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A pouco mais de três semanas das eleições, as possibilidades de o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) fazer campanha de rua continuam incertas. O candidato precisou passar por uma nova cirurgia na última quarta-feira (12) para retirar aderências das paredes do intestino delgado. Agora, o estado de saúde de Bolsonaro preocupa os responsáveis por sua campanha eleitoral, que temem que a aparência de “fragilidade” do deputado possa prejudicar seu desempenho.

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Além de estar impossibilitado de participar de atos nas ruas, entrevistas e debates, Bolsonaro tem até mesmo dificuldades para falar. De acordo com um de seus filhos, Flávio Bolsonaro, “ele não está conseguindo nem falar direito, então não pode ir para a internet para fazer transmissão ao vivo. A orientação médica é que nem fale, porque quando fala acumula gases e pode ocasionar mais dor ainda”. A declaração foi dada durante uma entrevista à rádio 97,1 FM, do Rio de Janeiro, na quinta-feira (13).

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E a previsão é de que o candidato do PSL não volte às atividades de campanha antes da realização do primeiro turno, segundo seu filho. “Ele, ao que tudo indica, no primeiro turno não vai ter mais condições médicas de ir pra rua de novo. Isso atrapalha muito a nossa campanha, porque o Jair estava no auge da alegria dele. Em fração de segundos ele vai do auge para o chão, para quase morrer”, avaliou Flávio.

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Para Antonio Carlos Rosa de Sena, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a segunda cirurgia não chegou a ser uma surpresa. Em conversa com a Gazeta do Povo na última segunda-feira (10), ele tinha alertado para esse risco. “Aconteceu exatamente uma das coisas que eu disse que poderiam acontecer. Parece que uma das emendas das suturas teve uma ruptura e houve um vazamento.”

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Segundo o especialista, operações secundárias apresentam riscos ainda maiores para os pacientes. “Os riscos dele agora são de que essa emenda que foi refeita não cicatrize adequadamente e de ter que ficar em alimentação parenteral, pela veia, por mais tempo.”

O médico também explica que novas cirurgias podem ser necessárias e que, nesse caso, os riscos tornam-se cada vez maiores. Por isso, os próximos dez dias são fundamentais para saber como os médicos responsáveis por Bolsonaro vão conduzir o restante da recuperação.

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Sobre a campanha, o médico avalia que será muito difícil o candidato voltar a ela até o fim do primeiro turno. “Ele provavelmente vai ficar no hospital. Pode até se que o intestino comece a funcionar, que as coisas evoluam bem, mas temos de uma semana a dez dias para ver isso.”

Sena ainda explicou por que Bolsonaro foi orientado pelos médicos a falar pouco. “Quando a pessoa fala ela engole ar e isso provoca um pouco de distensão abdominal.”

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Na prática, Bolsonaro é um dos chefes da sua própria campanha. Muitas das decisões costumam ser tomadas pessoalmente por ele, como admitem aliados. Sem sua orientação e sem dinheiro para contratar pesquisas de opinião, por exemplo – o que ajudaria a medir os efeitos do ataque e da recuperação do deputado no eleitorado –, os líderes da candidatura estão tendo dificuldades para determinar os próximos passos.

Com postura e posicionamentos normalmente fortes, Bolsonaro hoje se encontra fragilizado pelos dias de internação. Seus aliados discutem, portanto, se essa situação não poderia prejudicar a imagem dele junto a seus eleitores em potencial. Há, ainda, uma preocupação referente à ausência do candidato das ruas e do contato direto com o público. Embora os próprios apoiadores venham se organizando para manter atos a favor do deputado, eles não têm a mesma força que Bolsonaro.

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Outro problema vem de um aparente atrito com o candidato a vice-presidente da chapa,o general Hamilton Mourão (PRTB). Mesmo antes de consultar o PSL, o partido de Mourão anunciou que consultaria o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a possibilidade de Mourão substituir Bolsonaro nos debates.

Em Curitiba na última quinta-feira (13), o general negou que haja um mal estar entre ele e o PSL. “Não gerou desconforto. O problema todo é que às vezes os assuntos não são conduzidos da forma mais transparente e acaba gerando um disse me disse.”

O companheiro de chapa admitiu que não tem falado com o presidenciável justamente por causa das restrições médicas. Para Mourão, a falta de Bolsonaro nas ruas tem, sim, impacto negativo na campanha. “O que era do Bolsonaro é só dele. Ele é insubstituível. Quem mobiliza na rua sempre é ele, ele é o homem das massas, ele é o grande agitador, é ele que as pessoas vão eleger.”

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Os cuidados com atividades que exijam muito do físico do candidato podem se estender para além do fim do pleito. Ele ainda pode ter restrições de alimentação e dificuldades para andar. Desconfortos digestivos não estão descartados, mesmo depois da alta. A bolsa que coleta as fezes de Bolsonaro também deve acompanhá-lo por alguns meses. A previsão de retirada é entre dois e três meses após a primeira cirurgia, mas o prazo pode se arrastar no caso de infecções.

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Bolsonaro segue na UTI

Em boletim médico divulgado na manhã desta sexta-feira (14), o Hospital Israelita Albert Einstein afirma que Bolsonaro “permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em condições clínicas estáveis e sem complicações no período pós-operatório”.

Ainda segundo os médicos, Bolsonaro não tem febre ou outros sinais de infecção, embora continue recebendo alimentação exclusivamente parenteral. O boletim informa que nesta sexta ele deve retomar as caminhadas e exercícios respiratórios que compõem a fisioterapia.