Manuela D’Ávila (PCdoB) participou do Roda Viva na segunda-feira (26) e trouxe à tona a discussão sobre o machismo após ser interrompida pelo menos 40 vezes durante o programa| Foto: Reprodução/Facebook

A repercussão da entrevista da pré-candidata à Presidência da República Manuela D’Ávila (PCdoB) ao programa Roda Viva (TV Cultura), em que ela foi interrompida pelo menos 40 vezes, demonstra como a questão do machismo já agita a pré-campanha presidencial. Alguns presidenciáveis aproveitaram a oportunidade para demonstrar apoio a Manuela e criticar a cultura sexista, enquanto outros tentam emplacar uma agenda em defesa da igualdade de gênero.

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Não importa a sigla ou a ideologia política, nenhum candidato quer ser rotulado de machista nestas eleições – nem perder os votos daquelas que são a maioria do eleitorado.

Ciro tenta apagar a imagem de 2002, quando disse que o papel de sua mulher era “dormir com ele”

O pré-candidato Ciro Gomes (PDT) é um dos políticos que tentam reverter a imagem de machista. Nas eleições para presidente em 2002, Ciro despencou nas pesquisas eleitorais após dizer que um dos principais papéis de sua esposa na época, a atriz Patrícia Pillar, era “dormir com ele”. Ele até tentou minimizar o prejuízo, dizendo que estava brincando. Mas não chegou nem sequer no segundo turno. E ficou com o rótulo de machista.

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Nas eleições de 2018, a equipe de campanha de Ciro está mobilizada para desfazer essa imagem. Segundo o jornal Folha de São Paulo, o programa de governo do pré-candidato deve ter um capítulo dedicado a políticas de igualdade de gênero e de combate à violência doméstica. Também está em estudo a possibilidade de seu governo, caso seja eleito, ter metade da equipe ministerial formada por mulheres. Além disso, a ex-mulheres do presidenciável, Patrícia Pillar e a ex-senadora Patrícia Saboya, também devem gravar depoimentos em apoio à candidatura de Ciro.

O próprio ex-ministro está se esforçando para “limpar” sua imagem. Na terça-feira (26), um dia após o programa Roda Viva, Ciro postou nas suas redes sociais uma mensagem em apoio a Manuela D’Ávila. “Toda solidariedade à minha querida amiga Manuela D’Ávila, uma das lideranças políticas mais extraordinárias desse país. Podem até tentar, mas não vão conseguir calar essa voz.”

Mas, apesar de tentar adotar um tom em prol da igualdade, Ciro continua sendo traído pela língua – recentemente, chamou o vereador negro do MBL Fernando Holiday de “capitãozinho do mato”.

SAIBA MAIS: A língua é o chicote de Ciro? Histórico do pedetista assusta pela acidez

Bolsonaro: em 2014, disse que deputada “não merecia ser estuprada” porque ela era “feia”; agora é aconselhado a ter uma mulher de vice

Outro pré-candidato que deseja afastar o rótulo de machista é Jair Bolsonaro (PSL). Em 2014, o deputado afirmou que sua colega de Câmara, a deputada Maria do Rosário (PT), “não merecia ser estuprada” porque era “muito feia” e porque ela “não fazia seu “tipo”. O Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a abrir ação penal contra o deputado e a 2.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação de danos morais. Ambas as ações estão agora no STF.

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Para acabar com a imagem negativa, um dos interlocutores de Bolsonaro chegou a aconselhá-lo a escolher uma mulher ou uma pessoa negra para ser seu vice. O nome da senadora Ana Amélia (PP) estava entre as cotadas. Mas o deputado teria descartado a opção porque ela é do PP, partido com muitos políticos envolvidos em corrupção.

Enquanto o vice – ou a vice – não é escolhido, Bolsonaro tenta limpar sua imagem através das redes sociais. O pré-candidato não manifestou apoio a Manuela D’Ávila, mas fez questão de divulgar na sua página oficial no Facebook mensagens relacionadas ao assunto da semana.

“Competência e caráter estão acima de sexo, raça, sexualidade, classe social, etc. A esquerda divide a sociedade para enfraquecê-la e assim conquistá-la. Nosso desafio é fazer diferente. Vamos lutar para que as pessoas recebam destaque por respeito, qualidades e virtudes. É um dos primeiros passos para mudar o quadro em que se encontra o Brasil!”, diz um dos posts que contém um vídeo de uma entrevista dada a uma repórter da Folha.

Em outro post, a página oficial do Bolsonaro compartilha uma matéria de um site chamado “Jornal Publicidade” que diz: “Castração química para estupradores atrai voto feminino para Bolsonaro, diz pesquisa”. O texto, na verdade, não traz nenhum dado de pesquisa comprovando que a defesa da castração química para estupradores está atraindo votos ao deputado, mas sim diversos depoimentos de mulheres apoiando essa e outras ideias de Bolsonaro. Esses depoimentos foram publicados originalmente no site Universa, do Uol.

Quem mais tenta entrar na onda: Alckmin, Henrique Meirelles e Guilherme Boulos

E mesmo quem não é associado à imagem de machista aproveita o momento para enfatizar a defesa à igualdade de gênero. Candidato a presidente pelo PSol, Guilherme Boulos, por exemplo, prestou solidariedade a Manuela e afirmou: “Roda Viva expressou o machismo estrutural da sociedade brasileira. Solidariedade e unidade contra os retrocessos!”. Boulos também já havia escolhido a líder indígena Sônia Guajajara para ser sua vice.

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Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) aproveitaram o tema do momento para atacar adversários que consideram machistas. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a equipe de Alckmin vai divulgar um vídeo com uma atriz dizendo que não pode “confiar em alguém que é a favor da violência, é machista, racista e homofóbico”. O vídeo não fará menção direta a Bolsonaro, mas é um recado ao deputado. Já a equipe de Meirelles deve divulgar ainda nesta semana um vídeo com cenas de violência verbal de Bolsonaro contra mulheres, além do destempero retórico de Ciro.

Eleitorado feminino: o que dizem as pesquisas eleitorais

Com manifestações em prol da igualdade de gênero, os candidatos buscam conquistar o eleitorado feminino. O capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) é, de longe, quem tem a maior diferença entre a quantidade de intenção de votos de homens e de mulheres. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada em junho, nos quatro cenários analisados Bolsonaro recebe mais votos de homens do que de mulheres.

Por exemplo, em um cenário sem o ex-presidente Lula e com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como candidato pelo PT, 26% dos entrevistados do sexo masculino votariam no Bolsonaro, mas apenas 12% das pessoas do sexo feminino escolheriam o capitão da reserva. Na simulação com Lula, Bolsonaro receberia o voto de 23% dos entrevistados do sexo masculino, mas apenas 11% de votos do sexo feminino.

Ciro Gomes também atrai mais votos do sexo masculino do que feminino. Segundo a mesma pesquisa do Datafolha, em um cenário sem o Lula e com Fernando Haddad, Ciro teria 12% dos votos do sexo masculino, mas apenas 8% do feminino. Já na simulação com Lula, 8% dos eleitores homens votariam no Ciro, enquanto apenas 5% das mulheres escolheriam o ex-ministro.

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Já os demais candidatos apresentam uma diferença pequena (normalmente, de 1 ponto percentual) entre o os votos de eleitores homens e mulheres. Há alguns, como Marina Silva (Rede) e Lula (PT), que têm maior percentual de votos de mulheres do que de homens.

Os presidenciáveis também tentam conquistar os votos das mulheres que estão indecisas ou, por enquanto, afirmam não votar em nenhum dos pré-candidatos . A pesquisa Datafolha revela que, em um cenário sem Lula e com Fernando Haddad, 41% das mulheres não sabem quem escolher ou pretendem votar branco/nulo nestas eleições. Entre os homens, o percentual é de 25%.

Com Lula na disputa, o percentual dos indecisos diminui um pouco, mas continua sendo maior entre as mulheres. 26% das eleitoras afirmam que não sabem ou pretendem votar branco/nulo, contra 15% dos homens.

As mulheres são maioria entre os eleitores. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 52% do eleitorado brasileiro é formado por pessoas do sexo feminino, percentual que representa pouco mais de 77 milhões de eleitoras em todo o Brasil.

Metodologia

A pesquisa do Datafolha foi feita entre os dias 6 e 7 de junho de 2018. Foram realizadas 2.824 entrevistas presenciais em 174 municípios, com margem de erro máxima 2 pontos percentuais para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%. Dos total de entrevistados, 53% eram mulheres e 47%, homens.

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