A tentativa de homicídio contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que levou uma facada enquanto fazia campanha em Juiz de Fora (MG) na tarde desta quinta-feira (6), vai impor uma readequação das estratégias de campanha dos adversários do deputado e pode mudar o rumo da eleição presidencial. A comoção em torno do ataque tende impulsionar as intenções de voto em favor do capitão da reserva e causar uma queda em sua rejeição, além de fortalecê-lo para chegar ao segundo turno.
Para o cientista político Marcio Coimbra, o choque causado pelo atentado pode ter um efeito significativo no voto dos indecisos – que representam 28% do eleitorado, entre os que disseram que não sabem em quem votar e votos nulos, segundo a última pesquisa Ibope. “Vai ter um aumento de intenções de voto porque muita gente que estava indecisa acaba tendendo a votar no Bolsonaro nesse momento pela comoção que isso gera”, analisa.
Segundo o Ibope, Bolsonaro tem 44% de rejeição entre os eleitores. O cientista político aposta em uma oscilação de cerca de 5% nas intenções de voto no candidato do PSL. “Muitas pessoas que tinham vergonha de dizer que votam no Bolsonaro agora vão ter coragem de admitir”, aposta.
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Candidato à vice de Bolsonaro, o general Antonio Hamilton Mourão (PRTB) tem uma interpretação parecida. “Ele sairá disso aí maior do que entrou. Talvez aquelas pessoas que tinham dúvida [em votar ou não nele] agora não terão dúvida”, disse o militar em entrevista à Folha de S. Paulo algumas horas depois do ataque.
O cientista político da PUC-PR, Mario Sergio Lepre, também acredita que a candidatura de Bolsonaro pode ter um impulso. “Ele vai ganhar visibilidade, vai aparecer mais nas televisões”, diz Lepre. O cientista ressalta a importância da exposição, uma vez que Bolsonaro tem pouco tempo de TV para fazer campanha: apenas oito segundos.
Além de conquistar o voto do indeciso, o ataque também pode ter um efeito na militância do candidato, que deve trabalhar mais em prol da candidatura a partir de agora. “A militância do Bolsonaro recebeu uma injeção de adrenalina”, ressalta Coimbra.
Atentado vai tirar Bolsonaro das ruas
O professor do curso de Relações Públicas da PUC-PR e especialista em marketing político, Marcos Zablonsky, alerta para a possibilidade de um efeito contrário na campanha de Bolsonaro. “Dependendo de quantos dias ele ficar [em recuperação], pode ser que a campanha vá mais devagar”, diz.
A equipe médica responsável pelo atendimento do capitão da reserva em Minas Gerais estima que Bolsonaro deverá ficar em repouso entre 7 e 10 dias para se recuperar. “Ele vai ficar isolado em termos de visibilidade”, diz Zablonsky. Para o especialista, apenas o boletim diário com o estado de saúde de Bolsonaro não será suficiente para mantê-lo em evidência nesse período.
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“Bolsonaro vinha criando um fato novo todo dia. Todos os dias tinha uma fala dele, uma imagem, ele participava de sabatinas”, explica o especialista. “Ele tem o prejuízo da visibilidade”, analisa. Como tem pouco tempo de TV para fazer campanha, Bolsonaro vinha apostando em uma campanha corpo a corpo para se apresentar ao eleitorado. Agora, vai precisar fazer uma pausa para se recuperar do atentado.
Ainda tem campanha pela frente
Nos próximos dias, Bolsonaro pode crescer nas pesquisas de intenção de voto por causa da comoção em torno do atentado sofrido em Juiz de Fora. Mas Zablonsky ressalta que, para esse crescimento ser determinante na eleição, o presidenciável do PSL vai precisar saber manter esses novos eleitores a seu lado.
“Se [o atentado] fosse véspera de eleição, nos teríamos um resultado. Mas ainda faltam muitos dias, vai dar tempo de amadurecer isso, fazer a contra informação”, ressalta o especialista. Daqui até o primeiro turno são exatos 30 dias de campanha – tempo suficiente para que o atentado fique para trás na discussão eleitoral.
Episódio afeta estratégias de campanha de adversários
Não é só a campanha de Bolsonaro que vai ser impactada pela repercussão do atentado. Alguns presidenciáveis vinham apostando na crítica ao capitão da reserva como estratégia para conquistar votos. Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo) e Geraldo Alckmin (PSDB) são exemplos de candidatos que vinham apostando em um confronto – mesmo que indireto - com Bolsonaro para conquistar eleitores.
A campanha mais afetada, porém, vai ser do tucano. Alckmin tinha como principal estratégia de campanha a desconstrução do capitão da reserva, mas vai ter que rever o plano, pelo menos em curto prazo. “Se ele continuar veiculando ataques ao Bolsonaro, enquanto ele está no hospital convalescendo, vai se indispor com parte do eleitorado”, adverte Coimbra.
Lepre tem uma opinião parecida, mas com uma ressalva. “Ele está batendo no que diz respeito à opinião do Bolsonaro”, ressalta. “Mas se isso gera uma vitimização, tem que dosar bem”, adverte.
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Segundo a Folha de S. Paulo, as peças publicitárias da campanha de Alckmin com críticas ao capitão reformado do Exército serão suspensas até nova avaliação dos coordenadores que assessoram o tucano. As inserções serão substituídas por material que já está pronto.
Os demais candidatos devem ter menos problemas na readequação da campanha, segundo os especialistas. Para Lepre, a tendência é que eles se posicionem sobre o assunto quando perguntados por jornalistas, mas deixem o assunto fora da campanha na TV. “Tem que tratar isso como algo que não pode acontecer no país. Não pode falar ‘olha, ele plantou isso’. Tem que repudiar”, alerta Lepre.
Para Coimbra, como os candidatos já se manifestaram sobre o ataque, a melhor estratégia agora é tocar a campanha adiante sem tocar no assunto. “Esse assunto vira um trunfo para o Bolsonaro. Qualquer pessoa que relembre esse assunto vai estar dando palanque para ele”, diz. “Como esses candidatos não escolheram como estratégia de campanha antagonizar com Bolsonaro, estão em uma situação confortável”, analisa.
Depois de se manifestarem sobre o ataque, os presidenciáveis Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) cancelaram as agendas de campanha do dia.
PT pode acabar beneficiado
Para Coimbra, o fato de Fernando Haddad não ter apostado em um antagonismo com Bolsonaro pode trazer benefícios para a campanha petista. Haddad tem se concentrado em conseguir a transferência de votos de Lula – barrado pelo TSE – para si e não partiu para o ataque ao candidato do PSL.
“O PT tem apostado na narrativa positiva, com o mote ‘quero o governo Lula de volta’”, ressalta Coimbra. “Esse atentado delineia muito mais o resultado de primeiro turno onde o Haddad vai ter pista livre para crescer e o Alckmin vai ter uma pista com obstáculos para poder decolar”, concluiu.
O potencial da comoção: o caso de Eduardo Campos e Marina Silva em 2014
A morte do então candidato Eduardo Campos (PSB) durante a eleição presidencial de 2014 é um exemplo de como a comoção popular em torno de um fato fora do comum durante a campanha tem potencial para mudar (ou quase mudar) o rumo de uma disputa presidencial. É o que pode vir a ocorrer com Bolsonaro, caso a população (ou parte dela) sinta-se tocada pelo atentado contra o candidato.
Eduardo Campos morreu em 13 de agosto, num acidente aéreo. Imediatamente, começou-se a especular que sua vice, Marina Silva (que à época também estava no PSB), iria assumir a candidatura. A oficialização do nome dela como candidata à Presidência só viria a ocorrer uma semana depois do acidente aéreo, em 20 de agosto.
Dois dias antes, contudo, o Datafolha divulgou pesquisa em que Marina já aparecia com 21% das intenções de voto, atrás apenas da então candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), com 36%. Aécio Neves (PSDB), com 20%, estava tecnicamente empatado com Marina. O curioso é que Marina figurou com mais intenções de voto que o próprio Eduardo Campos – que tinha apenas 8% no levantamento Datafolha imediatamente anterior a sua morte.
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Em 29 de agosto, Marina deu um salto para 34% – numa situação de empate técnico com Dilma (35%). Aécio ficava bem atrás, com 14%. Analistas políticos, à época, atribuíram o rápido crescimento de Marina à comoção provocada pela trágica morte de Eduardo Campos e à maior exposição que a sua substituta teve na mídia por causa do acidente.
Os mesmos números de 29 de agosto se repetiram no Datafolha de 3 de setembro. A partir de 10 de setembro, Marina começou a oscilar levemente para baixo. Mas ainda mantinha-se num empate técnico com Dilma. Ou seja, durante quase um mês após a morte de Eduardo Campos, Marina manteve-se com força na corrida presidencial – entre outras razões, por causa da comoção popular.
Mas a candidata do PSB virou alvo da campanha de Dilma, que deflagrou uma bem-sucedida desconstrução da imagem de Marina. E ela foi caindo nas pesquisas. Quando foram apurados os votos do primeiro turno, em 5 de outubro, Marina teve 21,32% dos votos válidos. Ficou na terceira posição. Dilma conquistou o primeiro lugar, com 41,59%. Aécio, com 33,55%, disputou o segundo turno com a petista.
Metodologia da pesquisa Ibope
O Ibope ouviu 2.002 eleitores, em 142 municípios, entre os dias 1º e 3 de setembro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. Isso significa que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BRâ05003/2018. Os contratantes foram o Estado e a TV Globo.
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