucessória representa alguma novidade”, escreveu André César em análise para clientes. “Se ele será um candidato competitivo, porém, só o tempo dirá”, avaliou.
Sem fortes ligações nem com a esquerda ou com a direita, Barbosa poderá disputar e fazer alianças com diferentes candidatos, o que pesa a seu favor. Num eventual segundo turno, o capital político e apoio de Barbosa podem ser importantes.
Partido de esquerda
Barbosa se filiou ao PSB dentro do prazo que permite que ele possa disputar o pleito, mas o partido ainda trata com cautela do assunto. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a vontade predominante dentro do partido é pela candidatura de Barbosa.
“O que é seguro é ele se filiou na data limite para poder concorrer se desejar. Mas de parte a parte não ficou firmado. Poderá ou não. Ele está refletindo sobre isso e nós também. Mas há hoje internamente um desejo bastante amplo de que venha a ser candidato”, disse Siqueira à Gazeta do Povo.
O PSB está na esquerda no espectro ideológico– chama-se Partido Socialista Brasileiro, afinal. A legenda foi contra as reformas trabalhista e da Previdência e é contra privatizações. Mas também andou se engajando em pautas mais ligadas à direita, apoiando o impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer.
Neste ano, no entanto, o partido aprofundou um processo de volta às raízes, com a saída de seus quadros de conservadores e figuras mais alinhadas com pautas economicamente liberais. Entre eles, deixaram o partido o ex-ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (foi para o MDB e agora para o DEM), a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), e o deputado Fábio Garcia (DEM-MT).
Siqueira afirma que Barbosa veio ao partido e foi aceito por haver alinhamento. “Não fazia sentido trazer para o partido alguém que não tivesse alinhamento conosco. É uma grande personalidade, que tem seu tamanho próprio, mas entre os partidos foi do nosso que ele se aproximou e onde encontrou identidade”, disse Siqueira. “[Sua filiação] reflete um desejo do PSB de ser um instrumento de mudança da política, que precisa de renovação e precisa de pessoas novas. Encontramos na pessoa de Barbosa um nome que casa com renovação, tem pulso e ideias similares às nossas”, disse o presidente do PSB.
Dúvidas e fraquezas
Barbosa terá como desafio controlar seu estilo contestador e uma postura vista por muitos como intransigente, que o levou a protagonizar embates com ministros do STF quando presidia a corte e mesmo bater boca com jornalistas. No Mensalão, eram corriqueiras as trocas de farpas com colegas e com o ministro revisor do caso, Ricardo Lewandowski. Em um bate-boca com Gilmar Mendes, chegou a dizer “Vossa Excelência quando se dirige a mim não está falando com seus capangas de Mato Grosso”.
“Ele era um ministro inteligente. Ele sabe onde falar e como se comportar. Sabia que no STF, com os pares, ele não estava vendendo sua imagem. Agora, num debate, a tendência é que seja mais moderado nas colocações, não vai querer confrontar. Muitos vão evitar bater nele pelo simbolismo do juiz do Mensalão”, aponta Caichiolo.
Sua visão sobre temas da economia e gestão do governo federal ainda são desconhecidos e serão exploradas pelos oponentes nos debates. Durante esse período é que será possível conhecer o candidato à Presidência da República Joaquim Barbosa. Também poderá ser usada contra ele a posição contrária ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Suas posições sobre temas fundamentais para o Brasil, como economia, desenvolvimento, educação, saúde e segurança pública são pouco conhecidas. Também não se sabe qual a real capacidade do ex-ministro aglutinar forças políticas a seu redor. As cobranças aparecerão rapidamente”, avalia César.
Ainda é uma incerteza para o exercício do cargo de presidente da República sua condição de saúde. O ex-ministro tem graves problemas na coluna, que o faziam proferir votos no STF muitas vezes em pé, para amenizar as dores.
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