A última rodada de pesquisas eleitorais antes do início do horário eleitoral gratuito cristalizou na campanha de Jair Bolsonaro (PSL) seus alvos para esta fase da corrida eleitoral: Marina Silva (Rede) e o eleitorado feminino, que o rejeita.
Para tanto, Bolsonaro prepara um discurso no qual a palavra solidariedade será central, visando amenizar sua imagem de extremista. Tentará falar às mulheres apelando à maternidade: iniciativas para crianças deverão estar no topo de suas prioridades retóricas.
Segundo a Folha de S.Paulo ouviu de seus estrategistas, o desafio do líder das pesquisas no provável cenário em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não disputará por estar condenado em segunda instância é conquistar votos.
Bolsonaro lidera a disputa sem Lula, com 22%, segundo pesquisa do Datafolha publicada nesta quarta (22). Marina o segue fora da margem de erro de dois pontos, com 16%.
O nó atual é sua rejeição, maior até do que a de Lula (34%), preso por corrupção. Bolsonaro é descartado por 39% dos eleitores, o que se reflete no mau desempenho nas simulações de segundo turno -quando só ganha do plano B do PT, Fernando Haddad.
Mais importante, o deputado é rejeitado mais por mulheres (43%) e jovens (46%). Aí que a inflexão de discurso precisará acontecer, sem alienar o seu eleitor já fidelizado, aquele que grita “mito” cada vez que Bolsonaro repete algum de seus bordões polêmicos.
Esse eleitorado fiel pode ser encontrado nos 15% daqueles que falam espontaneamente que ele é seu candidato. Só Lula (20%) é mais lembrado, enquanto os outros postulantes comem poeira na casa dos 2%.
VEJA TAMBÉM: Bolsonaro x Lula: quem ganha a disputa nos estados, segundo o Ibope
Como diz um aliado de Bolsonaro, a campanha concorda que é preciso ganhar votos para garantir a ida ao segundo turno. Aí entra Marina, que tem 19% dos votos entre mulheres (que são 52% do eleitorado) e 13%, entre homens, no cenário sem Lula.
No debate da semana passada na RedeTV!, a candidata encaixou um golpe duro em Bolsonaro ao questionar suas posições sobre o mercado de trabalho feminino e o fato de fazer gestos de atirador junto a crianças. Aquilo, diz um consultor dele, o deixou sem resposta pelo temor de parecer agressivo contra uma mulher.
A solução trabalhada será associar, sempre que possível, Marina a seu passado petista -ela foi filiada ao partido e ministra do governo Lula. E, por outro lado, seguir a tal tentativa de se mostrar compassivo e solidário.
DESEJOS PARA O BRASIL: Paz social, sem abandono dos necessitados
Esse trabalho se dará mais em manifestações públicas e rede sociais, nas quais Bolsonaro fará entradas ao vivo três vezes por semana para compensar seus segundos na TV, conforme a Folha de S.Paulo revelou. No horário gratuito, ele apenas se apresentará como político honesto e ficha limpa.
Fator Alckmin
A campanha do deputado enfrenta o lugar comum político de que Geraldo Alckmin (PSDB) irá avançar sobre seus votos menos fiéis com o grande tempo de TV e rádio de que disporá a partir do dia 31.
Já os tucanos consideram que as pesquisas, particularmente a do Datafolha, consolidaram Bolsonaro como o alvo. Isso já era discutido há semanas, mas agora a artilharia contra o deputado está pronta para uso.
O deputado pode ser atacado direta ou indiretamente, de forma mais ou menos agressiva. Mas o partido está dividido, a partir da própria relutância de Alckmin, sobre como e quando usar a munição.
LEIA TAMBÉM: Mesmo preso, Lula estrela primeiro programa de campanha do PT
Marina, ao encurralar Bolsonaro no debate, deu argumentos aos que pregam uma ação mais incisiva que foque na desconstrução do deputado, que seria pintado como despreparado e misógino. Já os cenários de segundo turno do Datafolha, todos mostrando crescimento de Alckmin, reforçam aqueles que defendem cautela.
Para os últimos, o resultado aponta para uma suposta consciência do eleitorado de que o tucano seria um melhor candidato, bastando então vender Alckmin e seu histórico como governador. Já os primeiros lembram que, para provar isso, é preciso sair dos 9% da simulação de primeiro turno sem Lula e chegar ao segundo turno.
Metodologia da pesquisa
O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa é uma parceria da Folha e da TV Globo e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR 04023/2018. O nível de confiança é de 95%.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Deixe sua opinião