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| Foto: DOUGLAS MAGNO/AFP

Boatos não são exatamente uma novidade no mundo político. Não é de hoje que há mentiras sendo espalhadas durante o período eleitoral. A diferença da eleição de 2018 é que essa enxurrada de notícias falsas foi impulsionada por milhares de compartilhamentos em redes sociais e serviços de mensagens. Monitorar o que circula pelas redes ditas abertas, como o Facebook e Twitter, exige atenção, mas é uma ponta mais visível do processo. A dificuldade é saber o que está circulando no WhatsApp. Para desmentir esses boatos, a Gazeta do Povo entrou para o Comprova, uma coalizão de 24 veículos de mídia que trabalham juntos para identificar notícias falsas e explicar aos leitores porque elas são incorretas. Foram mais de uma centena de verificações até o momento -- e o número tende a crescer no final de semana de eleição. Uma dica? Na dúvida, não compartilhe informação sem ter certeza da veracidade.

Confira as notícias falsas que marcaram a eleição:

As mentiras contra o processo eleitoral

As notícias falsas não se restringem aos candidatos: elas também estão relacionadas ao processo eleitoral em si. Muitos dos boatos que circularam colocavam em dúvida a segurança das urnas eletrônicas e até mesmo traziam teorias sobre a participação de estrangeiros nas eleições. Por isso, não custa lembrar de seis verificações aos eleitores menos atentos. O voto de ninguém é invalidado caso a pessoa decida votar em apenas um cargo, e optar por branco ou nulo nos demais. No dia da votação, não adianta nada incluir o número do candidato junto a sua assinatura na hora de votar. Além de não servir como uma prova para confrontar o resultado da eleição, a atitude pode levar à prisão.

Se você viu um vídeo denunciando fraude nas urnas eletrônicas, cuidado: há grandes chances de ele ser falso. Um vídeo de 2016 voltou a circular nas eleições desse ano. O caso foi investigado pelo Ministério Público e arquivado, pois não havia indícios de irregularidades. As Forças Armadas nunca solicitaram nenhum tipo de perícia das urnas eletrônicas para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O órgão também nunca entregou códigos das urnas eletrônicas para a Venezuela: uma empresa fundada por venezuelanos participou de uma licitação do órgão, que não previa entrega de códigos, e que nem foi concluída. E os venezuelanos que estão entrando no país, fugindo da crise em seu país, não votarão nessa eleição: apenas estrangeiros naturalizados, que moram no Brasil no mínimo há quatro anos, têm o direito de votar.

SAIBA MAIS:  Uma batalha contra as fake news nas eleições 2018

Institutos de pesquisa na mira

As pesquisas eleitorais representam um retrato do momento e são muito suscetíveis às mudanças de humor do eleitorado. Independentemente de concordar ou não com os números que aparecem nessas pesquisas, é preciso deixar claro que há uma metodologia rígida para a execução de todos esses levantamentos - e só é possível divulgar aquelas que possuem registro junto ao TSE. Portanto, por mais que a curiosidade seja grande e você resolva fazer uma enquete em rede social, saiba que elas não têm valor científico e não valem como pesquisa eleitoral. E para quem já bradou contra funcionários de institutos de pesquisas que não mostraram o questionário, fica a informação: eles estão corretos. Para que o resultado da pesquisa seja considerado válido, o instituto não permite que os entrevistados leiam as perguntas antes de respondê-las.

A conspiração da Ursal não existe

Quem não ouviu falar da Ursal não prestou atenção a nenhum debate e ficou desconectado das redes sociais. Mas, é preciso esclarecer: a União das Repúblicas Socialistas da América Latina não existe. O termo foi uma ironia escrita por uma socióloga, em 2001, que acabou alimentando uma teoria da conspiração. Há iniciativas de integração na América Latina, mas voltadas a parcerias sobretudo econômicas, até inspiradas na União Europeia. Não há evidência de eliminação de fronteiras nem de implantação do socialismo ou comunismo em todos os países.

Ninguém vai confiscar poupança

Assunto sensível ao brasileiro, os boatos sobre confisco de poupança não fizeram distinção de ideologia política e atingiram mais de um candidato. Uma versão da mentira alegava que o Partido dos Trabalhadores (PT) e Ciro Gomes, presidenciável do PDT, tinham um plano de confisco de poupança. A mensagem que se propagou pelo WhatsApp é falsa: o texto deturpou um projeto de lei e omitia o fato de que ele não avançou na Câmara dos Deputados e foi arquivado em 2007. O General Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro (PSL), tampouco fez essa proposta. O boato se espalhou após uma palestra do militar, mas não há qualquer registro de que ele tenha feito essa afirmação e Mourão nega a intenção de confisco.

George Soros influencia a eleição?

O megainvestidor George Soros até pode estar atento ao noticiário sobre as eleições brasileiras, mas talvez não imagine que há tantos boatos sobre sua suposta influência por aqui -- todos mentirosos. O candidato do partido NOVO, João Amoêdo, não tem nenhuma ligação com o megainvestidor, nem com as organizações comandadas por ele. O milionário também não organizou nenhum evento nos Estados Unidos com intuito de prejudicar algum candidato: um debate sobre o cenário eleitoral brasileiro foi usado para alimentar uma mentira. E, por fim, ele não financiou o movimento #elenão.

Um mesmo áudio, dois padres

Um mesmo áudio foi atribuído a dois padres diferentes e usado para simular um apoio ao candidato Jair Bolsonaro. Nem o padre Marcelo Rossi, nem o padre Fábio de Melo são os responsáveis pela mensagem. A gravação é do apóstolo Rina Seixas, da igreja Bola de Neve.

As mulheres foram às ruas

O movimento de mulheres contra o candidato Jair Bolsonaro também esteve envolvido em mais de um caso de desinformação. O primeiro boato questionava a data de criação do grupo de Facebook “Mulheres unidas contra Bolsonaro”: a verdade é que ele havia sido criado recentemente e tinha crescido rapidamente. O grupo acabou sendo hackeado, teve o nome mudado e acabou extinto. Mas a mobilização ficou e ganhou espaço nas ruas de várias cidades do Brasil. E são verdadeiras as fotos que mostravam a manifestação no Largo da Batata, em São Paulo, e na Cinelândia, no Rio de Janeiro.

A cicatriz exposta

Pouco depois de ser vítima de um atentado à faca, imagens que mostravam o tamanho de uma incisão no abdômen que seria de Jair Bolsonaro começaram a circular pelo WhatsApp. A imagem, forte, é verdadeira. A versão completa da foto tem o rosto do candidato. Ademais, os detalhes da imagem correspondem ao cenário e ao tipo de cirurgia feita pelo presidenciável. Porém, durante seu período de internação, Bolsonaro também foi alvo de uma mentira: não é dele a voz em um áudio que simula uma reclamação do candidato sobre o resultado de pesquisa.

Língua solta

O presidenciável Ciro Gomes é conhecido por não ter papas na língua -- e se meter em algumas encrencas por causa das declarações polêmicas. Um meme misturou declarações atribuídas a ele, com outras sem registro ou fora de contexto. As seis declarações foram checadas: não há evidências de que ele efetivamente declarou apenas uma delas. Apesar de ter falado as demais frases, elas carecem de contexto ou foram modificadas para o meme.

Ninguém jogou a toalha

O vídeo que circula e mostra o candidato Fernando Haddad (PT) “jogando a toalha” para a campanha é mentiroso. O petista realmente gravou o vídeo, mas isso aconteceu em 2016, quando perdeu a reeleição para a prefeitura de São Paulo ainda no primeiro turno. O vídeo não tem relação com a campanha para a presidência em 2018.

A bandeira da discórdia

Um clipe da campanha de Geraldo Alckmin, candidato pelo PSDB, realmente fez referência à facção criminosa PCC. O vídeo mostrava uma favela e numa bandeira do Brasil pintada no muro aparece a inscrição “1533” no lugar de Ordem e Progresso. A combinação dos algarismos é uma referência à posição em que as letras PCC aparecem no alfabeto (“P” é a 15ª e “C” é a 3ª). O PCC teve origem em São Paulo e Alckmin é frequentemente questionado sobre isso. O vídeo foi enviado pela assessoria do candidato e substituído por outra versão, sem a referência ao PCC.

O boato reciclado

Um boato envolvendo a candidata Marina Silva (Rede) era reciclado de outra eleição, em 2014: ele diz que o marido dela estaria ligado a um caso de desmatamento e nunca foi punido porque ela era ministra do Meio Ambiente. É mentira. O Tribunal de Contas da União (TCU) não apontou irregularidades em doação de madeira feita pelo Ibama na gestão de Marina para ONG ligada a seu marido, Fábio Vaz de Lima. Ele foi investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) a pedido da própria Marina. O MPF arquivou o processo por considerar que não havia indícios contra ele.

Não virou candidato

Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu ser o candidato do PT, mas teve muitos boatos ligados a sua figura -- e também aos filhos e mulher. Um deles dizia que a União Europeia pedia retaliação ao Brasil pela prisão de Lula: era mentira. A deputada Catarina Martins, retratada no vídeo, declarou que desconhece tal pedido e que as imagens são uma montagem alheia a seu mandato. Não há registro de qualquer pedido por parte da União Europeia dirigido às Nações Unidas sobre retaliações pela prisão de Lula.

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