A revelação da existência do cartel das empreiteiras que tocaram diversas obras milionárias sob o tucanato em São Paulo caiu como uma bomba no PSDB.
Caciques da sigla passaram a terça-feira (19) discutindo com aliados os eventuais efeitos sobre as principais candidaturas do partido, a começar pela hoje provável postulação do governador Geraldo Alckmin (SP) à Presidência.
Houve silêncio geral sobre o episódio, a começar pelo próprio Alckmin, que cancelou agenda pública na terça. A defesa inicial do governo deverá ser feita nesta quarta pela Secretaria de Transportes Metropolitanos.
O raciocínio da cúpula tucana é óbvio: mesmo que a investigação criminal sobre o caso demore a acontecer e/ou não encontre nada que comprometa o governador e auxiliares, já que o cartel operou em boa parte da gestão Alckmin, está dada munição para seus adversários.
E justamente no ponto considerado, em pesquisas internas, o mais forte de Alckmin: a reputação de honestidade pessoal, vital em tempos de Operação Lava Jato.
Como disse um dirigente da sigla, praticamente não importa se o tucano vai ou não ser implicado. A presença do tema na campanha, argumenta, já basta para causar embaraço ao governador.
O discurso no Palácio dos Bandeirantes é o de que Alckmin incentiva apurações e que se algum auxiliar entrou em conluio com o cartel, que seja punido. O problema é a agenda negativa, obsessão de estrategistas do tucano.
Tanto é assim que Alckmin, segundo aliados, vinha tendendo a não apoiar José Serra para a vaga de candidato a governador pelo partido por ser investigado na Lava Jato. Agora, Serra vê potenciais novas revelações do período em que governou o Estado (2007-2010).
Alckmin era investigado lateralmente na Lava Jato, com o Superior Tribunal de Justiça avaliando torná-lo réu pela acusação de recebimento de caixa dois, mas por meio de outras pessoas. Ele e Serra negam as irregularidades.
Com o novo cenário, sobem as já bem grandes chances de o prefeito de São Paulo, João Doria, acabar levando a indicação para a candidatura estadual.
Se o partido fizer prévias, já que há outros candidatos lançados na disputa, Doria conta hoje com quase metade dos 4 mil delegados aptos a votar. Mas o cenário é bastante volátil.
Entre políticos do DEM, partido que havia incentivado a ideia de Doria ser presidenciável, o nome do prefeito voltou a circular. Embora todos reconheçam que Alckmin, que virou presidente do PSDB, domina a sigla, há um clima de expectativa.
Já para líderes do PSDB, o sentimento é de apreensão, embora haja consenso de que é preciso esperar, até porque neste momento não há acusação de corrupção de agente público – apesar de ela proravelmente vir.
Há uma impressão disseminada em setores não muito próximos de Alckmin de que o governador vem demonstrando desânimo com a sua pré-candidatura.
No fim de semana da convenção tucana que o entronizou presidente do partido, duas pessoas dizem ter ouvido do próprio governador reservas às chances de ele ser competitivo em 2018.
Essas mesmas pessoas, contudo, concordam que se fosse para desistir, ele não teria aceitado presidir o PSDB.
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