Depois do atentado ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), seus oponentes estão reavaliando qual será o novo rumo da estratégia de campanha e o tom do discurso adotado. Em um primeiro momento, os presidenciáveis têm optado por uma postura mais sóbria, evitando o confronto, mas isso deve mudar com o passar dos dias e melhora do quadro clínico de Bolsonaro.
Os marqueteiros e estrategistas de Geraldo Alckmin (PSDB) devem adotar uma linha de confronto, mantendo o tom que vinham usando antes do atentado. O deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), que é próximo ao comando da campanha de Alckmin, afirma que ainda é cedo para ver os impactos nas pesquisas após a facada, mas que por mais que haja uma torcida pela recuperação de Bolsonaro, é preciso que as campanhas sigam em frente para enfrentar dias “decisivos”.
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“Graças a Deus a saúde de Bolsonaro está recuperada e logo mais a campanha volta ao normal. Ainda tem vinte e tantos dias de campanha, que serão decisivos”, disse Torres. “A campanha e o ocorrido (o atentado) são coisas separadas. Uma coisa é solidariedade, lamentar o ocorrido, ter preocupação do acirramento do ódio. O Brasil precisa de alguém que faça conciliação. Os extremos levaram o Brasil a um fato como esse. Mas desde que Bolsonaro com boa saúde, ele é um candidato e a campanha continua”, afirmou o deputado ligado a Alckmin.
Por outro lado, candidatos que vem tentando adocicar a imagem ou já se enquadram normalmente em um perfil mais suave (caso do pedetista Ciro Gomes e de Marina Silva, da Rede) devem manter esse discurso, de que a violência não é o melhor caminho.
Campanha de Bolsonaro não está unida sobre aumentar ou reduzir o embate
Além disso, o tom que os estrategistas de Bolsonaro vão escolher adotar a partir de agora será importante para definir a dosagem das críticas das demais campanhas. Mas essa definição não é monolítica dentro da campanha de Bolsonaro. No círculo de apoio a ele, há quem defenda um discurso mais enfático, mais forte e de aposta na vitimização do candidato. Só que também há quem defenda maior sutileza.
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“Vejo que muito do caminho que as campanhas vão dar nessas semanas também vai se definir em função de como o Bolsonaro vai agir. Se ele agudizar, as outras campanhas também devem subir o tom”, avalia o analista André Cesar, da Hold Assessoria Legislativa.
“Cresce a chance de vitória (de Bolsonaro) no primeiro turno, então eles também podem pensar em uma radicalização. Mas isso é arriscado, pois pode se queimar pontes e não vencer no primeiro turno. (Eles) podem chegar no segundo turno num ritmo diferente e mudar o cenário eleitoral”, aponta o analista.
Pesquisas após o atentado terão peso importante
As primeiras pesquisas de intenção de voto que capturem a percepção do eleitorado após o atendado serão observadas com atenção pelos estrategistas dos outros candidatos. Para Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice e mestre em ciência política, a partir desses resultados as campanhas vão modelar seus discursos. Na visão do especialista, o atual momento, que ainda é de não agressão ao candidato que lidera as pesquisas em respeito ao atentado e por cautela à reação do eleitor, deve ficar para trás.
“De início, as campanhas devem ficar mais testando as águas, vendo o que tem nas pesquisas. E vendo a postura de Bolsonaro e de sua campanha. Mas acho que a trégua não vai durar muito. Podemos ter um aumento nas intenções de voto, mas não disparada”, diz Aragão.
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A rejeição ao candidato do PSL também será um importante termômetro para as campanhas, na avaliação de Aragão. “Hoje temos de olhar a rejeição. Se continuar alta, os outros candidatos podem apostar em carregar no tom. As pesquisas feitas depois do atentado vão mostrar o que é o Bolsonaro. Se ele virou difícil de ser atacado ou não. Se a rejeição crescer, eles (campanhas dos oponentes) podem seguir com um tom mais duro”, disse.
Oponentes ainda enfrentam problemas internos
A facada sofrida pelo candidato do PSL alterou a campanha de uma forma que ainda não está muito clara. Mas além de terem de ajustar suas estratégias e discursos a partir desse incidente, e com grandes riscos ao fazer isso, muitas campanhas ainda lutam com seus problemas internos.
“Os problemas individuais são muito grandes, continuam, são reais, e cada um tem um problema próprio para ver quem vai com Bolsonaro no segundo turno”, afirmou André Cesar.
Exemplos dessas questões são a ainda indefinida candidatura do PT, que até a manhã desta terça-feira (11) não formalizou o ex-prefeito Fernando Haddad na disputa; a cobrança do eleitorado para que Marina Silva fortaleça seu discurso e seja mais constante e enfática ao se comunicar; e Alckmin ainda precisa pacificar sua base de apoio, que pode abandoná-lo caso continue sem crescer nas pesquisas.
No debate, contra violência e por união do Brasil
No primeiro debate entre os presidenciáveis após o ataque, realizado no domingo (9) pela TV Gazeta, o tom de cautela predominou. Dos seis candidatos que participaram do programa, apenas um (Henrique Meirelles, do MDB), não citou direta ou indiretamente o atentado em sua mensagem final, no encerramento do programa. O discurso de que é preciso unir o país e buscar a pacificação permeou as falas dos candidatos.
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Mesmo Alckmin, que vinha mirando contra Bolsonaro e cuja campanha apresentava peças que destacavam declarações tidas como machistas do deputado, optou por um discurso conciliatório ao final do debate, mas sem dar grande destaque ao atentado. “Temos defendido a pacificação. Apenas unidos nós vamos conseguir superar os grandes desafios do Brasil. Todas as vezes que o Brasil fez um esforço de pacificação, ele avançou”, disse.
Marina Silva foi a mais enfática sobre o ataque. “Eu entrei (na disputa eleitoral) para oferecer a outra face. Para a face do ódio, o amor. Para a face da preguiça, o trabalho. Para a face da violência e do desrespeito, temos de ter tolerância, respeito com as ideias dos outros mesmo quando são diferentes das nossas. Neste ano, Tivemos assassinato da Marielle, tivemos o atentado à caravana do presidente Lula, e agora tivemos o atentado contra o Jair Bolsonaro”, disse Marina.
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Alvaro Dias (Podemos) também defendeu a paz, contra a violência. “Somos muitos Brasis dentro de um grande Brasil, e devemos nos respeitar. O ódio cega a inteligência. A raiva e a intolerância alimentam a violência e comprometem o processo democrático. O nosso repúdio àqueles que praticam a violência e estimulam a violência.”,
Ciro Gomes, que vem tentando suavizar sua fama de durão e briguento, foi mais econômico ao tratar do ataque contra Bolsonaro, mas deixou uma palavra sobre o tema. “Nem o desânimo nem a revolta são bons conselheiros”, disse.
Guilherme Boulos (PSOL) também foi mais direto sobre o caso, em discurso que se assemelhou ao de Marina. “O Brasil vive uma grave escalada de ódio e violência. O assassinado de Marielle Franco vai fazer seis meses e nós não sabemos quem matou e quem mandou matar. Os tiros da caravana do Lula, e agora uma campanha eleitoral cheia de ódio, com o episódio que aconteceu na semana passada. Esse sistema de ódio, da violência da morte, é o mesmo sistema dos privilégios, da desigualdade, da indiferença. As pessoas perderam a capacidade de se colocar no lugar das outras”, afirmou.
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