• Carregando...
 | Carl de Souza/AFP
| Foto: Carl de Souza/AFP

A reta final das campanhas presidenciais costuma guardar surpresas quando as urnas se abrem. Isso ocorre por vários fatores: a possibilidade de que haja voto útil, de que as abstenções modifiquem as tendências das pesquisas, de que “fake news” não desmentidas prejudiquem algum concorrente e de que o último debate na TV modifique a opinião do eleitor. Mas, afinal, qual o impacto disso tudo em 2018? O que se pode esperar da eleição que acontece no próximo domingo (7)? Existe a possibilidade de que o segundo turno não seja entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)? Ou a eleição pode acabar já no primeiro turno, com a vitória de Bolsonaro?

O Podcast Eleições, programa semanal da Gazeta do Povo que analisa a sucessão presidencial, discutiu esses assuntos e chegou à conclusão de que a principal surpresa que pode ocorrer é a vitória de Bolsonaro já no primeiro turno, se houver uma conjunção de fatores favoráveis a ele. Por outro lado, os participantes do podcast – o cientista político Márcio Coimbra e os jornalistas Lúcio Vaz, Renan Barbosa e Fernando Martins – avaliaram que é muitíssimo improvável que, se houver segundo turno, a disputa não seja entre Bolsonaro e Haddad.

“Efeito manada” pode favorecer Bolsonaro nos últimos dias de campanha

O cientista político Márcio Coimbra afirmou que a possibilidade de que Bolsonaro vença já no primeiro turno existe se houver, nesses últimos dias antes da votação, um “efeito manada” de eleitores de outros candidatos de direita ou centro-direita em direção ao capitão da reserva. Ou seja, se o chamado voto útil para evitar a volta do PT ao governo venha a beneficiar Bolsonaro. 

Para o cientista político, as pesquisas IbopeDatafolha divulgadas na segunda (1.º) e na terça-feira (2) podem criar essa “onda” em favor de Bolsonaro. Os dois levantamentos mostraram que o candidato do PSL cresceu nos últimos dias, ultrapassando a barreira dos 30% das intenções de voto (ele obteve 31% e 32%), enquanto os demais candidatos estacionaram nos seus índices. 

Coimbra disse, contudo, que os resultados dessas pesquisas podem ter ocorrido não porque Bolsonaro tenha efetivamente crescido, mas porque esses dois institutos poderiam estar “refinando” seus levantamentos e “ajeitando” seus números a uma realidade que já vinha sendo mostrada por outros institutos. A pesquisa BTG/FSB já vinha mostrando Bolsonaro na casa dos 30% desde meados de setembro. Na segunda-feira (1.º), o BTG-FSB divulgou pesquisa em que o candidato do PSL aparece com 31%, sem crescer em relação ao levantamento anterior (na verdade, ele teve uma oscilação negativa de dois pontos porcentuais).

35% do eleitores podem representar 50% dos votos válidos

O jornalista Fernando Martins citou artigo do analista político Lucio Rennó, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, segundo o qual um candidato que atinja 35% das intenções de voto nas pesquisas já pode, matematicamente, ter chances de vencer no primeiro turno. 

Isso pode ocorrer, de acordo com a avaliação de Rennó, porque historicamente a soma de votos nulos, brancos e abstenções (eleitores que não aparecem para votar) chega a 30% do eleitorado nas eleições brasileiras. E, nessas condições, se um concorrente tiver algo em torno de 35% dos eleitores, pode chegar aos 50% dos votos válidos – porcentual limite a partir do qual uma eleição se encerra no primeiro turno.

Leia também: Gazeta do Povo fez as contas de quantos votos Bolsonaro precisa para vencer no primeiro turno

Márcio Coimbra destacou, contudo, que a intensa polarização desta eleição presidencial tende a fazer com que a abstenção seja menor do que a média histórica. Essa circunstância torna menos provável que a eleição termine no primeiro turno.

Possível segundo turno muito dificilmente não será entre Bolsonaro e Haddad

O jornalista Lúcio Vaz disse acreditar que, embora haja a possibilidade de que a eleição termine já neste domingo, o mais provável é que haja um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad.

Os demais participantes do Podcast Eleições também avaliaram que é muito remota a possibilidade de que um terceiro nome chegue ao segundo turno, pois nenhum deles demonstra reação nas pesquisas que indique que possa crescer o suficiente nos últimos dias para ultrapassar Haddad. 

O jornalista Renan Barbosa não descartou, contudo, essa possibilidade. E lembrou que essa eleição brasileira está sendo marcada por fatos fora do comum. E citou dois exemplos: a facada em Bolsonaro e o comando da campanha do PT realizado de dentro da cadeia, já que o ex-presidente Lula, principal líder do partido, está preso.

Outras discussões do pocast: Bolsonaro ou PT – qual é a maior ameaça à democracia? E mais: por que o brasileiro vai eleger um Congresso ‘velho’ apesar de querer mudança?

Para onde vão os indecisos? E mais: qual será o impacto do cancelamento de títulos eleitorais?

O Podcast Eleições também discutiu para onde irão os votos dos indecisos: 5% dos eleitores nas pesquisas Ibope e Datafolha e 2% no levantamento BTG/FSB. O cientista político Márcio Coimbra avaliou que a tendência é que esses votos se dividam entre Bolsonaro e Haddad. Segundo ele, é improvável que um indeciso acabe optando por alguém que, a essa altura da campanha, não demonstre viabilidade. A lógica dessa escolha tende a ser a de votar no candidato que o eleitor acredita que terá mais chance de derrotar aquele que ele considera o pior.

Outro assunto analisado no podcast foram os possíveis impactos do cancelamento de 3,4 milhões de títulos eleitorais em todo o país – 45% deles no Nordeste, região em que o petista Fernando Haddad é mais forte. Márcio Coimbra disse que é possível que haja alguma influência no resultado da eleição. Renan Barbosa, contudo, destacou que há analistas que acreditam que isso não terá impacto. Os brasileiros com título cancelado são pouco mais de 2% do conjunto de eleitorado.

Fique atento: fake news de última podem interferir na eleição

O Podcast Eleições também avaliou a possibilidade de que notícias falsas de última hora, espalhadas pelas redes sociais, interfiram no resultado do primeiro turno. Lúcio Vaz disse acreditar que é possível que uma fake news de última hora, que não seja desmentida a tempo, possa causar algum impacto eleitoral. 

Lucio Vaz citou que, em 1989, os sequestradores do empresário Abílio Diniz, libertado às vésperas do segundo turno entre Lula e Fernando Collor, foram fotografados com camisetas do PT. Isso foi feito pela própria polícia de São Paulo para associar os criminosos ao petista, num caso de notícia falsa criada pelo Estado.

Fernando Martins lembrou que, em 2014, o doleiro Alberto Youssef, delator da Lava Jato, foi internado muito próximo do dia da eleição e que circulou nas redes sociais o boato mentiroso de que ele teria morrido, supostamente assassinado porque iria revelar a participação dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (à época candidata à reeleição) no esquema de corrupção da Petrobras.

Informe-se: página especial da Gazeta do Povo reúne as principais mentiras que foram espalhadas pelas redes sociais nesta eleição

Renan Barbosa destacou, no entanto, que ainda não existem estudos mais conclusivos sobre o impacto que as notícias mentirosas têm nas eleições. Ainda assim, orientou os eleitores a desconfiarem de tudo o que chegar a eles, pelas redes sociais, nesses últimos dias de campanha. Ele recomendou que busquem verificar se essas informações foram noticiadas por algum grande veículo de comunicação. Se nada tiver sido noticiado, é muito provável se seja falsa a informação.

Debate na Globo: candidatos têm mais chances de perder do que ganhar votos

O último assunto analisado no Podcast Eleições foi o impacto eleitoral do debate presidencial da Rede Globo, que será realizado nesta quinta-feira (4). Márcio Coimbra destacou que, em geral, debates não fazem um candidato ganhar votos, mas perder. 

Nesse sentido, Bolsonaro tende a não ter prejuízo algum porque anunciou que não irá participar, por recomendação médica, do programa da Globo. Para o cientista político, Haddad é quem pode ser prejudicado. Renan Barbosa, porém, afirmou que o petista teria que cometer algum erro muito grande para ter sua posição ameaçada pelos candidatos que estão atrás dele nas pesquisas.

Saiba mais: como será o debate da Globo

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

A pesquisa BTG/FSB foi realizada pelo Instituto FSB, nos dias 29 e 30 de setembro, com 2.000 entrevistados em todo o Brasil, por telefone. O levantamento, contratado pelo Banco BTG Pactual, tem margem de erro de 2 pontos percentuais e grau de confiança de 95%. A pesquisa está registrado no TSE: BR-05879/2018. 

Pesquisa Ibope foi feita nos dias 29 e 30 de setembro com 3.010 entrevistados em todo o Brasil. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais e o grau de confiança, de 95%. O levantamento foi contratado pela Rede Globo e pelo jornal O Estado de S. Paulo. O registro no TSE é: BR-08650/2018. 

A pesquisa Datafolha ouviu 3.240 eleitores em 225 municípios brasileiros, no dia 2 de outubro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. O levantamento, encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo, foi registrado no TSE com o número BR-03147/2018. 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]