A sabatina com seis candidatos à Presidência da República, realizada em Brasília, nesta quarta-feira (4), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), deu indicativos de quais são os concorrentes preferidos pelo empresariado: Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL). Os dois foram os mais aplaudidos pela plateia formada por centenas de representantes da iniciativa privada.
Os candidatos Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos) não chegaram a empolgar o empresariado. Marina Silva (Rede) foi recebida de modo apático pela plateia. E Ciro Gomes (PDT), embora tenha começado seu pronunciamento levantando uma “bandeira branca” ao setor produtivo, foi vaiado por parte do público quando criticou a reforma trabalhista. Os aplausos quando houve críticas aos governos do PT também indicaram que o candidato petista à Presidência, seja quem for, não terá a simpatia dos industriais.
Bolsonaro diz que não precisa entender de economia. E arranca aplausos
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) adotou um discurso pró-mercado e falou em ampliar o poder da iniciativa privada na economia. Disse que é preciso diminuir o tamanho do Estado. Afirmou ser necessário discutir a reforma da Previdência. Criticou as despesas obrigatórias, que engessam o orçamento federal. Mas não deu detalhes de suas propostas. Ainda assim, foi aplaudido diversas vezes pelo empresariado – mesmo tendo dito logo no início de seu pronunciamento que não precisa entender de economia para ser presidente do Brasil.
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Os aplausos da plateia vieram inclusive quando Bolsonaro tratava de temas que não têm relação com a economia. Um desses casos foi numa alfinetada ao PT, ao dizer que colocaria generais no seu governo. “Por que não generais? Qual o problema? O [governo] anterior era formado por terroristas e corruptos e ninguém falava nada.”
O candidato do PSL também arrancou risos de parte da plateia ao ser irônico com os homossexuais: “Nada contra [os gays]. Quem quiser que vá ser feliz ao lado de seu parceiro. Quem sabe amanhã não serei eu também”.
Música para o empresariado: Alckmin promete reduzir o imposto de renda das empresas
O ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) fez uma promessa na sabatina da CNI que soou como música aos ouvidos da iniciativa privada: disse que, se for eleito, vai “imitar” o presidente americano Donald Trump e reduzirá o IR pago pelas empresas. “Vou reduzir o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, o imposto corporativo. O Donald Trump também reduziu”.
O tucano também defendeu uma “agenda de reformas”, algumas das quais de interesse do setor produtivo – como a política, da Previdência e a tributária. “Temos um verdadeiro manicômio tributário”, disse, falando em simplificar o sistema de cobrança de impostos.
Alckmin também defendeu a redução do tamanho do Estado. “O presidente da República tem que ser quem vai reduzir os gastos, o tamanho do Estado. Com contas desequilibradas, não vai ter investimento, não vai ter emprego. Com uma boa política fiscal, zera o déficit e recupera a capacidade de investimento do Estado.” Ele ainda prometeu “criar um ambiente estimulador da atividade empreendedora, gerando emprego e renda”.
Meirelles recebe apenas aplausos protocolares
Nenhum outro candidato obteve a reação positiva dos empresários. Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (MDB) ganhou aplausos apenas protocolares da plateia – embora tenha adotado um discurso amplamente favorável ao mercado, destacando as medidas que tomou.
“Aprovamos a reforma trabalhista, a lei de governança das estatais. Mesmo a própria [reforma da] Previdência, cheguei a me reunir com deputados na Câmara dos Deputados [para tentar sua aprovação]”, disse Meirelles. Segundo o emedebista, é preciso mais investimentos em diversas áreas. “Propomos criação de emprego para população, criação de renda, controle da inflação, segurança para população, melhor atendimento em saúde e educação.” Ele afirmou que, para isso, é necessário haver crescimento econômico. “Eu já fiz isso.”
Alvaro Dias fala para plateia esvaziada
O senador Alvaro Dias (Podemos) também adotou um discurso favorável ao empresariado. Mas falou para uma plateia menos interessada e já esvaziada – até mesmo por ser o último dos seis a participar da sabatina. Ele começou elogiando a CNI pela iniciativa da sabatina. “Neste momento, há uma série de entidades com influência que se calam.”
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Dias também falou em reduzir o tamanho do Estado por meio de “um grande programa de privatização e redução de estruturas paralelas [no governo]”. Uma das medidas propostas para enxugar o Estado foi a redução do tamanho do Legislativo. “Precisamos reduzir o número de senadores, deputados federais, proporcionalmente, de deputados estaduais, vereadores, para termos um Legislativo mais qualificado.”
Marina é recebida com indiferença. E critica subsídios para a indústria
A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede) foi recebida com apatia pela plateia. Um de seus aliados chegou a reagir ao fato de ela não ser aplaudida e de muitas pessoas do público estarem olhando o celular enquanto Marina falava: “é grosseria”. No discurso, ela disse que vai acabar com o toma-lá-dá-cá entre o governo e o Congresso. E criticou a corrupção do PT e do PSDB.
Após o pronunciamento, em entrevista a jornalistas que acompanhava a sabatina, Marina parece ter reagido à indiferença dos industriais. Ela foi crítica ao empresariado: “A indústria tem que fazer o dever de casa. Não dá para continuar com privilégios, subsídios, que só levam o nosso país, cada vez mais, a definhar em um setor estratégico para nosso desenvolvimento de renda”.
Ciro diz que vai mudar a reforma trabalhista. E é vaiado
O único dos seis candidatos a ter tido uma reação claramente negativa dos empresários presentes na sabatina foi o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). Ele até começou a falar dando a entender que não iria para o confronto. Propôs aos industriais uma “fraterna troca de ideias”. E disse que iria deixar seus pontos de vista num armário do lado de fora da sabatina.
Mas, quando foi questionado sobre a reforma trabalhista, deu a entender que pretende fazer mudanças no que foi aprovado no Congresso durante o atual governo. Disse que já estava conversando com as centrais sindicais, mas que não iria mudar muitos pontos. Recebeu vaias de parte da plateia. E reagiu irritado: “Isso! Assim que será. Se quiserem um presidente fraco, que escolham um desses que vem conversar fiado aqui”.
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